Grécia:O povo grego diz NÃO a Troika e a dívida

| Tradução Danilo Bianchi

O triunfo do NÃO no referendo grego por quase 62% contra 38% do SIM, foi contundente, uma grande vitória dos trabalhadores e do povo grego. Derrotaram todas as pressões do imperialismo, dos banqueiros, dos patrões gregos e a campanha do medo. O grande dilema é como o governo do Syriza irá utilizar essa vitória política. Vão aproveitar para seguir mobilizando contra as imposições da Troika ou vão tentar um novo pacto de concessões?

Escrito por Miguel Sorans, dirigente da Esquerda Socialista – Argentina (UIT-QI) 7/7/2015

O NÃO foi uma grande vitória política do povo grego, que disse NÃO a novos acordos para seguir o ajuste. Haviam muitas pressões para o SIM. Várias pesquisas davam vantagem para o SIM. Mas a realidade está à vista. Novamente o povo grego expressou nas urnas e nas ruas sua grande resistência contra os ajustes e o memorando da Troika. Confirmou sua luta de mais de 30 greves gerais e o giro à esquerda para buscar uma saída frente ao aumento da miséria, o desemprego massivo e o roubo do país por parte do FMI e da União Europeia (UE).

Fracassou o SIM da Troika e da direita grega. Também a nefasta política dos stalinistas do KKE (Partido Comunista Grego) de chamar o voto nulo, que somado aos brancos, alcançou apenas 5,7%. A Troika foi novamente derrotada.

Porém existe o perigo que os dirigentes do Syriza e seu governo de centro-esquerda encabeçado por Alexis Tsipras, voltem a ceder às pressões e pactuem um novo acordo que não sirva ao povo grego e sua juventude. A outra possibilidade é que forçado pela pressão do triunfo popular do NÃO e das duras pretensões da Troika, não possam fechar um acordo, a crise continue e o não pagamento da dívida grega permaneça. É claro que a crise é muito aguda, com idas e vindas a cada dia. Este mesmo artigo pode estar desatualizado quando chegar aos leitores. Porém o que não vai se desatualizar é o dilema que passa a Grécia: Ou seguir sufocada por novos acordos com a Troika para seguir pagando a dívida fraudulenta ou deixar de pagar para investir esses recursos nas necessidades do povo.

A dívida externa grega é tão impagável que o próprio FMI propôs, dias antes do referendo, um desconto de 30% e um “prazo de carência” de 20 anos. O FMI foi à esquerda? Não, apenas uma nova manobra, que já foi aplicada em outros países. Porque assim a dívida antiga é convertida em “bônus” condicionados a um “novo resgate” (uma “ajuda” de 52 bilhões de euros) para seguir com os ajustes contra o povo grego. Ou seja uma nova dívida para seguir saqueando a Grécia.

A esse tipo de mecanismos nomeiam de “reestruturação” da dívida. Por isso chama a atenção que seja também a proposta do governo do Syriza e de muitos que se dizem de esquerda e progressistas como o economista Thomas Piketty, que declarou “a única solução para Atenas será reestruturar a dívida” (Clarín, Argentina, 7/7/2015).

Essa receita já foi aplicada na Argentina a partir de 2005, sob o governo de Nestor Kirchner, e o resultado foi negativo para o povo argentino. Ao invés de diminuir, a dívida aumentou. Era chamado de “desendividamento”. Em 2001, no momento mais grave da crise, a dívida era de 144.453 bilhões de dólares e de 50% do PIB. Já em 2009, logo após ao suposto “desendividamento”, subiu para 147.119 bilhões e seguia equivalendo a 50% do PIB. E agora, em 2015, segue a dívida, a pobreza e o saque da Argentina pelas multinacionais. A alternativa frente a crise não é reestruturar a dívida, mas sim deixar de pagar. Uma fraude não se paga.

A única saída possível para o povo grego e a juventude é aproveitar o triunfo do NÃO para seguir com a mobilização, exigir do governo Syriza que recoloque o mandato a serviço do povo trabalhador e da juventude, que os elegeu em janeiro de 2015 para pôr fim aos memorandos e aos ajustes pactuados com a Troika. Para isso é muito importante que essa bandeira seja tomada pelos setores da esquerda do Syriza, que tem se pronunciado contra qualquer pacto com a Troika, pela suspensão da dívida e pela nacionalização dos bancos. E que, unidos aos sindicatos e outros setores da esquerda revolucionária grega, convoquem à mobilização por esses objetivos.

* Dados de “Dívida externa, colonização, miséria e corrupção” Edições El Socialista – Argentina