ARGENTINA | Os grandes empresários se tornaram “estatistas”?

Escreve: José Castillo, militante do Izquierda Socialista, seção Argentina da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI). Traduzido por: Caio Sepúlveda

Economistas do establishment e grandes empresários vem insistindo que o Estado deve “intervir” cada vez mais na economia a seu favor, pagando salários, não cobrando-lhes impostos e blindando-lhes com vários tipos de subsídios.

Normalmente, os grandes empresários tendem a se apresentar como “a favor” da iniciativa privada e contra qualquer intervenção do Estado na economia. Seus amigos economistas e jornalistas ​​insistem que: o Estado seria “ineficiente”, “dificulta o investimento privado”, as empresas públicas devem ser privatizadas, os preços não precisam ser controlados e um longo etc. Tudo, de acordo com seu discurso, deve ser deixado para o “jogo livre do mercado”.

Na realidade, isso nunca é assim. Sabemos bem que, quando é conveniente para eles, exigem subsídios, como fazem as empresas de serviço público privatizadas. Pedem ao Estado que lhes garantam o preço do barril de petróleo, quando cai abaixo do preço que lhes é conveniente ou “vivem” diretamente de contratos de obras públicas. Os bancos obtêm lucros máximos comprando títulos do Banco Central. Sem mencionar quando o “Estado” que eles fazem intervir a seu favor é o próprio Ministério do Trabalho, decidindo em favor dos patrões nos conflitos trabalhistas ou, diretamente, o próprio aparato repressivo, que reprime as lutas.

Mas esses empresários até ontem “liberais”, hoje aparecem pedindo ajuda do Estado. É assim que ouvimos economistas como Gabriel Rubinstein afirmando, sem vergonha, que “o Estado deveria pagar os salários de empresas privadas”. Ele insiste que isso nem deve ser tomado como um empréstimo: “as empresas não precisam sair disso endividadas”. Ele acrescenta que também não deveria taxá-las. Posições semelhantes também foram ouvidas por outro economista liberal: Carlos Melconian.

Não são opiniões isoladas. É por isso que os empresários têm feito lobby. E, digamos com todas as letras, uma boa parte já foi alcançada: o governo Fernández já está pagando uma parte muito importante dos salários privados de março e quase todas as empresas estão isentas do pagamento de contribuições dos empregadores (com o consequente subfinanciamento fundos de pensão). Agora eles buscam mais, dizendo que “não poderão pagar o salário de abril”.

Ao mesmo tempo, esses mesmos economistas se opõem “horrorizados” à imposição de um imposto sobre as maiores fortunas ou lucros das empresas: “o investimento futuro seria bloqueado”, dizem descaradamente. Eles são contra colocar um limite à sua “liberdade de suspender contratos e demitir”. Da mesma forma que alertam que a dívida externa deve continuar a ser paga e são contra, ou violam diretamente, o controle de preços.

Ou seja, para os empresários e seus amigos, se o governo intervém em favor dos patrões, é bom; Se defender os trabalhadores, os consumidores ou qualquer setor popular, está “bloqueando o jogo livre do mercado”. Eles querem todo o dinheiro do Estado à sua disposição para garantir a continuidade de seus lucros. Para nós socialistas, é exatamente o oposto: exigimos e tentamos arrancar dos governos e, em última instância, do Estado “projetado” para estar sempre ao serviço dos patrões, tudo o que podemos para os trabalhadores. É por isso que exigimos, sim, que o Estado “intervenha”: parando de pagar a dívida externa, cobrando um imposto sobre as grandes fortunas pessoais e sobre os lucros das grandes empresas. Colocando todo esse dinheiro em um fundo de emergência para resolver as necessidades mais urgentes da pandemia.

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