ARGENTINA | Dívida pública e coronavírus

Por Juan Carlos Giordano – Izquierda Socialista / FIT Unidad

O governo continua com seu plano de pagamento da Dívida Pública. Ele diz que faria uma oferta em 30 de março para renegociar e pagar 70 bilhões de dólares a um grupo de credores, denominados bonistas. Além dessa quantia sideral, o governo também pagará quase 50 bilhões de dólares ao FMI. Fala-se em adiamentos de vencimentos e uma redução, mas com esta política a dívida será paga ao custo de mais ajuste.

A Izquierda Socialista afirma que essa dívida ilegítima não deve ser paga. Muito mais agora diante da terrível crise social do coronavírus. Como é possível privilegiar o pagamento de uma dívida parasitária, em vez de destinar esses milhões de dólares para combater a pandemia?

O governo de Alberto Fernández pagou cerca de 3,5 bilhões de dólares em dívidas desde que assumiu o cargo. Esse dinheiro poderia ser usado para nomear os 2.500 profissionais necessários para os hospitais públicos da província de Buenos Aires, que o sindicato Cicop (Centro Internacional para a Conservação do Patrimônio) reivindica, e não a migalha de 20 milhões que foram destinados para Saúde e no Instituto Malbrán.

Sempre nos dizem que a Argentina pode sofrer tremendas consequências se deixar de pagar. Temos respondido uma e outra vez que esta é uma campanha realizada pelos banqueiros, precisamente porque seriam eles que perderiam se a Argentina tomasse essa medida soberana. Nós da esquerda, temos pregado o não pagamento dessa dívida. O Líbano acaba de suspender os pagamentos. O notório é que, em tempos de crise e diante de uma dívida sideral, outras vozes compartilham nossa posição.

Em 22 de março, uma nota foi publicada sob o título: O que aconteceria se a Argentina deixasse de pagar sua dívida? Que foi assinado por Julián Zícari, economista e doutor em ciências sociais – BA / UNDAV / Conicet (Suplemento econômico Cash do Jornal Página 12, 22/03/2020). Ali, o autor destaca: “Um nutrido grupo de porta-vozes dos credores assusta a população se é declarado o não cumprimento de uma cláusula de um contrato de empréstimo por parte do devedor, comumente conhecido como Default. Eles ameaçam que uma profunda crise econômica seria desatada. Na realidade, as crises nos últimos 40 anos, desde a ditadura até os dias atuais, eclodiram como consequência do pagamento da dívida pública, mas não por deixar de pagá-la “. E logo acrescenta: “Quem se preocupa no caso de não receber o pagamento por default (bancos, capital concentrado, especuladores, fundos de investimento) são aqueles que buscam assustar a população […]”

O mais próximo de um argumento a respeito a deixar de pagar a dívida é dizer que nosso país “cairia fora do mundo”, sem dar maiores detalhes ou explicar o que isso significa. Outras vezes, eles invocam que a pobreza pode aumentar ou que o país pode sofrer uma crise terrível por deixar de pagar.” O autor continua: “A crise da dívida de 1982, a hiperinflação de 1989, o fim da conversibilidade em 2001 e a recente crise do Macri tiveram como epicentro o pagamento da dívida. As desvalorizações, corridas e posteriores disparadas da inflação e da pobreza, com suas respectivas perdas salariais, responderam em todos os casos a seguir com os pagamentos, em vez de interrompê-los. A situação, então, está muito longe de ser o inferno tão temido que muitos anunciam.

”Em outra parte da matéria, o economista Zícari aponta: “Os benefícios de deixar de pagar a dívida podem ser muitos. O mais palpável seria que a grande quantidade de recursos que o Estado utiliza para lidar com a questão da dívida poderia se voltar para outras prioridades, como reativar a economia, distribuir renda, aumentar os orçamentos em saúde, educação, aposentadoria ou obras públicas.” E conclui: “Somente evitando o dogmatismo cego para garantir os pagamentos com a dívida, a Argentina pode recuperar graus de autonomia e, assim, pensar em um destino soberano e nacional”.

Esses argumentos reforçam o que temos dito há tempo de Izquierda Socialista: a Argentina deve deixar de pagar imediatamente essa dívida mafiosa e transferir esses fundos na emergência para hospitais e a Saúde Pública, para que a crise seja paga pelos agiotas internacionais e o FMI, mas não pelas pessoas do povo trabalhador.

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