CHAMADO INTERNACIONAL | Que a crise do coronavírus seja paga pelos capitalistas! Não pela classe trabalhadora e os povos!

Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI) | Traduzido por: João Santiago

 

O mundo está sofrendo uma calamidade. A pandemia de coronavírus se espalha sem controle. Existem centenas de milhares de infectados e milhares de mortos. O que está acontecendo no mundo é algo inédito. As fronteiras estão fechadas, milhões de pessoas e países estão em quarentena. A crise nos sistemas de saúde sob o capitalismo é colocada a nu. Há fortes elementos de caos. O pânico e a incerteza crescem em milhões de pessoas, não apenas por causa do medo de contágio, mas também porque há uma grande desconfiança nos de cima acima, nos governos e regimes capitalistas. Os Trump e Bolsonaros, por exemplo, continuam a minimizar o coronavírus.

O coronavírus pode afetar qualquer pessoa. Mas aqueles que mais sofrem, e sofrerão as consequências da pandemia, são os trabalhadores, os setores populares, os explorados e oprimidos do mundo. Há sofrimento com a perda de vidas, mas também há consequências sociais para os povos. O comércio mundial foi afetado e haverá uma queda na produção. As multinacionais vão querer fazer com que esse custo seja pago pela classe trabalhadora e os povos do mundo. No meio da crise do coronavírus, os capitalistas querem salvar seus lucros e riquezas, querem baixar salários, demitir ou suspender contratos sem pagar salários. Eles não estão preocupados com a saúde e a segurança dos trabalhadores e trabalhadoras.

O sistema capitalista-imperialista não garante uma resposta adequada a essa crise humanitária que está afetando milhões. Para os socialistas revolucionários, a prioridade é conter a disseminação do coronavírus (Covid 19) e garantir a vida de milhões. E, para isso, é necessário lutar da maneira que se possa em meio às quarentenas exigidas, impor medidas emergenciais em defesa dos trabalhadores e dos setores populares.

A crise sanitária mundial é culpa do capitalismo

Essa calamidade que estamos enfrentando é de responsabilidade do sistema capitalista-imperialista. O capitalismo é um sistema injusto, irracional e para os ricos. O terreno fértil para o crescimento de doenças é a miséria crescente, a aglomeração nas cidades, as mudanças ambientais e os sistemas de saúde baseados nos lucros do capital privado.

Esse colapso do capitalismo se expressa não apenas no surgimento de uma doença nova e grave como o coronavírus, mas também na persistência de epidemias de cólera, ebola, tuberculose, surto epidêmico de dengue e reaparecimento do sarampo.

As causas devem ser buscadas nas condições de miséria em que vivem bilhões. Mais de 1,3 bilhão de pessoas estão em uma situação de “pobreza multidimensional”, ou seja, elas carecem do atendimento das necessidades básicas como saúde, educação, água potável, eletricidade e moradia (dados do Relatório Mundial da Pobreza das Nações Unidas de 2019). Por outro lado, 26 multimilionários (incluindo Bill Gates, Jeff Bezos, Warren Buffett, Mark Zuckeberg, Amancio Ortega e Carlos Slim) têm a mesma quantidade de dinheiro que 3,8 bilhões das pessoas mais pobres do planeta. Exige-se que se lave as mãos para combater a possibilidade de contágio, mas no mundo, 2,1 bilhões de pessoas não têm acesso a um abastecimento de água potável.

A destruição ambiental capitalista também é um fator favorável a novas doenças infecciosas. Até a própria ONU, sendo um organismo imperialista, fez o alerta *. As ações das multinacionais contribuem para o envenenamento das águas por resíduos industriais e mega-mineração a céu aberto. A selva e as florestas são transformadas em desertos e as espécies vegetais e animais são eliminadas. Este é o abismo para onde o capitalismo nos leva. Nunca como agora se colocou na ordem do dia a disjuntiva  histórica de “Socialismo ou da Barbárie”.

O coronavírus também colocou em evidência, por exemplo, a debilidade da China capitalista. A ditadura do Partido Comunista da China (PCCH) censurou e reprimiu o médico que fez o primeiro alerta no final de dezembro de 2019. Esse atraso de meses facilitou o agravamento da epidemia na China e no mundo.

Escancara-se o desastre da saúde que existe tanto nos países imperialistas quanto nos países semi-coloniais. Os dados da Itália mostram a gravidade da pandemia e que em 10 anos os diferentes governos capitalistas arrebentaram a saúde pública, cortando em 37 bilhões de euros o orçamento da saúde. Isto se repete em todo o mundo. Em todos os países, o sistema público de saúde já estava em colapso antes do início da pandemia. O negócio privado de saúde foi favorecido. Hoje se vêem as consequências. A imprensa européia denuncia, por exemplo, que um exame de coronavírus no estado espanhol, em clínicas particulares, custa entre 300 e 800 euros. Nos Estados Unidos, se denunciou que ele custa entre US $ 3.000 ou US $ 4.000 na rede privada, em um país que quase não tem saúde pública estadual. Obama instalou um sistema muito precário que Trump tentou desmontar. Nos países semi-coloniais, isto é muito pior.

Que a crise do coronavírus seja paga pelos capitalistas

Dada a gravidade da pandemia, os governos capitalistas não garantem uma resposta adequada para detê-la e salvar milhões de pessoas. Multinacionais como (Exxon Mobil, Facebook, Amazon, Wal Mart, Cargill, Bayer-Monsanto, Microsoft, Ford, Toyota, Nike, Alibaba ou Johnson e Johnson) e os grandes grupos empresariais e financeiros (JP Morgan Chase, Bank ok America, Citigroup , HSBC ou Goldman Sachs) querem salvar seus lucros acima da saúde das massas. E os governos capitalistas endossam essa lógica da exploração do sistema. Quem melhor expressa essa política é o chefe do imperialismo, Donald Trump, que continua a minimizar a pandemia e declarou que a economia vem antes da saúde. E segue chamando para continuar produzindo e evitando quarentenas ou medidas que salvaguardem milhões. Governos ultra-reacionários como Jair Bolsonaro do Brasil fazem o mesmo. Boris Johnson, o primeiro-ministro do Reino Unido, que também negou a importância da pandemia, acabou sendo contaminado pelo vírus.

Enquanto isso, os Estados Unidos e a União Européia concedem subsídios estatais ultra milionários para salvar os bancos, as multinacionais e evitar o colapso dos estados burgueses, em vez de despejar fundos extraordinários para a saúde, extraídos das grandes fortunas dos super milionários do mundo.

Com essa mesma lógica de colocar os interesses capitalistas à frente da vida e da segurança da classe trabalhadora e dos setores populares, as fábricas e os locais de trabalho são mantidos abertos, e não apenas as que fornecem materiais de primeira necessidade. Tampouco se decretam medidas de segurança obrigatórias para trabalhadores/trabalhadoras que precisam estar em empregos essenciais. É esse desprezo à vida operária – compartilhado pelo governo Conte na Itália, Sánchez-Iglesias no estado espanhol e outros governos – que provocou uma forte resposta na forma de greves no norte da Itália que obrigou finalmente a interromper a produção não essencial. Outras greves e protestos parciais são realizados com objetivos semelhantes, como os panelaços, os “balconazos” no estado espanhol, França, Brasil, Colômbia, Chile ou Argentina.

A explosão da crise dos coronavírus, que paralisou a atividade econômica, é o palito de fósforo que acendeu o barril de pólvora da crise já existente de estagnação e recuo da economia capitalista aberta em 2007. O coronavírus não é a causa da crise econômica capitalista, mas contribui para aprofundá-la. O FMI já havia dito que havia uma estagnação global, antes que se produzisse esse novo crack nas bolsas de valores e nos preços do petróleo. Tudo indica que haverá um antes e um depois do coronavírus, quer dizer, quando o coronavírus acabar, haverá uma grave crise social para o movimento de massas. As multinacionais, o imperialismo e seus governos vão querer cobrar a fatura da crise com novos planos de ajuste, saques e exploração das massas. A OIT já fala que 25 milhões de empregos podem ser perdidos. A crise do coronavírus e suas conseqüências deve ser pagas pelos capitalistas, pelos super-ricos, e não pelos povos do mundo.

Desde a UIT-QI, chamamos a lutar por um plano global de emergência operário e popular

Que se girem recursos urgentes para aumentar substancialmente os orçamentos de saúde para atender à emergência sanitária. Recursos para, entre outras medidas, expandir e melhorar as instalações de saneamento, aumentar o salário de todos os profissionais de saúde, fazer novas contratações, fornecer remédios gratuitos para todos e que tenha suprimentos sanitários e de limpeza para todos.

Que os fundos para a emergência da saúde venham de altos impostos progressivos sobre grupos os empresariais, do capital financeiro e que se deixe de pagar as dívidas externas.

Para um sistema nacional e estatal único de saúde, com consultas, tratamentos e medicamentos gratuitos pagos pelo estado e administrados por usuários, médicos, trabalhadores e profissionais do setor. Pela nacionalização da saúde privada, dos laboratórios de especialidades médicas e que passem a funcionar sob o controle dos e das profissionais de saúde e cientistas da saúde e da medicina.

Formação em todos os locais de trabalho de comitês de higiene e saneamento, com o poder de implementar a paralisação de tarefas em todas as atividades que não sejam essenciais ou que não possuem as medidas de segurança necessárias. Controle de preços de medicamentos e todos os produtos essenciais para evitar especulações.

Reorganização geral da produção de acordo com as necessidades da emergência de saúde, sob controle operário.

Não ao uso do coronavírus para medidas de militarização ou para restringir as liberdades e o direito de protestar. Defesa irrestrita das liberdades democráticas.

Proibição de demissões e suspensões de contrato. Distribuição das horas de trabalho disponíveis entre todos os trabalhadores com o mesmo salário. Não às reduções de salários. Implementação de seguro para desempregados, autônomos e milhões que trabalham sem contratos e direitos trabalhistas, os trabalhadores informais.

Para enfrentar a atual crise do coronavírus e o que virá após a pandemia, conclamamos à mais ampla unidade de ação das organizações operárias, populares, organizações juvenis, do movimento de mulheres, o movimento de defesa do meio ambiente, assim como a esquerda anticapitalista e socialista, para coordenar um movimento de luta internacional por um plano de emergência operário e popular na perspectiva de uma luta a fundo para acabar com esse sistema capitalista-imperialista e impor governos da classe trabalhadora e do povo.

Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI)

28 de março de 2020

 

* “O meio ambiente e a saúde humana estão intimamente ligados. Muitas das novas doenças infecciosas são o resultado de atividades que afetam a diversidade biológica. Modificações da paisagem (por meio da extração e uso dos recursos naturais, por exemplo) podem facilitar o surgimento de doenças nas espécies silvestres, nos animais domésticos, nas plantas e pessoas”. (” Perspectivas do Meio Ambiente Mundial “, relatório de 250 cientistas encomendados pela ONU e concluído no início de 2019.

www.uit-ci.org

 

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