Eleições municipais em Espanha: um duro golpe ao bipartidarismo

| Oscar Vilades

As eleições de 24 de maio foram uma nova derrota tanto para o governo Mariano Rajoy e o Partido Popular (PP), como para o PSOE (Partido Socialista de Espanha). Os dois velhos partidos patronais perderam três milhões e trezentos mil votos. O mais contundente foi o triunfo de novas alternativas políticas, que tiveram o apoio de Podemos, em Madrid, Barcelona e Valência. Os trabalhadores, a juventude e os setores populares rompem com os velhos partidos do regime e buscam novas propostas à esquerda.

Estas eleições municipais seguem marcadas pela crise política e social que se vive no Estado Espanhol. O governo do PP leva anos aplicando um ajuste contra o povo trabalhador, com cortes brutais aos salários, à saúde e à educação. Com milhares de despejos, demissões e privatizações. Antes o PSOE de Zapatero havia feito o mesmo. Ao momento das eleições, por exemplo, estavam em greve os trabalhadores de Movistar e as demais maiores empresas contratadas pela Telefônica (empresa de telefonia).

Isso explica o castigo nas urnas ao partido do governo (calcula-se que o PP perdeu uns 2, 5 milhões de votos) e ao PSOE (perdeu quase 800 mil votos). Isto não é novo, já se trata de uma tendência de tempos atrás que mostra a profundidade da crise do regime político espanhol, cujos pilares são esses dois partidos. O ascenso eleitoral de Podemos e formações parecidas e de cidadãos, é a expressão clara dessa crise.

Milhões de pessoas descontentes, de "indignados", buscam com seu voto novas alternativas políticas. E o fazem majoritariamente pela esquerda ou uma nova centro-esquerda como é o Podemos e as alianças que triunfaram em Madrid, Barcelona e Valência. Uma parte do voto que perde o PP vai à nova formação "Cidadãos", que se converte em uma nova opção populista de direita. Muitos de seus dirigentes são ex-PP. Muitos chamam o "Podemos" de uma organização de direita.

Na capital espanhola triunfou a aliança Madrid Agora, encabeçada por Manuela Carmena, uma ex-membra do Partido Comunista, de trajetória como advogada trabalhista e ex-juíza. Em Barcelona a vencedora é Ada Colau, que se destacou durante anos como dirigente contra os despejos, quem com a coalização Barcelona em Comum, da qual participa Podemos e outras forças, derrotou largamente ao atual prefeito, um histórico dirigente patronal independentista. Em Valência caiu a prefeita Rita Barbera (PP) que já estava 24 anos no governo municipal. A derrotou outra mulher: Mônica Oltra, dirigente de Compromis, organização surgida dos "indignados" locais.

O que mais sai fortalecido é Podemos que integrou o apoio às alianças triunfantes. Encabeçados por Pablo Iglesias, sua figura mais destaca, é visto como uma alternativa de esquerda e de mudança. Podemos é um fenômeno político com pontos de contato com o caso de Syriza, que chegou ao governo em meio de um à esquerda eleitoral das massas gregas ante a derrubada política e social de Grécia. Mas também tem elementos em parecidos em diluir seus programas. Como assinala Luta Internacionalista* (seção da UIT-CI no Estado Espanhol): "O principal problema de Podemos é […] que sua estratégia está ao serviço unicamente de ganhar votos e por isso se joga com tudo ao jogo eleitoral, até chegar a dissolver seu programa e sua própria identidade. Chega a desmentir ser um partido de esquerda, quando não se pronuncia sobre a monarquia ou a OTAN e esquece os problemas econômicos dos trabalhadores…"(Jornal de Luta Internacionalista nº 137, de maio de 2015, pg 07). "Para ser uma alternativa dos de baixo é preciso dar respostas ao jornaleiro desempregado, falar de reforma agrária, questionar os grandes latifundiários, não pagar a dívida" (idem, Editorial).

A participação de Luta Internacionalista "nas eleições e em candidaturas vem marcada por um compromisso com a luta e o objetivo de aproveitar as eleições para seguir construindo alternativas".

*Luta Internacionalista é um partido de orientação trotskista, seção espanhola da Unidade Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI), organização da qual a CST-PSOL também faz parte.