Venezuela | Declaração do PSL: Protestar nas ruas contra o governo e o pacote de fome

Agrava-se dia a dia a situação dos trabalhadores e do povo pobre, e a tal ponto que se torna difícil de ser explicada num país que, embora sofrendo com a baixa receita das exportações em razão da queda no preço do petróleo, recebeu durante mais de uma década o ingresso de mais de 100 bilhões de dólares anuais como receita petrolífera. A única explicação é que, em que pese o discurso chavista, não mudou a estrutura de saqueio e exploração do capitalismo imperialista, sendo a Venezuela o país do mundo que apresenta a maior fuga de capitais em relação ao PIB, inclusive com um retrocesso na produção industrial e de alimentos. Reproduzimos a seguir um trecho da recente declaração do Partido Socialismo y Libertad (PSL) [1].


 

Por Miguel Lamas

Num clima de tensão e incertezas, a aflição se reflete nos olhos de milhões de pessoas. É comum ouvir alguém dizer “não tem nenhuma comida casa” ou “para o almoço das crianças só temos verdura e umas bananas” […] As filas aumentam e aumenta também a fome. Tornou-se uma frustração de todos os dias fazer fila de madrugada e até à tarde por um simples pacote de macarrão ou mesmo para não conseguir comprar nada.

Desabastecimento, especulação, preços nas alturas, licenciamentos em várias empresas, falta d’água e apagões frequentes que duram até 5 horas são a crua realidade cotidiana do povo trabalhador venezuelano. […]. Esta tragédia tem um nome: Nicolás Maduro e seu governo.

Pacto com empresários e multinacionais

O governo fala de uma suposta guerra econômica dos empresários para derrotá-lo. No entanto, participam do Conselho Nacional de Economia Produtiva, que representa o setor mais reacionário da burguesia venezuelana, qualificado como “apátrida” pelo próprio governo. Cisneros, Vollmer, Van Dam, a Associação de Bancos, entre outro notórios exploradores, reúnem-se diariamente com funcionários governamentais e, entre piadas e risos, aprovam aumentos de preços. Pérez Abad acaba de anunciar aumento do preço de uma centena de bens e serviços.

Como se pode explicar que o governo se reúna e faça acordos com os mesmos empresários que acusa de mover contra ele uma guerra econômica? Está claro que a suposta guerra econômica é uma invenção. Por isto dizemos que se trata de um falso socialismo, um governo que emprega um duplo discurso: é socialista aos domingos e, durante a semana, pactua com os empresários e multinacionais o pacote de ajuste mais brutal imposto até agora ao povo trabalhador venezuelano.

Recentemente o presidente Maduro anunciou, com estardalhaço, um acordo com 150 empresas multinacionais pelo qual se entrega a nossa soberania sobre as imensas riquezas minerais da região próxima ao rio Orenoco, no sudeste do país. Este acordo, além de violar nossa soberania, agride diretamente o meio ambiente e o habitat de milhares de indígenas que habitam essa região, e é como uma espada de Dâmocles a ameaçar todo o povo venezuelano, que perderá o controle do acesso à água e à eletricidade.

O próprio Chávez já havia entregado o petróleo às multinacionais, através das empresas mistas. e é agora Maduro quem entrega o ouro, os diamantes e outros minerais, ao mesmo tempo em que condena os venezuelanos a passar sede e paga pontualmente a dívida externa aos bancos imperialistas.

Por um Encontro Nacional de Organizações Políticas, Sindicais e Populares

Para o PSL, a única maneira de sair deste governo e derrotar seus pacotes de medidas contra o povo é a mobilização e organização para sair às ruas em protesto contra essa grave situação, combatendo o pacote de medidas de ajuste pelo qual o governo e os patrões pretendem descarregar o peso da crise sobre os trabalhadores.

Para isto, continuamos afirmando a necessidade de que os setores descontentes do chavismo, aqueles que ainda se afirmam como de esquerda ou socialistas e os diversos setores em luta por seus direitos nos reagrupemos para formar uma aliança ou pólo dos trabalhadores e do povo.

Neste sentido, entendemos ser muito positiva a iniciativa de aproximar o Encontro do Povo em Luta e o Chavismo Crítico, proposta pelas organizações Maré Socialista, Sinatral UCV, Sirtrasalud, entre outras. O PSL somou-se a esse esforço a fim de contribuir para a formação desse polo alternativo dos trabalhadores e do povo no enfrentamento contra o ajuste do governo de Maduro, constituindo uma alternativa ao PSUV e à MUD.

Entendemos que é necessário impulsionar iniciativas similares nas diferentes regiões, abrindo o diálogo com o povo insatisfeito e desiludido com o chavismo, para construir um Encontro Nacional de Organizações Políticas, Sindicais e Populares com um programa mínimo de ação que seja uma saída operária e popular para a crise.

Nós do PSL consideramos que alguns pontos de acordo poderiam ser: aumento geral dos salários em caráter de urgência; salário mínimo igual à cesta básica e reajustável a cada três meses pelo índice de inflação; nacionalização dos bancos; reforma agrária; rescisão dos contratos de empresas mistas no setor petrolífero; estatização total do petróleo, sem empresas mistas nem multinacionais; repatriamento dos capitais roubados e desviados para o exterior; anulação dos acordos no Arco Mineiro do Orenoco; anulação das leis e dispositivos que restringem o direito de greve e o direito de protesto; suspensão definitiva do pagamento da dívida externa.


[1] Ver declaração completa em www.laclase.info.

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