PORQUE TEMER NÃO CAIU?

Em 10 dias de greve, os caminhoneiros, com a simpatia de mais de 80 % da população, mostraram a força do povo trabalhador e deixaram o governo Temer mais cambaleante do que já estava. Mas muitos se perguntam: por que não caiu? Qual é a saída frente a essa crise? Será que uma intervenção militar não seria uma boa? Nestes textos, tentamos responder a essas e outras questões colocadas durante esta greve histórica que comoveu o país e fez tremer os poderosos, seu governo e seu regime.

Uma política econômica irracional que favorece o grande capital e o imperialismo

Durante esta greve, se fez evidente para setores amplos dos trabalhadores e da população a irracionalidade da política econômica. Como pode uma empresa controlada pelo Estado, como a Petrobrás, atrelar seus preços aos interesses das multinacionais? Por que exportamos óleo cru e importamos petróleo refinado de empresas imperialistas, quando no Brasil existem refinarias? Os caminhoneiros, que sentem no bolso e na saúde o peso do preço do diesel, das estradas esburacadas, das noites insones, dos acidentes nas estradas, dos roubos de carga e a violência, refletiram uma população exausta com um governo que, enfiado até o pescoço na corrupção e rejeitado de forma massiva pelo povo, tenta uma e outra vez fazer com que os trabalhadores e setores populares paguem pela crise.

Forte apoio popular

Em que pese o desabastecimento, o apoio popular se manteve até o fim.  Além de se somarem taxistas, moto boys, motoristas de Uber e vans, insatisfeitos com a política econômica de Temer. Foram ouvidas milhares de vozes que diziam: “Agora temos que fazer uma greve geral”. E o que unificou o movimento com a população foi o “Fora Temer” massivo. Ônibus deixaram de circular, voos foram cancelados, escolas e universidades suspenderam aulas, e fábricas tiveram que dar férias coletivas para seus funcionários. E começou a faltar comida nas prateleiras. Mas nem isso fez baixar o apoio popular. Ficou evidente assim que os de “baixo não obedecem” e também o tamanho da crise política, crise que não é só do governo, mas do conjunto do regime. Temer não conseguiu fazer o que fez FHC com os petroleiros em 1995, que, com o exército nas ruas e repressão, além do apoio do PT, conseguiu derrotar aquela greve. Desta vez, o governo saiu mais enfraquecido e os trabalhadores mais fortes. No embalo, outras e múltiplas greves e lutas seguirão.

A traição das direções explica porque Temer não caiu

Se Temer não caiu, se deve à política traidora das direções sindicais, da CUT e da velha pelegada como a Força Sindical, etc. Não passaram de declarações. Mas o que se espera de alguém que se considera direção é apoio efetivo e, sobretudo, o chamado a uma greve geral, e nisso também entra a crítica à CTB.  Isso era determinante para derrotar Temer, mas não o fizeram. Atuaram como fizeram na greve que suspenderam no 30/06/2017 e no 05/12/2017. Na FUP, os petroleiros tinham greve de 72 horas marcada contra a privatização. Mas a direção da CUT não demorou em desmarcá-la frente à ameaça de multas. Assim, a luta contra a privatização ficou em bravata, e nesta semana foram a leilão 3 áreas do Pre-Sal.

A razão dessa atitude é simples: atuaram como cúmplices, sustentando um regime que lhes outorga privilégios, e junto com o PT e PCdoB deixaram de lado o Fora Temer, interessados na campanha do Lula Livre e não em defender os interesses dos trabalhadores. Seguem a cartilha lulista que em 27/10/2017 afirmou que “não é momento de pedir Fora Temer”. Apostam suas fichas na negociação para obter o imposto sindical que lhes rende bilhões de reais, na “governabilidade” e nas próximas eleições.

Quem paga a conta?

Temer se viu obrigado a ceder aos caminhoneiros praticamente tudo o que pediam, frente a um país parado que clamava Fora Temer e Pedro Parente (Presidente da Petrobrás). Parente se demitiu. No entanto, para não tirar nem um centavo das multinacionais, o ilegítimo presidente declarou que se 90% apoiaram a greve, esses mesmos 90% deveriam pagar os custos. Como Temer e a burguesia em sua subserviência ao capital internacional não “ousam” mexer no lucro dos acionistas, o Presidente afirmou que subsidiaria…cortando gastos sociais! E o acordo, triunfo da greve, periga não ser cumprido. Não é fácil aumentar o transporte, a gasolina, o gás de cozinha, num país mergulhado em greves e crises. Por outro lado, diversos setores da burguesia reclamam. Os grandes empresários do transporte questionam a tabela do frete mínimo acordado com os caminhoneiros. Mas, fundamentalmente, é o agronegócio quem não aceita a tabela dos fretes acordada para pôr fim à greve. Tampouco a indústria aceita diminuição do subsídio às exportações, e por aí vai.   Assim, nuvens de tormenta se fecham sobre o acordo, enquanto caminhoneiros discutem uma nova greve

A atuação do PSOL

O maior partido da esquerda brasileira, o PSOL, assim como seu candidato a presidente, Guilherme Boulos (MTST) deixaram a desejar. Seus militantes e correntes, corretamente e por conta própria, estiveram presentes nos piquetes junto aos grevistas, evidenciando uma grande sensibilidade, mas sem orientação da direção, que frente à greve dos petroleiros, finalmente, disse estar a favor, mas deu instruções para que a militância participasse dos atos da Frente Povo sem Medo. Ou seja, uma direção majoritária que se negou a dar apoio aos caminhoneiros sob o argumento de que se tratava de um locaute patronal, para finalmente chamar os militantes a se orientar pela política do PT! Boulos, por sua vez, fez uma boa declaração, mas se houvesse feito, tanto ele como a direção majoritária, 50% do que fizeram pela liberdade de Lula outro seria balanço. Ou seja, no maior acontecimento contra o governo Temer em 2018, negou-se a batalhar e a dialogar com 90% da população que apoiava os caminhoneiros! Com essa política, não é difícil compreender porque Boulos não pontua nas pesquisas!

Intervenção militar não é saída!

Frente à uma crise sem precedentes e a um gigantesco vazio político, frente à falta de alternativas, não é de se estranhar que haja setores que pensam que os militares podem ser solução. Ingenuamente, bem-intencionados, mas com grande confusão, ouvimos vozes que dizem que “os militares fazem uma limpa na corrupção e na bandidagem, e depois chamam a eleições”. Não pedem uma ditadura, mas não são conscientes de que se os militares viessem seria para isso. Estão profundamente equivocados. O golpe de 64 foi há 54 anos, a maior parte dos caminhoneiros não havia nascido, e/ou eram crianças quando caiu a ditadura. Queremos esclarecer que na ditadura houve corrupção, e muita. Por ex. no RJ, dentro do Batalhão do Exército, o capitão Ailton Guimarães, integrava uma quadrilha que comercializava ilegalmente artigos de luxo inclusive roubados de contrabandistas. O delegado paulista Sergio F. Fleury, acusado pelo MP de tráfico de drogas, e líder de um grupo paramilitar Esquadrão da Morte, era ligado a criminosos e forneceu proteção a traficantes. O caso de Paulo Maluf, símbolo de corrupção político e cria da ditadura, além de velho conhecido e aliado do PT e Lula, fez que o BNDE outorgasse um empréstimo à empresa têxtil de sua esposa quando a mesma estava em processo de falência. Delfim Netto, conhecido economista neoliberal e assessor informal de Lula, e Ministro da Fazenda e da Agricultura durante a Ditadura, foi acusado pelo chefe do SNI (Serviço Nacional de Inteligência) de ter beneficiado a empreiteira Camargo Corrêa para ganhar a concorrência da construção de uma hidrelétrica*. E muitos casos mais. Com uma ditadura, seriam impedidos de funcionar associações, sindicatos e partidos, como o PSOL, mandatos como os dos nossos parlamentares seriam cassados, e ninguém poderia fazer greve como a dos caminhoneiros. E tudo seria feito para, sob a bota dos militares, seguir com a mesma política econômica de superexploraçao e miséria, de total subserviência ao imperialismo e ao grande capital, pois assim foi durante os anos de chumbo.

Temos uma prova com a Intervenção militar no RJ: passados quase 5 meses, as mortes de inocentes aumentaram, continuam a morrer os jovens negros da periferia e o assassinato da nossa companheira Marielle não foi esclarecido.  O problema da violência não se resolveu jamais com tiro e bomba. Se os que hoje traficam drogas, além da legalização e não da repressão, tivessem opões de estudo, lazer e trabalho,  morassem em casas habitáveis e tivessem bons serviços de transporte e saúde pública outra seria a história. Além do mais, desde os governos do PT e reforçado por Temer, os militares formam parte o governo: comandam o Ministério da Defesa, a secretaria nacional de Segurança Pública do ministério homônimo, a presidência da Funai (Fundação Nacional do Índio) e a Segurança do RJ, além de outros altos cargos.

 

São necessárias urgentes mudanças de fundo

Para impedir o aumento do preço das passagens, da gasolina e os alimentos, para que os hospitais públicos funcionem à serviço da população, para ter escolas públicas de qualidade e salários de acordo com a cesta básica, precisamos unificar as lutas para acabar com Temer, os governadores e seu plano de ajuste. Queremos que os ricos paguem pela crise!

Para isso, é necessário defender um plano econômico alternativo que comece pelo não pagamento da Dívida Pública, pois quase a metade do orçamento vai para essa conta. A única forma de resolver os problemas da crise econômica é a auditoria e suspensão do pagamento da Dívida Pública, só assim teremos dinheiro para atender as demandas sociais.  Vinculado à defesa da Petrobrás 100% estatal e pública sob o controle dos trabalhadores.

Será com muita luta que conseguiremos ter um governo sem bandidos, um governo dos que nunca governaram: os de baixo. As organizações que lutam, os professores, servidores públicos, metalúrgicos como os da Mercedes Benz ou da Renault, os caminhoneiros, do PSOL, da Conlutas, dos partidos de esquerda que nunca governaram e que não tem nada a ver com corrupção, dos sindicatos que lutam contra o governo e com democracia operária, sem o PT, que no governo durante mais de uma década já demonstrou a que veio.

*do livro de Elio Gaspari “A ditadura envergonhada

Secretariado da CST/PSOL

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