Argentina: É possível uma saída à esquerda?

Editorial do Jornal Izquierda Socialista – 25 de Julho de 2019

 O Macrismo diz que tudo se resolve “não voltando ao passado”, enquanto o ajuste continua roendo os bolsos dos trabalhadores e segue a festa para banqueiros e especuladores. Alberto Fernández e Cristina contrapõem dizendo que se trata apenas de “ voltar a acender a luz da economia”, fugindo de qualquer explicação mais concreta. É que ambos escondem o mais importante: o que eles vão fazer com a “grande hipoteca” que ficará para 2020, com os vencimentos impagáveis da dívida externa e o atual acordo do super ajuste com o FMI?

Macri diz que, se vencer, “ele irá mais rápido”, leia-se porá em marcha as reformas trabalhistas e previdenciárias e renegociará com o FMI um “acordo mais amplo”. Alberto Fernández coloca, ao mesmo tempo, que ele vai se sentar para renegociar com o Fundo. Mas ele esconde o que todos já sabem: que o FMI exigirá que ele “renegocie”, precisamente, para implementar as reformas trabalhistas e previdenciárias acima mencionadas e um ajuste maior. Com Macri e os Fernández anda junto o FMI! Eles juram e perjuram que, sob nenhum ponto de vista, deixarão de lado o Fundo e os credores. Como um cachorro que morde o rabo, as duas fórmulas presidenciais do patronato acabam numa só: sacrificar o futuro dos trabalhadores no altar dos pagamentos da dívida e a continuidade dos acordos com o FMI.

Nós da Unidade da Frente de Esquerda, somos muito claros: não há absolutamente nenhuma saída para os setores populares se não começarmos a romper o acordo com o FMI e suspendermos imediatamente os pagamentos da dívida externa. Este é o primeiro passo, absolutamente essencial, para virar tudo e priorizar as necessidades reais dos trabalhadores: salário, emprego, educação, saúde e habitação.  É aí, no que diz respeito a dívida externa e as exigências do FMI, que está o dinheiro para resolver esses problemas!

Muitas companheiras e companheiros, entendem que no FMI e na dívida está a origem do roubo que nos aumenta a decadência e a miséria, mas duvidam que nossa proposta seja viável. Se pode realmente romper com o FMI? É possível deixar de pagar a dívida? Quais são as consequências? Estas são todas as perguntas que nos são feitas nas ruas, fábricas, escritórios e salas de aula.

Nossa resposta é categórica: claro que é possível! Além disso, existem infinitos exemplos de países que pararam de pagar suas dívidas e que começaram a se recuperar. Mas não precisamos recorrer à história ou a territórios distantes. Aqui mesmo temos um bom exemplo: em dezembro de 2001, a Argentina estava se afundando em uma crise enorme, justamente porque estava pagando infinitos vencimentos da dívida em meio a um ajuste sem fim. Tudo terminou com a explosão popular do “argentinazo”, que jogou os ajustadores De la Rua e Cavallo e impôs a suspensão do pagamento da dívida. A recuperação econômica se deu em um período imediato, que permitiu uma razoável recuperação dos salários e do nível de emprego, conseguida exatamente porque a dívida não estava sendo paga. Assim como os problemas reapareceram quando ela passou a ser paga novamente.

Mas, com a suspensão dos pagamentos não haverá consequências? Não sofreremos sanções pelas potências imperialistas? Vamos dizer claramente: qualquer problema que nos traga será infinitamente menor do que se continuarmos a pagar com base na fome e na miséria do povo, num ajuste infinito que nos leva finalmente a crises terminais como as que vivemos na hiperinflação de 1989 ou nos meses anteriores a dezembro de 2001. Se quisermos recuperar o poder de compra dos salários, reativar a economia, aumentar o emprego e melhorar a educação e a saúde públicas, a única opção “realista” é justamente quebrar as correntes que nos prendem ao FMI e acabar com o saco sem fundo da dívida, por onde escorre toda a nossa riqueza. O “utópico” é exatamente o oposto. “Utópico” é, como diz Alberto Fernández,  que pode se renegociar com o FMI e que este permita criar um programa de redistribuição da riqueza, ou “nacional e popular”. Toda a história do FMI prova o contrário! O Fundo é um corpo imperialista que existe para exigir planos de ajuste a serviço do que cobram os credores e por mais nada.

Se Macri continuar, ou se Alberto e Cristina vierem, o ajuste e a submissão ao FMI e seus ditames continuarão. Com eles, não há futuro para trabalhadores, aposentados, mulheres e jovens. Esta é a realidade. Se, por outro lado, rompermos com o FMI e pararmos de pagar a dívida, as estradas se abrirão para lançar um verdadeiro programa alternativo. Isso inclui a nacionalização do comércio bancário e do comércio exterior, reestatizando o que foi privatizado, pondo-os  para funcionar sob a gestão de seus trabalhadores e usuários, proibindo por lei as suspensões e as demissões, dar um aumento de emergência para que ninguém ganhe menos do que a cesta básica e implementar um verdadeiro plano de obras públicas para acabar com o desemprego. Este é o verdadeiro e único programa “possível” a favor da classe trabalhadora e do povo!

É por isso que nessas eleições lutamos para criar uma alternativa mais forte para a classe trabalhadora que levanta essas propostas. É o que a Unidade da Frente de Esquerda propõe. É por isso que convidamos você a votar em nós e nos ajudar a desenvolver uma autêntica cadeia de votos, espalhando essas ideias entre seus amigos, colegas de trabalho ou parceiros de estudo e membros da família. Para participar das atividades da campanha eleitoral, onde nossos candidatos visitam fábricas, escritórios, hospitais e bairros diariamente. Para ser mais um quando saímos para distribuir nossos panfletos em todos as esquinas e praças. Para se inscrever como fiscal e nos ajudar a conseguir mais apoio, defender os votos no dia da eleição. Para chegar às nossas palestras para discutir nossas propostas. Ajudar-nos, nestas últimas semanas, a tornar a nossa voz mais alta, em face das campanhas de milhões de dólares dos candidatos dos empregadores. Para que não haja um trabalhador, um jovem que lute pelo seu futuro, uma mulher que lute pelo aborto e contra a violência de gênero, um vizinho sem ouvir que, contra os candidatos do ajuste, devemos votar na esquerda unida.

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