ARGENTINA | Clínicas privadas: estatizá-las para enfrentar a pandemia

Escrito por: Reynaldo Saccone, ex-presidente da Cicop. Tradudido por: Pablo Andrada e Lucas Schlabendorff

“Aos profissionais da saúde não nos contagiam os pacientes, nos contagiam os outros. Estivemos três dias discutindo com a patronal o isolamento de uma maca que transferiu duas vezes um paciente com Covid e finalmente deu positivo. Enquanto não a isolamos, essa pessoa pode ter contagiado talvez três pessoas a mais”, disseram delegados dos trabalhadores da saúde (ATSA). Ao menos trinta e quatro empregados do Sanatório da Providência, do bairro Balvanera em Buenos Aires, deram positiva e se espera ainda o resultado de mais testes. Entre eles médicos, enfermeiros, camareiros e pessoal da administração do centro de saúde. Só quatro deles estão internados e 70% permanece assintomático.

Os trabalhadores afirmam que a empresa proprietária da clínica não respeito os protocolos de segurança diante de casos suspeitos, nem entre os pacientes, nem entre os trabalhadores, que deveriam se apresentar para trabalhar de qualquer forma. Até chegaram a negar o atendimento no plantão para aqueles que acusavam sintomas compatíveis com o vírus. “Nos diziam que era por causa da vacina da gripo que nos aplicaram, mas não era isso. Há pacientes com coronavírus e eles o negam”. A clínica tampouco proveu EPIs para todos os trabalhadores, desrespeitando os protocolos.

No mesmo sentido denunciou semana passada, em uma carta aberta à comunidade, o médico de Córdoba, portador saudável da Covid-19, que supostamente introduziu o vírus involuntariamente no instituto geriátrico em que trabalhava. “No lar de idosos não havia equipamentos de proteção, não havia álcool em gel e se secavam as mãos em uma toalha compartilhada ou às vezes só colocavam um rolo de papel por dia para secar as mãos. Eles não prepararam adequadamente o pessoal. As zonas de isolamento e circulação não foram definidas. Eles não restringiram o tempo de acesso às visitas, quando deveria ter sido feito anteriormente”.

A renda do capital é o objetivo do setor privado na saúde

No sistema privado, tanto clínicas como casas de repouso são empresas capitalistas, e como tal, seu objetivo principal é a renda do capital. Isso significa baixar salários, aumentar a produtividade dos empregados e eliminar os gastos improdutivos como, por exemplo, os EPIs. Isso é o que aconteceu nesses estabelecimentos que citamos como exemplo. Também acontece no Hospital Italiano ou no Sanatório Guemes. A ganância da patronal da saúde é tal que, em plena pandemia, a confederação que os agrupa pede subsídios do governo para “enfrentar os gastos”, silenciando sobre o fato de que as clínicas privadas devem 10.000 milhões de pesos à AFIP, sem contar os juros.

A indústria da saúde privada representa a terceira parte do gasto total em saúde do país, equivalente a 3% do PIB, mais que o 2,75% que corresponde ao gasto total do Estado em saúde, somando governo federal, províncias e municípios. Mas, enquanto o setor público atende com essa porção do produto nacional à 40% da população, o privado gasta um pouco mais só para atender à 8% da população.

Estatização de todo o sistema de saúde!

Essa importante massa de recursos da saúde deve ser posta à serviço de todo o povo e não só de uma minoria. O governo deve nacionalizar todas as instalações privadas, sanatórios e laboratórios e coloca-los para funcionar sob controle de seus trabalhadores. O mesmo tratamento que no setor privado deve ser dado para todas as obras sociais, o ninho de corrupção da burocracia sindical. A produção e distribuição de insumos, testes, reagentes, medicamentos, vacinas e todo outro elemento necessário para combater a pandemia deve passar para as mãos do Estado, sob controle de seus trabalhadores. Também é preciso suspender a vigência das patentes nacionais e internacionais que impeçam a produção desses insumos. Esse enorme fluxo de recursos materiais e humanos geridos pelo Estado, sob controle de seus trabalhadores, permitirá realizar ações que hoje parecem impossíveis, como a garantia de testes para todos os trabalhadores da saúde e aos demais que estiverem expostos ao contato com o público e, ao mesmo tempo, elaborar e prover os insumos e medicamentos necessários para enfrentar a pandemia.

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