Barrar as alianças que descaracterizam o PSOL

Após o III congresso: |

O ano começa com o PSOL intervindo na resistência do Pinheirinho, nas passeatas contra o aumento das tarifas de ônibus, na luta contra Belo Monte e nas greves de Policiais e Bombeiros. E nos próximos meses ainda teremos inúmeras campanhas salariais e outros conflitos. Esse também é um ano de eleições, com o PSOL bem cotado em Belém, Rio e Macapá.
Infelizmente o III congresso votou a “flexibilização da política de alianças”, seguindo a proposta da atual maioria (Bloco da APS). Uma resolução que abre a porta para coligações que descaracterizam o perfil de esquerda do partido e contrariam nosso papel nas lutas. Sabemos que existem negociações com inúmeras siglas, tentando impor fatos consumados a nossa militância. Porém, o III congresso colocou a decisão final nas mãos do Diretório Nacional, que “avaliará caso a caso as alianças… cabendo somente a essa instância a decisão final sobre a possível concretização de ampliações”. Sendo assim, os membros do Diretório Nacional tem em suas mãos uma enorme responsabilidade. Ao deliberar o arco de alianças, vão decidir o futuro do PSOL.
A militância deve refletir sobre o congresso e resistir, barrando essas coligações. Em 2010, garantimos a candidatura de Plinio e o diretório nacional rejeitou a coligação com o PTB em Macapá. Infelizmente, Randolfe Rodrigues não acatou e se elegeu senador em aliança com o PTB de quem foi coordenador de campanha no segundo turno. O Senador Randolfe é hoje o militante mais consequente dessa “flexibilização”, propondo alianças com qualquer um: da base de Dilma a falsa oposição de direita; dos Sarneystas ao PSB da oligarquia Capiberibe. Sem falar em Marina Silva, que reivindica FHC e Lula.
Temos que repetir rebelião que enterrou o apoio a Marina Silva em 2010, unificando os que não concordam com alianças com partidos corruptos e neoliberais. E o primeiro passo é unificar o setor que polarizou o congresso com resoluções alternativas (ENLACE–Debate Socialista–LSR e MÊS-CST).
III congresso e a situação política
O congresso ocorreu em meio ao agravamento da crise econômica mundial e da luta de classes. Os polos mais avançados desse enfrentamento são as revoluções árabes, os indignados e as greves gerais na Europa. Em nosso continente é a luta indígena na Bolívia e juvenil no Chile.
O Brasil já sente os efeitos da crise por meio da desaceleração da economia. O governo Dilma perdeu vários ministros e não tem a mesma capacidade de Lula para conter crises políticas. As lutas crescem como vimos na rebelião de Jirau e dos Bombeiros e em inúmeras greves. Processo que seguiu na rebelião dos militares no Ceará e nos protestos da juventude no Piauí, ES e Recife contra o aumento das passagens.
Diante da conjuntura favorável e da visibilidade alcançada pelo PSOL, o congresso deveria fazer o partido avançar corrigindo problemas e erros. Infelizmente a atual maioria (bloco da APS) desperdiçou essa oportunidade.

O congresso abriu a porta para “alianças amplas”
O congresso foi polarizado pela política de alianças do senador Randolfe, com apoio da APS. Junto ao MTL, Milton Temer e Edilson Silva defendem alianças amplas, do PTB ao PT, passando pelo PSB, PV e PPS, além de Marina Silva. A base estratégica está na tese do MTL/Temer: rechaço aos processos revolucionários e ao confronto com os capitalistas. O eixo é acumulo de força pela via institucional para negociar reformas. Trata-se de domesticar o PSOL conforme as resoluções votadas.
A resolução internacional coloca o PSOL no campo da ditadura sanguinária de Assad na Síria, uma contradição para quem deveria defender o “socialismo e a liberdade”. Além de seguir apoiando Chaves, Evo e Correa, três governos que aplicaram planos de ajuste fiscal, atacam povos indígenas, entregam recursos naturais para multinacionais e possuem ótimas relações com a Colômbia e Chile. Governos que comprovaram a falência da estratégia “democrática e popular”: através da institucionalidade e aliando-se a empresários não se fará socialismo no século XXI.
A resolução de conjuntura aponta para as eleições e a eleitoral propõe a “ampliação das alianças”, sendo o diretório nacional responsável de avaliar “caso a caso”.
Para Randolfe a “flexibilização na política de alianças foi o que de melhor se aprovou" (Valor Econômico), pois seria “fundamental para o crescimento do partido”. Na verdade, a resolução abre a porta para as alianças que converteram o PT em um partido da ordem.
Não há como separar o programa da política de alianças ou afirmar que o problema do PT foi apenas “ético”, como faz Randolfe e atual maioria. O rebaixamento programático do PT ocorreu em sintonia com a flexibilização das alianças. No PT o “dialogo com outras forças políticas” era condicionado pela necessidade de aumentar o tempo de TV e o coeficiente eleitoral a qualquer custo. Hoje o PT governa com programa neoliberal e um vice do PMDB. Deixou no caminho o perfil de esquerda e a “ética” e foi absorvido pelas instituições do regime. Guinada ideológica combatida pela esquerda petista e os radicais do PT.
É impossível se aliar a um partido patronal e manter um programa de esquerda. Nada justifica uma aliança com o PTB de Roberto Jeferson, o PPS do bloco do PSDB/DEM, o PV de Gabeira ou o PCdoB de Orlando Silva e Aldo Rebelo. O mesmo vale para o PSB de Fernando Bezerra, das maracutaias no Ministério da Integração Nacional. O PSB dos governadores Cid Gomes e Wilson Nunes responsáveis pela crise social e repressão no Ceará e Piauí. A coligação com esses partidos só é possível traindo as lutas e rebaixando o programa do PSOL.
Desse modo, o que divide o partido não é a opção entre ser “vanguardista” ou ser “plural” como declara Randolfe. A questão é se trilhamos ou não o caminho que levou o PT a trair nossa classe. Sobretudo os acordos eleitorais municipais com o movimento de Marina Silva, figura rechaçada pela militância do Partido.
Randolfe diz que no congresso “não houve debate concreto sobre o Brasil” e que sentiu “uma distância enorme entre o que é debatido no parlamento e as discussões na militância". Para ele o parâmetro para o debate político nacional não é a luta de classes, mas sim o congresso nacional, a instituição mais desacreditada do país. Isso demonstra como as alianças oportunistas afetaram Randolfe, que hoje vislumbra parcerias com velhas raposas como Cristovam e Pedro Simon – que iludem o povo com a suposta faxina de Dilma- ou “investidores” estrangeiros.
No mundo todo, partidos que seguiram essa linha estão em crise ou fizeram péssimas eleições. Exemplo é o Bloco de Esquerda, que perdeu metade de seus deputados depois de apoiar Manuel Alegre do PS, o partido do ajuste em Portugal. Na Argentina, a centro-esquerda de Pino Solanas naufragou, fez menos votos que a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores.
40% não votaram com o setor majoritário
A APS/Randolfe, ENLACE-MUS, TLS conformaram a primeira chapa. Eles apresentam a mesma política que MTL-Temer-Edilson. Esses dois setores vão ter unidade na vida interna do partido, agrupando 60% do PSOL.
Por outro lado, surgiu um bloco alternativo ao redor do Enlace, Campo Debate Socialista, LSR, MÊS e CST agrupando 40%. Esse campo votou unificado na conjuntura internacional e nacional, contra Marina, a política de Randolfe/APS e a coligação com PC do B em Belém. O único tema que o dividiu foi o PV no RJ, onde o MÊS votou com APS e MTL.
Infelizmente, esse polo não conseguiu conformar uma única chapa. ENLACE, Debate Socialista e LSR montaram chapa, vetando o MÊS pelo tema do RJ e polêmicas anteriores. O MES e CST conformaram outra chapa sustentando o programa dos 40% e a necessidade de derrotar a atual maioria. Entendemos que havia pontos programáticos para conformar uma chapa única. Isso não significava abrir mão das polêmicas entre nós. No RJ, por exemplo, a CST segue contra o PV.
A postura dos companheiros, contrária a chapa unificada, negou a dinâmica do congresso, marcada por realinhamentos e novos blocos. A dispersão favoreceu Randolfe e o setor Marinista. Esse era objetivo da APS, que militou para nos dividir.

Construir um polo alternativo no PSOL
Mesmo saindo em duas chapas diferentes podemos conformar um polo ou campo único. A unidade que construímos durante as resoluções do congresso são bases para iniciar um trabalho em conjunto. A CST se coloca a serviço da unidade, ao redor de pontos unitários e iniciativas comuns que possibilitem o surgimento de um bloco ou campo dos que rejeitam a política de alianças com partidos da ordem e combatem Marina Silva e seu projeto capitalista disfarçado de defesa do meio ambiente; dos que lutam para que o PSOL tenha como eixo central a luta de classes e defendem o Fora Assad da Síria.
Rio de Janeiro, 23/01/2012- Coordenação Nacional da CST