Tiananmen: 1989 – derrota da revolução na China

No ano em que completam 30 anos do massacre de Tiananmen reproduzimos o texto de Mercedes Petit, dirigente  do Izquierda Socialista – Seção da UIT-QI na Argentina. O Artigo foi publicado no jornal El Socialista, em 2009, e segue plenamente vigente. Boa Leitura!


1989: derrota da revolução na China

20 anos depois do massacre de Tiananmen

É história recente. Em 4 de junho de 1989, a ditadura do Partido Comunista afogou em sangue uma mobilização operário-estudantil de massa. Desde então, se consolidaram as medidas de restauração capitalistas e de repressão.

Desde os anos 1970, o regime totalitário de partido único colocou o Estado Operário burocratizado chinês no caminho da restauração capitalista. Desde os anos 70, Mao Tse Tung iniciou os primeiros contatos com o imperialismo ianque. Em fevereiro de 1972, o presidente republicano Richard Nixon viajou para Pequim. Desde 1978, sob a liderança do sucessor de Mao, Deng Xiaoping, a burocracia do PC pôs em marcha a todo vapor um processo de restauração do capitalismo e semicolonização imperialista do país. O povo chinês resistiu a ele, mas foi derrotado.

O começo da resistência

O descontentamento diante das medidas pró-capitalistas começou a expressar-se desde 1985, primeiro entre os estudantes. Depois foi estendido aos camponeses, contra a tomada de terras pelo governo, e o movimento operário. Nas cidades, a liberação de preços estava causando estragos nos salários dos trabalhadores. No final de 1986, aconteceram importantes mobilizações estudantis em várias cidades. Em janeiro de 1987, foi demitido de seu cargo, como secretário geral do PC, Hu Yaobang, acusado de não conter a rebelião dos estudantes.

A agitação contra o governo, suas reformas capitalistas e corrupção continuaram a crescer. A inflação foi de 20%, se deu início o desemprego e a migração para as cidades dos camponeses retirantes.

Pôs-se em marcha uma revolução contra o processo de restauração capitalista. Os estudantes não se mobilizaram a favor do capitalismo. Existiam ainda as bases sociais não capitalistas, conquistadas com a expropriação da burguesia e do imperialismo com a vitória da revolução socialista em 1949, embora estivessem sendo demolidas rapidamente pela burocracia desde 1978. Foi uma revolução política contra a ditadura burocrática do PC. Os estudantes cantaram a Internacional, agitaram as bandeiras vermelhas e deram vivas ao PC, exigindo mudanças.

De abril a junho: revolução e derrota

Em 15 de abril de 1989, Hu Yaobang morreu. No dia seguinte, os estudantes saem para a rua, maciçamente. Uma grande reivindicação é a liberdade de imprensa e democracia. Um Sindicato de Estudantes Autônomos é formado em Pequim. Logo se conhece uma declaração de uma Associação de Trabalhadores da cidade de Pequim. Além de apoiar os estudantes, denuncia “a longa ditadura da burocracia despótica”, exigindo aumentos salariais, estabilidade de preços e publicação dos rendimentos dos funcionários do Estado “incluindo suas esposas e filhos”, entre outras medidas.

No sábado, 22 de abril, com o funeral de Hu, a mobilização se tornou nacional e massiva. Uma declaração de 70 intelectuais apoiou os estudantes. O Diário do Povo, o órgão oficial da burocracia do PC, chamou para se combater a uma “pequena minoria” de “rufiões e contrarrevolucionários”. Em 25 de abril, os comitês estudantis foram declarados ilegais. No dia 27, acontecem manifestações de estudantes e trabalhadores em Pequim. Já são mais de 200.000. Os trabalhadores dialogam com os soldados do Batalhão 38 para que não reprimam. Existem dados conhecidos de confrontos entre os diferentes setores da burocracia e a disposição de setores da tropa de não reprimir.

Em 4 de maio, há outra jornada massiva e o governo não reprime. Em 9 de maio, mil jornalistas dos órgãos oficiais publicam uma petição pela liberdade de imprensa. Os estudantes marcham em seu apoio.

Em 13 de maio, mil estudantes iniciam uma greve de fome na Praça Tiananmen, no centro de Pequim. Vão se somando centenas de grevistas. Em 17 de maio, um milhão de pessoas se manifesta em Pequim. Estouram mobilizações em 21 cidades. Naqueles dias, Gorbachev, chefe da URSS, visita Pequim. Ele se solidariza com seus colegas burocratas contra os estudantes, embora eles o reivindiquem como um “grande reformador”. Nos dias 18 e 19 de maio, um milhão de pessoas se reúne mais uma vez, e as colunas de trabalhadores de diferentes empresas e repartições vão se tornando cada vez mais visíveis. Soldados também se integram a mobilização. Os batalhões 38 e 39 recusam-se a reprimir e chegam às adesões aos cadetes do Exército, da Polícia e da Marinha que fazem greve de fome. A mobilização do domingo 21 em Xangai tem meio milhão. As declarações de estudantes e trabalhadores vão ficando mais radicalizadas, numa crescente ruptura com as ilusões no PC. Entre 24 e 25 as tropas nas ruas praticamente desapareceram apenas as massas permanecem.

O massacre

No final do mês a burocracia conseguiu reunificar os comandantes do exército e se prepara para reprimir, com batalhões de regiões distantes, enquanto que a mobilização começa a diminuir. Na quinta-feira, 1º de junho, as tropas começam a se instalar em diferentes áreas de Pequim. Na sexta-feira, mais de 300 mil pessoas rodeavam os grevistas que participavam de um festival com um cantor popular. Na noite de 3 a 4 de junho, a burocracia desencadeia uma feroz repressão na praça ocupada. Com o massacre, eles conseguem desalojar os manifestantes. Ao mesmo tempo, há mobilizações em Xangai e outras cidades. Em 7 de junho a “calma” reina em Pequim. Então, começam as torturas e as sentenças de morte para os prisioneiros. As diferentes cifras falam entre 3.000 e 10.000 mortos. Segundo o governo chinês, havia 3.000 feridos e apenas 200 mortos.

Restauração Sangrenta

Com repressão maciça, o governo conseguiu deter essa revolução política, derrotando o movimento de massas. Impondo um golpe contrarrevolucionário, que foi usado pela ditadura do PC chinês para fortalecer seu regime totalitário e avançar na restauração capitalista.

As medidas da burocracia stalinista chinesa, a partir de Tiananmen, seguiram liquidando o pouco que restava da planificação econômica estatal e seguiram avançando na implementação das leis do mercado, privatização de empresas e bancos, no investimento estrangeiro, na criação de uma nova burguesia, consolidando a restauração e transformando a China num país capitalista.

Continuou a crescer a miséria que levou às lutas e ao ascenso da década de 80. Hoje em muitas fábricas chinesas se trabalha em regime de semiescravidão. Mas há resistência, que também vem crescendo, e certamente as massas vão se recuperar dessa derrota e serão protagonistas de novas e grandes lutas.

Mães de Tiananmen

Em 1991, o primeiro-ministro Li Peng informou que a lista de mortos em Tiananmen não seria publicada, “porque as famílias querem permanecer em silêncio e manter o segredo”. Mais uma mentira do PC.

Desde então, Ding Zilin, uma professora universitária que teve que identificar o corpo de seu filho 17 anos, morto a tiros em 04 de junho de 1989, vem denunciando o massacre e reunindo nomes das vítimas. Até 2005, já tinha 189 nomes que poderiam ser publicados em Hong Kong. Ela e o marido foram perseguidos e aposentados do trabalho. Mas o movimento está em andamento (dados em The Empire of Lies, de Guy Sorman, Sudamericana, 2007).

Veja “China:” socialismo “do mercado?”, In Correspondência International;  No. 25 fevereiro-junho de 2008.

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