A CONTRADIÇÃO DO PT CONFUNDE OS TRABALHADORES!

Em agosto de 2016 o processo de impeachment de Dilma, aberto em maio desse mesmo ano, foi aprovado no Senado por 61 a 20 votos, embora mantendo os direitos políticos da presidente, e o vice Temer tomou posse, elevando, aparentemente, Temer e o PMDB à categoria de arqui-inimigos do PT.

De maio/16 até hoje já se vai quase um ano. Nesses meses, todas as ações do PT, seja nos parlamentos, nas eleições ou nas instituições, foram totalmente opostas ao seu discurso de vítima e de indignação, acabando por tornar o PT num dos “sustentáculos do governo Temer” e de suas propostas de ajuste contra os trabalhadores.

Senão vejamos:

1 -Em maio, no dia 17, o Diretório Nacional do PT aprovou uma resolução sobre as eleições que iriam acontecer em outubro daquele ano, onde dizia que o partido não apoiaria candidatos que votaram ou apoiaram publicamente o impeachment de Dilma aberto no Senado.

Ainda assim, em outubro, a aliança entre PT e PMDB foi a que mais se repetiu nos municípios. O PT apoiou o PMDB em 648 municípios e compôs com ele 30% das coligações que dão apoio a candidatos peemedebistas, independentemente se apoiaram ou não o impeachment de Dilma ou se promovem ajustes duríssimos contra os trabalhadores.

A nova e contraditória orientação do presidente do PT, Rui Falcão, passou a ser de “manter dialogo” com todos os partidos de oposição (PMDB, PSDB e DEM) enquanto direciona as críticas somente aos líderes nacionais.

2 -Em 05/dezembro de 2016 o ministro do STF Marco Aurélio determinou o afastamento de Renan da presidência do Senado (liminar provisória) alegando que Renan, por ser réu no Supremo, não poderia continuar no cargo em razão de estar na linha de sucessão da presidência da república.

Naquele momento o Senado estava às vésperas de votar a PEC 55 (emenda constitucional estabelecendo um teto nos gastos públicos por 20 anos) proposta por Temer.

Como Jorge Viana (PT/AC) era o vice de Renan na mesa do Senado ele, assumindo, poderia trancar a pauta no Senado e impedir que a votação acontecesse. Ao invés disso, Viana disse a ministro do STF que não queria suceder Renan e, agindo como um mediador entre os poderes, na salvação de Renan, fez um apelo dramático à Corte para que encontrasse uma saída para manter Renan no cargo, recebendo dele elogios ao dizer que Viana havia cumprido um “extraordinário papel” naquele momento.

O resultado dessa atitude do petista foi a solução encontrada pelo Senado e o STF, na qual Renan foi mantido na Presidência da Casa, somente retirando-o da linha de sucessão à presidência da república. Uma semana depois, dia 13/12, a PEC 55 era aprovada no Senado.

3 – Em fevereiro de 2017, mais uma vez o PT vai socorrer o PMDB. Dono da segunda maior bancada no Senado, o PT ajudou a eleger Eunicio Oliveira do PMDB do CE, empresário citado na Lava Jato e homem de confiança de Temer, para presidente do Senado. Em troca o PT emplacou seu senador José Pimentel do CE para 1ª Secretaria da Mesa.

4 – Ainda em fevereiro de 2017, PT (e também o PCdoB) apoiaram Jorge Picciani (pró impeachment de Dilma) na reeleição para presidente da ALERJ, apesar dele ser o responsável por levar adiante a votação do pacote de ataques aos servidores do estado e da privatização da CEDAE, exigidos por Temer para ajudar o estado a sair da crise. Em troca, claro, o petista Ceciliano ganhou um cargo na mesa diretora da Assembleia. Enquanto o PT e PCdoB, no plenário, votavam em Picciani e, consequentemente, nos ataques do PMDB, do lado de fora os servidores públicos do estado protestavam e eram atacados por gás lacrimogêneo, spray de pimenta e bombas da polícia do Pezão.

5 – No final de fevereiro/2017, às vésperas do carnaval, enquanto a maioria dos cariocas já estava nas ruas em clima festivo, a ALERJ comandada pelo experiente presidente reeleito Picciani (com a ajuda do PT e PCdoB) colocou em votação, sorrateiramente e a toque de caixa, a privatização da CEDAE, que acabou sendo aprovada por 41 votos a favor e 28 contras. Esta medida é o coração do acordo infame feito entre Pezão e Temer. Ela faz parte de um pacote que reproduz, a nível estadual, os ataques que Temer faz a nível nacional ao conjunto dos trabalhadores.

Evidentemente, o deputado estadual petista André Ceciliano, que ganhou um cargo na diretoria da ALERJ ao votar a favor da reeleição de Picciani, votou pela privatização e não foi expulso do PT, sequer foi repreendido.

6 – Chegamos em março/2017 e, coerentemente com essa relação política contraditória do PT com o PMDB, o presidente do PT no estado do RJ, Washington Quaquá, procurou os peemedebistas Picciani e o ex prefeito Eduardo Paes em busca de apoio a Lula nas eleições de 2018. Segundo Quaquá, o enfraquecimento do governo Pezão e, consequentemente o enfraquecimento do PMDB no estado, não interessa ao PT, pois ele não é anti Lula, pouco importando se Pezão, junto com Piccciani, formem a tropa de choque dos ajustes contra os trabalhadores do Rio.

A prática é o critério da verdade

Fica claro que, através dessas movimentações, o PT acaba sendo um dos sustentáculos do governo Temer e dos ataques aos trabalhadores, junto com PSDB, DEM e outros partidos da ordem. Se, realmente, o PT quisesse combater os ajustes de Temer/Pezão, ele não fortaleceria o PMDB e suas lideranças. Sua narrativa indignada contra o impeachment de Dilma não passa de um discurso para tentar se cacifar como oposição e se recuperar eleitoralmente em 2018.  Por isso o PT não radicaliza na luta pelo “Fora Temer”. Para ele não interessa a saída de Temer antes do prazo regulamentar, pois o PT precisa desse tempo para tentar construir a candidatura de Lula, mesmo que, nesse meio tempo, várias conquistas e direitos dos trabalhadores sejam rifados.

Frente de Esquerda para unificar e impulsionar as Lutas

Para se contrapor aos ataques desferidos pelos governos federal e estaduais, precisamos fortalecer a Frente de Esquerda para unificar e impulsionar as Lutas, e colocar a resistência aos ajustes em primeiro lugar, ao invés dos processos eleitorais, como vem fazendo o PT.

Por Eloisa Mendonça (CST/RJ)

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