Rebelião na Colômbia

Texto Izquierda Socialista, seção argentina da UIT-QI

Manifestantes fazem vigília em Bogotá em homenagem a Dilan Cruz, jovem de 18 anos morto por disparo policial. Foto: Juan Barreto/AFP, em 26.11.19

  

Com a greve nacional de 21 de novembro, o povo colombiano entrou totalmente na primavera dos povos latino-americanos, precedido pelas rebeliões em Porto Rico, Haiti, Equador e Chile, além das mobilizações contra o golpe na Bolívia.

Convocada pelas centrais sindicais, movimento estudantil, organizações populares, camponeses, afro-colombianos e indígenas, uma mobilização simultânea foi realizada nas principais cidades, a maior em décadas.

O governo do direitista Iván Duque, filho político de Uribe, em pouco mais de um ano sofreu uma série de derrotas. O movimento estudantil o impediu de fazer cortes no orçamento para a educação pública e, após um mês de greve nas universidades, ele prometeu aumentar o orçamento. Em outubro, ele perdeu as eleições regionais.

Com 69% de rejeição popular, Duque agora testa seu pacote legislativo alinhado ao FMI, que inclui uma reforma trabalhista para impor maior precariedade, uma reforma previdenciária para remover direitos e privatizar aposentadorias, uma reforma tributária para reduzir as contribuições de grandes empresas e aumentar as dos pequenos contribuintes. Contrarreformas que aumentariam a desigualdade capitalista que castiga o povo, apesar do crescimento econômico.

Foto: Joaquin Sarmiento/AFP

A greve nacional também vai contra a corrupção, tarifas e privatizações, por um salário mínimo, pelo cumprimento dos acordos firmados no ano passado com o movimento estudantil e pelo fim dos assassinatos de lideranças populares e ex-guerrilheiros desmobilizados.

Existe uma disposição importante para enfrentar o terrorismo de Estado. Desde 2016, 486 lideranças populares foram mortas, 106 deles desde que Duque assumiu o governo. Apenas três semanas atrás, o Ministro da Defesa foi forçado a renunciar quando foi revelado que o Exército matou oito menores durante um bombardeio contra dissidentes das FARC e ocultou o fato. Entre 1958 e 2018, a guerra interna deixou 262 mil mortos, mais de 75% por parte das forças armadas e paramilitares, e mais de 80 mil desapareceram, de acordo com o Centro Nacional de Memória Histórica.

A resposta do governo à greve foi desqualificar as demandas justas dos trabalhadores e populares, matando três manifestantes e prendendo centenas, decretando toque de recolher em Bogotá e Cali e levando o exército para as ruas. Nesse contexto, a morte na segunda-feira, 25, do estudante Dilan Cruz, de 18 anos, ferido na cabeça pela polícia de Duque, dois dias antes, quando  participava de uma manifestação pacífica em Bogotá, chocou o país.

Na terça-feira 26, líderes sindicais e de movimentos sociais se retiraram da mesa de negociação convocada pelo governo e pediram uma nova greve nacional na quarta-feira, 27. Às reivindicações iniciais foram acrescentadas novas demandas, uma delas é o desmantelamento do Esquadrão Móvel Antimotim da Polícia, responsável pelo assassinato do jovem Dilan. A cidade não recua, continua a fazer panelaços estrondosos, combinando marchas com greves nacionais e enfrentando a repressão feroz do governo reacionário de Iván Duque. A luta continua.■

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