Maduro, Cristina, Dilma e Lula: O fracasso do falso “progressismo”

Escrito por Miguel Sorans – Izquierda Socialista – FIT | Argentina e UIT-QI 26/07/2017

A crise política e social na Venezuela se agrava. Nicolás Maduro é repudiado por milhões nas ruas, tem uma centena de mortos pela sua repressão e argumenta que existe um “golpe fascista-imperialista em curso” contra seu governo “revolucionário”. Um setor da esquerda o define de forma parecida: “O perigo é que venha a direita”. Como se Maduro fosse de esquerda. Um governo que deixa seu povo passar fome não é de esquerda e na Venezuela existe uma rebelião popular contra a fome. Maduro falhou como o resto dos governos pseudoprogressistas que, como Cristina, Dilma e Lula, governaram ajustando o povo em nome de projetos “nacionais e populares”.

Existe um grande debate sobre o que está de fato acontecendo na Venezuela. É compreensível que muitos lutadores e lutadoras antiimperialistas tenham dúvidas, com a Telesur mostrando um Maduro supostamente “antiimperialista”, sitiado pelo “Império” e qualificando os manifestantes como “terroristas fascistas”. O mesmo faz o peronismo kirchnerista na Argentina, que pretende justificar o seu apoio a Maduro como se na Venezuela tivesse um “novo golpe gorila” de 55¹. Da mesma forma denunciaram a queda de Dilma como fruto de “um golpe de direita”. Grande parte da esquerda vem capitulando a esses argumentos dando, neste momento, um apoio “crítico” ou direto a Dilma e agora a Lula acusado de corrupção. Todos seriam vítimas de “conspirações” da “direita” e dos “grandes meios de comunicação” para “atacar a esquerda”. Na Argentina chegam ao absurdo de justificar sua derrota eleitoral de 2015 para  Macri, porque a FIT (Frente de Izquierda de los Trabajadores) chamou a votar nulo! Uma justificativa falsa: nem somando os nulos o candidato de Cristina ganharia.

Os povos rechaçam esses governos patronais de duplo discurso

Maduro, Dilma, Lula e Cristina, por trás de discursos “progressistas”, pactuaram com as multinacionais e pagaram os juros da dívida externa, cumprindo com a receita do imperialismo ajustando a população a serviço dos patrões. Ao mesmo tempo se pintam de antiimperialistas e defensores da “soberania nacional”. Na Venezuela, depois de 18 anos de governo Chavista, as pessoas enfrentam filas intermináveis em busca de algo para comer. Em um país petroleiro, está difícil encontrar pão, leite e papel higiênico. A inflação superou os 500% ano passado. A desvalorização levou o dólar a 8000 Bolívares e a maioria dos salários não passa de 30 ou 40 dólares ao mês. É um boicote imperialista? Não. O governo de Maduro coligou com as multinacionais do petróleo, compartilhando os seus recursos em empresas mistas com Chevron, Total, Repsol, Lukoil, Shell, Mitsubishi e outras multinacionais que ficam com grande parte da renda petroleira. Enquanto sua população passa fome, Maduro pagou 18 bilhões de dólares de dívida externa em 2016 e neste ano pretende pagar 17 bilhões. Maduro disse: “Venezuela tem cumprido seus compromissos internacionais e assim seguiremos” (Clarín, 23/07/17). Enquanto ajusta os mais pobres, aumenta os salários dos militares, que são seu apoio para reprimir o povo, e enriquece uma nova burguesia corrupta, chamada “Boliburguesia”.

Por isso existe uma rebelião popular contra a fome. Os que dão suas vidas nas ruas não são “terroristas fascistas”, são a juventude e setores populares que vêm se somando vindo dos bairros mais pobres que antes eram base social do chavismo. Hoje rompem massivamente e gritam “Fora Maduro”.

Maduro, Kirchner, Dilma e Lula fizeram crescer novas e antigas opções políticas patronais

Na esquerda há setores que não apoiam o chamado ao “Fora Maduro” com a justificativa que a MUD (Mesa de Unidade Democrática, de direita) é a principal na oposição. O fato de que a MUD convoca marchas não exclui a rebelião popular. Pelo contrário, as mobilizações vem atropelando a MUD, que tenta controlá-las para que o governo não caia por um ação revolucionária tentando, ao mesmo, tempo usá-las para uma negociação, defendendo que tenha eleições gerais. Esse tipo de “Nem-Nem” favorece a Maduro. O Partido Socialismo e Liberdade (PSL), partido irmão da CST-PSOL na Venezuela,  participa das mobilizações populares com uma postura independente e de esquerda. Abster-se e ficar em casa é deixar sem alternativa os milhares que se mobilizam sem apoiar a  MUD.

É justamente por culpa das políticas de ajuste de Maduro, Cristina e Dilma que têm crescido alternativas de direita. Muitas delas quase haviam desaparecido do cenário político. Chávez chamava de “raquítica ” a velha oposição pró-ianque. Agora Maduro não usa mais esse termo porque a MUD se fortaleceu e até ganhou as eleições legislativas em 2015. O mesmo aconteceu na Argentina de Cristina Kirchner que governou com a Barrick, Monsanto e com a burocracia sindical dos Caló e Gerardo Martínez, pagando as prestações da dívida externa, negociando com corruptos como os De Vido, Báez, López e colocando o genocida Milani como chefe do Exército. Assim foi como Macri ganhou as eleições. No Brasil, os cortes da Dilma e de Lula levaram a uma ruptura popular que favoreceu a chegada ao poder de Temer por meio de uma manobra parlamentar.

A saída para essa ruína social passa por uma esquerda verdadeira que rompa com as multinacionais, como as do petróleo, da soja e dos minerais. Que conquiste governos dos trabalhadores que deixem de pagar a dívida externa para destinar os recursos para acabar com a fome na Venezuela e em toda América Latina. Essas são as propostas que levantamos o PSL na Venezuela, a CST-PSOL no Brasil e o Izquierda Socialista na FIT da Argentina.

¹A expressão é utilizada como um sinônimo de reacionário de direita, militarista e golpista.

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