Ursula Vidal na Secult | Não se faz nova política ao lado da família Barbalho!

Posição da CST PSOL sobre a ruptura de Ursula Vidal com o PSOL e sua entrada para o governo do MDB

A partir de hoje, 01 de janeiro de 2019, toma posse no estado do Pará o Governador Helder Barbalho (MDB) eleito pela Coligação “O Pará daqui pra frente”, da qual também fez parte, dentre outros partidos, o PSL do presidente Jair Bolsonaro. Sua equipe de secretários contará com o nome da jornalista Ursula Vidal ( que foi candidata ao senado no Pará pelo PSOL nas ultimas eleições) e assumirá a Secretária de Cultura do Pará (SECULT). Ela aceitou, de forma unilateral, assumir a secretaria a convite do próprio governador a quem agradeceu em nota publicada na semana passada.

Úrsula Vidal conquistou mais de meio milhão de votos ao senado sendo vista como uma alternativa em meio às candidaturas carcomidas e corruptas de Jader Barbalho e Flexa Ribeiro, principalmente entre a juventude. Junto ao PSOL teve legitimidade para dizer que “Uma nova política não se faz com os velhos políticos de sempre”. O PSOL fez uma campanha independente e à esquerda, encabeçada por Fernando Carneiro que não poupou denúncias a nenhum candidato da Burguesia e que junto com o partido desde o segundo turno se colocou como oposição ao futuro governo fosse ele encabeçado pelo tucanato ou pela família Barbalho. Úrsula foi parte dessa campanha.

Úrsula infelizmente agora utiliza todo o reconhecimento conquistado no período eleitoral para emprestar um ar democrático a um governo da família Barbalho, velhos oligarcas paraenses,  e do MDB, um partido apodrecido que, a nível nacional, nunca saiu do poder e que já se prepara para ser base de apoio do governo Bolsonaro.

Os efeitos da decisão da jornalista já em curto prazo são desastrosos: aprofundará o descrédito com a política em parte de seu eleitorado que, com razão, se sentirá traído, e mais uma vez voltará a acreditar que “político é tudo igual”. Além disso,  deseduca outra parcela fazendo acreditar que é possível “fazer sua parte” e disputar por dentro um governo patronal inimigo programático dos trabalhadores e da juventude. Ao invés de ser parte dos que vão enfrentar os ataques dos novos governos, Úrsula passa a mensagem de que é preciso pular janela adentro dos gabinetes, chefias e secretarias.

 

Por isso nós da CST, signatários da nota lançada pela executiva do PSOL, acreditamos que e preciso responder a nota da companheira em dois pontos que consideramos fundamentais além de apontar que a direção do PSOL Pará precisa tirar conclusões desse processo no que diz respeito à entrada de figuras públicas e quadros oriundos de outros partidos em nossas fileiras.

 

O governo Helder está em disputa?

Mal foi anunciado resultado do segundo turno das eleições e carros-som já rodavam pela cidade de Belém com o Jingle “Agora é Helder e Bolsonaro”. Dias depois, uma carta de governadores eleitos apresentava ao novo presidente uma agenda de retirada de direitos, dentre eles o fim da estabilidade dos servidores públicos. Helder foi um dos signatários.

A família Barbalho não é nem progressista, nem oposição ao Bolsonaro. É uma velha oligarquia envolvida em escândalos de corrupção e que vai governar com o PSL, com o fascistóide Eder Mauro (cujo filho assumirá a Secretaria de direitos Humanos) e com o que há de pior no Estado.  Hélder se propõe a fazer reforma da previdência Estadual, vai articular intervenção federal na segurança do Estado, um modelo que foi desastroso no Rio de Janeiro , e vai se utilizar de todo o autoritarismo possível para fazer passar sua agenda de ataques econômicos sobre a classe e a juventude. Trata-se de um governo que tem unidade politica e econômica com o novo presidente.

Acontece que para explicar acordos eleitorais espúrios, setores da esquerda e centro-esquerda criaram a ideia de existe uma ala democrática/progressista no MDB. O Partido dos Trabalhadores, por exemplo, fez campanha para Helder no segundo turno e também terá quadros compondo o novo governo.  Agora muitos utilizam dessa mesma ideia para minimizar a opção de Úrsula de compor o governo, passando a ideia de que se trataria de um governo em disputa, aí tudo bem compor uma secretaria aqui, ou subir num palanque ali.

Nesse governo, o papel da Secult será nada mais que um paliativo e Úrsula um dos rostos “democráticos” a silenciar ou pactuar com as políticas centrais do novo governo.

Um novo Tempo para a Cultura?

Úrsula pediu desfiliação do partido e divulgou uma nota onde caracteriza que o convite é uma “janela aberta de oportunidades para inaugurar um novo tempo na gestão de cultura do Estado”. Só não diz como isso será possível dentro de um governo altamente comprometido com a política de corte de verbas e o desmantelamento dos serviços públicos. Afinal, toda a família Barbalho foi a favor da Emenda Constitucional 95 que congelou investimentos públicos por 20 anos. O ainda Presidente Temer também do MDB quase extinguiu o Ministério da Cultura em 2016 em nome da mesma política.

Não duvidamos de sua capacidade técnica e competência. Sabemos que isso há de sobra. Mas sabemos também que o centro do problema da cultura e de todo os serviços e politicas públicas nesse país, não é técnico, de gestão e muito menos de boa vontade. É político e é econômico. Sabemos ainda que é ingenuidade pensar a pasta cultura em separado de todo o projeto politico do novo governo acreditando numa SECULT autônoma e independente do governo (e dos interesses de seus apoiadores) com um orçamento pífio. A “ideia de uma gestão democrática e participativa” dentro de um governo da família Barbalho só é possível no papel e em palavras, mas inconciliável com a realidade da luta de classes em nosso país.

 

A responsabilidade da direção do PSOL.

 

É preciso fazer um debate honesto sobre a forma como figuras públicas têm ingressado nas fileiras do PSOL, pois se a decisão de Ursula Vidal compor o governo do MDB e sair do PSOL foi pessoal, a decisão de aceitar sua filiação e fazer dela nossa candidata ao senado não o foi, é de responsabilidade da maioria da direção do PSOL. A entrada abrupta dela e com nenhuma discussão na base não permitiu nem a nós nem a ela irmos a fundo nos debates, nos métodos de funcionamento do partido, e de saber até onde sua saída era um rompimento político com a REDE e quais acordos com a nossa política do partido que defende o Socialismo e a Liberdade.

 

Erguer nas ruas nossas bandeiras e enfrentar os ataques de Hélder.

 

2019 será um ano de muitas lutas. Daqui pra frente, os ataques dos novos governos (federal e estadual) virão de forma brutal e exigirá de nós a mais ampla unidade de ação nas ruas, nas greves, no enfrentamento cotidiano contra a retirada de direitos. O lugar dos movimentos sociais, culturais e populares é na luta e resistência, sem nenhuma confiança no governo de Helder Barbalho ou numa Secult cujo papel será de administrar a crise e conciliar interesses.

Enquanto estaremos nesse enfrentamento real nas ruas, Ursula estará nas  reuniões de secretária com esse governo, enquanto as bombas da repressão estarão atingindo os que lutam a mesma estará do outro lado.

  1. Daqui pra frente estaremos em lados opostos!

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