Belém: 47 mortos por chacinas só em 2017. Até quando?

A noite de ontem, 6 de junho de 2017, ficou marcada por mais uma bárbara chacina em Belém. Testemunhas contam que pelo menos três carros prata (cor característica dos grupos de milícia que atuam na cidade) fecharam o quarteirão na Rua Nova II, no bairro da Condor, periferia da capital paraense, e pelo menos 8 homens encapuzados começaram a atirar em quem estava na rua, sem falar ou perguntar nada. Cinco pessoas foram assassinadas e 15, incluindo 2 crianças, ficaram feridas. Uma garotinha, alvejada na cabeça, está no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência em Ananindeua (Região Metropolitana de Belém) em estado grave.

A cidade amanheceu assustada e a população revoltada. Enquanto os telejornais mostravam o caso e os secretários do governo em infinitas reuniões, moradores do bairro da Condor interditaram a Rua dos Apinagés incendiando troncos de árvore e outros objetos. Essa revolta também se manifestou no dia 24 de maio quando moradores do Barreiro incendiaram vários ônibus em resposta morte de três jovens.
Esta foi a quarta chacina, somente em 2017 em Belém. No mês de janeiro, foram 28 assassinatos; em abril foram 10; e em maio 4, que somados a este ultimo caso dão um total de 47 homicídios (números confirmados pela própria Secretaria de Segurança Pública do Pará) com as mesmas características de execução, praticados por grupos de milícias que já atuam há muito tempo.

 

As vítimas são sempre negros, pobres e de bairros periféricos. Nas ruas desses bairros, o medo é constante: a qualquer hora, qualquer um pode ser a próxima vítima. Desde o final de 2014, quando uma chacina, cometida logo após o assassinato de um policial envolvido com milícias, assustou a população e ganhou repercussão nacional, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará investiga a atuação de milícias na capital e região metropolitana, mas até agora não nenhuma ação efetiva foi tomada para combater esses crimes.

 

Genocídio do povo negro: a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras.

 

O dado é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que divulgou recentemente um mapa de homicídios no Brasil: em 2015 foram 59.080 assassinatos, sendo 31.264 vítimas entre 15 e 29 anos. A pesquisa também revelou que a cada 100 homicídios, 71 são de negros e que as chances de pessoas negras serem assassinadas são 23,5% maiores em relação a não negras.

 

O que esses números revelam, a população negra e pobre já sabe muito bem, pois convive com essa realidade no dia a dia. Essa realidade é culpa da Polícia Militar que mata todos os dias nas periferias, sustentada pelos governos corruptos que patrocinam essas mortes, deixam brechas para atuação de milícias, além de deixar de investir nas áreas sociais fundamentais, como segurança e saúde.

 

A situação do estado do Pará é alarmante: somente em 2015, ainda segundo os dados do IPEA, foram registradas 180 mortes “decorrentes de intervenção policial” e os municípios paraenses de Altamira, Marabá, Marituba e Ananindeua aparecem entre os trinta mais violentos do país. Vale lembrar que recentemente 10 trabalhadores camponeses foram brutalmente assassinados em Pau D’Arco, no sudeste paraense. Um verdadeiro massacre!

 

Jatene e os prefeitos são responsáveis por essa matança!

 

Depois do caso da noite da ultima terça-feira, até agora, nem o governador Simão Jatene, nem o secretário de segurança pública ou qualquer outra autoridade deram nenhuma satisfação às famílias das vítimas e à população. O governo Jatene (PSDB) e os prefeitos são responsáveis por essa verdadeira barbárie que fica a cada semana mais assustadora. Sem contar o fato de que parlamentares, como o deputado federal Éder Mauro (PSD/PA) e outros membros da bancada da bala são coniventes e incitam essa onda de crimes. Vide como eles têm atuado no caso da Chacina dos 9 trabalhadores rurais de Pau D’arco, em que se colocam a favor dos policiais assasinos. Verdadeiro descalabro.

Nós da CST-PSOL nos solidarizamos com as famílias das vítimas, que convivem agora com a dor da perda e o medo de mais casos como esse. Desde 2014, quando foi instalada a Comissão Parlamentar de Inquérito, cujo relatório escandaloso, publicado em janeiro de 2015 e disponível no site da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (ALEPA), ninguém foi preso e nenhuma ação concreta foi tomada para por fim a esse processo de genocídio e higienização social.
A CPI, apoiada bo Ministério Público do Estado, familiares, movimentos sociais e entidades de direitos humabos, expõe a forma de atuação das milícias, histórico das chacinas, seus precursores e parte de seus soldados e comandantes.
Temer, Jatene, Zenaldo e todos os corruptos no Congresso são responsáveis e sócios desse caos. Uma comissão independente, um verdadeiro tribunal popular é essencial para se punir todos esses genocidas.
Um plano alternativo é urgente e necessário. Greve geral pra colocar pra Fora Temer, Jatene e Zenaldo. Só com muita luta do povo nas ruas, a exemplo do que fizeram os moradores do Jurunas e do Barreiro, vamos ter direito a ter uma vida digna e paz.
As entidades dos direitos humanos, sindicatos, partidos de esquerda, centrais e movimentos sociais têm que organizar urgentemente protestos e mobilização contra as chacinas e para exibir punição aos responsáveis, a começar pelo governador Simão Jatene (PSDB). Mais que isso, precisamos começar a debater a construção vital de comitês de auto-defesa em cada comunidade das periferias de Belém e do Brasil. O estado já comprovou que está ao lado e promove o nosso extermínio. Basta!

Por isso é uma necessidade parar tudo dia 30 de junho! Greve Geral!
Organizar desde já em cada local de trabalho, estudo e bairros os comitês de greve.
É sobre nossas vidas. As vidas negras e periféricas importam!

7 de junho de 2017

Corrente Socialista dos Trabalhadores – PSOL

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