Venezuela | Detenção arbitrária e confisco de revistas e livros de esquerda no aeroporto de Maiquetía (Caracas)

Simón Rodríguez , dirigente do PSL, relata repressão ideológica e detenção feita de forma arbitrária em Maiquetía, cidade da Venezuela.


 

Em 16/10 cheguei ao aeroporto internacional de Maiquetía, procedente de Buenos Aires. Durante a revista das minhas malas os funcionários do Serviço Integrado da Administração Aduaneira e Tributária (SENIAT) viram que eu levava alguns livros e revistas sobre temas políticos e imediatamente informaram o Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (SEBIN).

A SENIAT confiscou como “retenção preventiva” os exemplares do livro: “Polêmica com Che Guevara”, (uma compilação de textos do Che e Nahuel Moreno publicada a 50 anos do assassinato do revolucionário argentino) e duas edições da revista Correspondência Internacional editada pela corrente Unidade Internacional dos trabalhadores – Quarta Internacional, da qual o Partido Socialismo y Libertad (PSL) é parte.

Os dois números da revista contêm artigos dedicados aos 100 anos da revolução russa e temas políticos da atualidade latino-americana, incluindo um dossiê com o título: “Aonde vai a Venezuela? Que expressa nossas críticas, desde a oposição de esquerda ao governo Maduro.

De acordo com palavras do chefe da vistoria, se tratava de materiais “desestabilizadores” e por isso, foi requerida a atuação do SEBIN. Na ata está escrito que a retenção “se pratica até tanto o consignatário demonstre o cumprimento das obrigações estabelecidas no regime aduaneira e demais disposições legais”. Uma vez que pelo seu escasso número e valor econômico não se trata de um problema de impostos nem de importação ilícita, chama a atenção que o SENIAT assuma funções de fiscalização ideológica.

Em seguida, os três funcionários do SEBIN me intimaram a ir aos escritórios no subsolo do aeroporto, para realizar ali uma entrevista. Estive 5 horas incomunicável, fui interrogado sobre o conteúdo das revistas e de minhas atividades políticas. Também tiraram fotos de mim. No dia seguinte tentei, sem êxito, que o Seniat me devolvesse as revistas e livros confiscados.

Estes protocolos implementados pelo Seniat e o Sebin evidenciam a restrição das liberdades democráticas, particularmente a liberdade de expressão e de acesso a informação; a perseguição aos dissidentes e os métodos arbitrários utilizados contra pessoas consideradas “subversivas” ou desestabilizadoras unicamente pelas suas opiniões.

Neste caso, trata-se de uma detenção pelo fato de eu fazer parte da oposição de esquerda, que com plena independência frente ao chavismo e à MUD, promove uma saída operária e popular à crise, e pela construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e socialista, sem exploração, sem saque das multinacionais e sem as tremendas desigualdades sociais e miséria que que hoje golpeia os lares do povo venezuelano pela vontade de um setor da burguesia emergente aferrado ao poder.

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