ARGENTINA| Alejandro Olmos: “Refinanciar a dívida é continuar pelo caminho da decadência”.

Escreve: José Castillo, economista e militante do Izquierda Socialista, seção argentina da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI). Traduzido por: Caio Sepúlveda e Ivana Furtado

Nós nunca tivemos confiança em que o governo “ia priorizar os interesses populares antes dos credores”. Desde o ano passado, em plena campanha eleitoral, explicamos que sem deixar de pagar a dívida e romper o acordo com o FMI, não havia nenhuma possibilidade de começar a resolver as necessidades populares.

Mas sim, está certo que muitos intelectuais nacionais e estrangeiros viram com bons olhos os distintos discursos do governo sobre “não pagar com a fome do povo”. Claro que uma coisa é o que se diz “para a plateia” e outra é a realidade. Agora que conhecemos os detalhes da renegociação em curso com os credores abutres, existem intelectuais honestos que declaram que, assim, somente se terminará favorecendo os credores. 

Há poucas semanas, escutamos as advertências de Eric Toussaint, porta voz da CADTM – rede internacional que advoga pela anulação da dívida do Terceiro Mundo -, que fez uma extensa declaração protestando porque vários meios de comunicação difundiram que ele estava apoiando a decisão tomada pelo governo argentino. Toussaint apontou: “É necessário declarar a suspensão imediata do pagamento de capital e juros  de todas as dívidas soberanas. No entanto, o governo de Alberto Fernández não cumpriu com essa ação. Portanto, afirmar como fazem alguns meios de comunicação, que os signatários apoiam a estratégia de negociação do governo é instrumentalizar uma convocatória, com o objetivo de sustentar o governo. E é inaceitável”.

Alejandro Olmos, com uma extensa trajetória de denunciar as terríveis consequências de submissão da nossa dívida externa, também disse com todas as letras: “Refinanciar a dívida é continuar pelo caminho da decadência”.

Além desses argumentos de autoridade que estamos citando, toda a história recente nos endossa. Não é a primeira vez que a dívida “se reestrutura” com a desculpa de que, a partir desse momento, o problema está solucionado. A primeira troca de dívida foi feita por Menem, nos anos 90, entregando o patrimônio nacional em troca de, supostamente, abaixar o endividamento. Já conhecemos o final: ficamos sem ferrovias, sem telefonia, sem gás nem petróleo, mas a dívida seguiu estando presente, crescendo e nos levando ao abismo.

Logo teve outra negociação, em junho de 2001, chamada de “mega-troca”, realizada por Domingo Cavallo, ministro do então presidente Fernando De la Rúa. Tudo explodiu em poucos meses. E, finalmente, tivemos as trocas kirchneristas de 2005 e 2010. Ainda está fresco na memória que se dizia que havíamos nos “desendividado”. Mentira. Os Kirchner assumiram devendo 190 bilhões de dólares, pagaram ao longo de seu mandato mais de 200 bilhões e se foram deixando uma dívida de 240 bilhões. Por sua vez, depois veio Macri e levou a bola de neve a 400 bilhões. 

Em síntese, nem essa nem nenhuma “renegociação” resolverá o que não é nada mais que um engodo vulgar. E os engodos não se pagam. Essa é a única conclusão possível a respeito dessa dívida que, nunca nos esqueçamos, é a herança viva que vem desde a ditadura genocida de 76.

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