EDUCAÇÃO | 15/10 Dia dos Professores: ainda resta algo a se comemorar?

O título expressa um certo pessimismo, mas, infelizmente, não é para menos. É claro que datas servem para ser comemoradas e com o 15/10 não é diferente. Todos os anos é a mesma coisa, surgem as mais diversas formas de homenagem a essa categoria que trabalha com o conhecimento, com formação de seres humanos e como é linda a profissão. Porém, o dia termina e a situação de miséria continua: entra governo, sai governo e as escolas continuam sem investimento, os salários continuam abaixo do piso, depressão, medo das inúmeras formas de violência que acontecem nas escolas e uma imensa gama de outros problemas seguem assolando as professoras e professores. No Brasil do Bolsonaro, então, aí que faltam motivos para comemorar. O dia é dos professores, mas aqui falaremos também de funcionárias, estudantes e instituições.
No país, a única profissão que exige diploma de ensino superior para ser exercida e que sequer recebe um salário digno é a de professor. São horas e horas de muito trabalho e a contrapartida financeira é pequena. Há estados que nem pagam o piso (R$2.455,00), como AC, MG, PA, RJ e RS. Alguns parcelam os salários. Neste ano, educadoras e educadores de MG, RJ e RS amargam 5 anos de salário congelado, parcelado e abaixo do piso salarial. A situação é tão calamitosa que os índices de professores com algum tipo de transtorno mental só aumentam. Muitos sofrem de depressão, síndrome do pânico e até mesmo apresentam tendências suicidas. A política de arrocho salarial que os governos estaduais e o federal impoem à Educação está adoecendo a categoria no país inteiro.
Para além da falta de investimento nos profissionais, os governos também não investem na infraestrutura das escolas e universidades públicas. Em se tratando do ensino básico, os espaços estão completamente defasados em comparação com o mundo lá fora ao qual crianças e adolescentes já estão acostumados. Não tem tecnologia, acesso à internet, computadores, laboratórios que permitam aprendizado respeitando as múltiplas inteligências e acompanhando a evolução da aquisição de informação. Não é à toa que muitos alunos preferem ficar mexendo em seus celulares a ouvir aquela pessoa que está falando incessantemente lá na frente. E quando a tecnologia chega às escolas, ela serve de cavalo de tróia para oferecer dados para as secretarias usarem contra nós, como aconteceu no RS com o aplicativo de chamada que ajudou a acelerar o processo de extinção de turmas e turnos.
A soma dessas condições não é uma mera coincidência, mas um projeto político de desmonte da Educação pública como um todo e fortalecimento dos empresários do ensino privado. Não bastassem todos esses ataques direcionados aos professores, o atual presidente da República e sua equipe elegeram a Educação como inimigo público número um e aprofunda a agenda de cortes de verba e desvalorização. Por exemplo, a EC 95 ou PEC dos Gastos, aprovada no governo Temer e mantida pela atual gestão, congela o investimento em setores importantes, entre eles a Educação, por 20 anos; Diminuiu o número de bolsas de estudo para mestrado e doutorado, o que influencia diretamente na pesquisa do país; O ministro da Educação agora quer que professores de universidades públicas sejam contratados via CLT e não mais por concurso.
Além dos cortes, o governo ainda tem lançado políticas de perseguição como é o caso do Projeto Escola Sem Partido que, entre outras coisas, visa impedir a livre docência para evitar uma suposta doutrinação, mas na verdade eles querem é evitar que a sala de aula seja um espaço de debate crítico. Inclusive, o que se vê diariamente é um ataque feroz aos cursos de humanas e, no âmbito das Reformas, o Novo Ensino Médio e a BNCC apontam seu foco para formação de mão-de-obra barata e não pensante.
Todos esses elementos citados brevemente geram uma verdadeira bola de neve que contribui para que professoras e professores, funcionários e funcionárias sigam desvalorizados. Um governo que não valoriza a educação, uma sociedade que valoriza a posse em detrimento do conhecimento, a falta de investimento que torna o espaço escolar desinteressante e contribui para a evasão de estudantes, tudo isso culmina no próprio desrespeito que temos visto por parte de alunos para com professores. Uma das muitas violências que sofremos dentro da escola. E a solução NÃO é a militarização das escolas, como tem avançado em vários estados, principalmente no DF. A saída é a valorização da Educação como um todo. No mínimo, salário digno para professoras e funcionárias e investimento para modernização da infraestrutura imediatamente.
De fato, o 15/10 não tem muito o que comemorar, mas há elementos suficientes para indignar qualquer um. Mais do que comemorar o dia do professor é preciso organizar a indignação da categoria e de todos e todas que defendem a Educação. É preciso continuar o histórico de luta que sempre conquistou seus direitos por meio de greves e massivas manifestações. É hora de enfrentar Bolsonaro e sua política nas ruas e para isso, é preciso que a CNTE saia do seu típico imobilismo e convoque uma Greve Geral da Educação.
Por Bianca Damacena
Professora da rede estadual do RS
Educação em Combate

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