ARGENTINA | Não ao arrocho salarial

Por: Claudio Funes, publicado em El Socialista N° 456. 22 de abril de 2020. Traduzido por: Pablo Andrada e Ivana Furtado


A patronal aposta, em todos os setores, em tirar proveito dessa crise para forçar o arrocho salarial. Empresas que pagam salários “parcelados”, outras que pagam 70 ou até 50% dos salários, ou que se aproveitam como desculpa os itens de presentes, comissões ou “prêmios” para reduzir o que realmente é pago.

No geral, as patronais pretendem avançar com a proposta de uma redução salarial global de 30%. Sem mencionar que eles não estão dispostos a cumprir as cláusulas de gatilho pendentes, muito menos iniciar a data-base de 2020. “Temos avaliado que não iniciaremos a data-base até dezembro”, afirmam fontes do próprio Ministério do Trabalho. Os empresários contam com a cumplicidade da burocracia sindical das categorias mais importantes, que concordam com o arrocho.

Na segunda-feira, 20/04, o governo decidiu pagar 50% dos salários do setor privado. Este é o chamado Programa de Assistência de Emergência para Trabalho e Produção (ATP). Trata-se de um subsídio fenomenal para todas as patronais. De fato, o dinheiro total que o governo tem colocado à disposição até agora para a pandemia (aproximadamente 800 bilhões de pesos) mais da metade são subsídios para empresários.

Será que, pelo menos, com esse dinheiro que o governo está dando para a patronal, os empresários vão pagar 100% dos salários? Nem mesmo assim! Novamente, com a cumplicidade da cúpula da burocracia sindical, propõe-se “renegociar” o valor do arrocho salarial, mas sempre aceitando a proposta patronal de que a crise deve ser paga pelos trabalhadores. O próprio programa ATP deixa em aberto a opção de que os acordos entre os empresários e direções sindicais possam endossar os cortes salariais. Tudo terminará acontecendo do mesmo jeito que com o decreto de suspensões e demissões.

Assim, as burocracias dos sindicatos de petróleo, mecânica, mercantil, metalúrgica e outras negociam com os empresários valores de redução salarial, além de suspensões. Guillermo Pereyra, o secretário-geral do Sindicato dos Petroleiros Privados das províncias de Río Negro, Neuquén e La Pampa, declarou que assinará um acordo que contempla suspensões para cerca de 20 mil trabalhadores, que receberão em média 50% de seus salários habituais.

O secretário-geral do Smata (Sindicato dos Mecânicos e Afins do Transporte Automotivo), Ricardo Pignanelli, já havia concordado com as montadoras as suspensões com pagamento de 75% do salário habitual. Agora, com o estado pagando 50% dos salários, ele diz que o valor deve ser rediscutido, mas insiste que “estamos enfrentando uma situação delicada e os salários estão caindo”, antecipando o que está por vir.

Armando Cavalieri, secretário-geral da Federação do Comércio (Faecys), que reúne 1,2 milhão de trabalhadores, também está em plena negociação com propostas de arrocho salarial. Supermercados que sempre remarcam os preços, como Carrefour, Coto, Jumbo e Walmart entre outros, agradecem.

Como resultado da revolta da base que está resistindo à pobreza, na UOM (União Operária Metalúrgica) há incerteza quanto à continuidade das negociações para reduzir os salários. Tudo após a condução do secretário-geral do sindicato, Antonio Caló, já ter acertado uma redução geral de 30% do salário, que precisou logo reverter. A empresa de laticínio Verónica, que integra um dos setores considerados essenciais e que continua produzindo com total normalidade, é mais uma expressão da voracidade patronal. Ela comunicou aos trabalhadores que o salário de março será pago em quatro parcelas. Um verdadeiro abuso!

Se acrescentarmos as patronais das cadeias de fast-food, o quadro estará completo. Assim que a quarentena começou, eles tentaram tirar vantagem, reduzindo os salários dos 25 mil funcionários precarizados que o setor ocupa. Algo que seus trabalhadores foram capazes de reverter.

A burocracia sindical continua seu descarado apoio à patronal deixando-a fazer isso. Em plena pandemia, demonstra seu desprezo pelo povo trabalhador e o abandona ao seu destino. É por isso que lutamos, junto aos novos líderes que vão surgindo, por um modelo sindical combativo e democrático, para tirar a antiga burocracia sindical. E, neste momento, estamos lutando contra as empresas e a burocracia para que nenhum arrocho salarial seja aplicado, que sejam pagos 100% dos salários e dentro do prazo.

Que a crise seja paga pelos capitalistas, não pelos trabalhadores!

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