CHILE | Quarentena de Piñera: tardia e sem garantias para as famílias trabalhadoras

por Movimento Socialista dos Trabalhadores
seção chilena da UIT-QI
Tradução Lucas Schlabendorff

Homem caminhando na rua de Santiago, no Chile | Foto: AFP / MARTIN BERNETTI

A curva de contágios segue subindo no Chile, muito mais do que quiseram nos fazer crer Piñera e o ministro da Saúde Jaime Mañalich. No dia 13 de maio chegamos ao número recorde de 2.660 infectados em um dia, somando-se aos 34.331 casos confirmados. Se os números são catastróficos, devemos acrescentar ainda que o próprio governo reconhece que estamos entrando nas semanas mais críticas do contágio. Como era de se esperar, o colapso do sistema de saúde começa a se apresentar.

Essa situação podia ser evitada?

Definitivamente sim. A quarentena total do país é uma medida que foi aplicada por muitos governos do mundo. Itália, Espanha e outros dos países mais afeitados fizeram anúncios públicos sobre o erro de não ter aplicado essa medida a tempo. A Organização Mundial da Saúde a sugeriu em diversas oportunidades, e no Chile o Colegio Médico e a comunidade científica vem pedindo por isso há semanas.

Ministro da Saúde do Chile Mañalich e o presidente Sebástian Piñera

Contrariando todas essas recomendações, Piñera e Mañalich atuaram diretamente no sentido contrário. Se negaram durante mais de dois meses a aplicar a quarentena total, fazendo apenas quarentenas seletivas em algumas comunas, e agora limitando apenas à Região Metropolitana. Foram ainda mais longe, orientando que as pessoas voltassem para as ruas com seus anúncios sobre o “retorno seguro à normalidade”.

O Ministro da Educação mudou, uma e outra vez, a data de início das aulas. Ele tem sido o maior defensor de que os estudantes e professores voltem às aulas. Somente a negativa do Colégio de Professores e estudantes evitou que milhões de crianças e adolescentes se aglomerassem nas salas de aula. De sua parte, o próprio ministro da saúde insistia que era possível ir retomando a normalidade.

A subsecretária de saúde, Paula Daza, orientou que se retomassem as reuniões sociais como “tomar um café com os amigos”. Mas sem dúvida, foi o próprio Piñera o principal agitador da ideia de que o país não podia parar e que era necessário reabrir o comércio e locais de trabalho que estavam parados pela pandemia. O presidente tem sido o principal inimigo da quarentena total, que agora em desespero é obrigado a aplicar em parte importante da Região Metropolitana… mas tarde, como sempre.

Preferem salvar suas fortunas ao invés de salvar vidas

Por que era tão importante a quarentena total como medida preventiva? Porque não temos ventiladores mecânicos, nem macas, nem funcionários da saúde, nem os insumos para salvar os pacientes de casos mais graves caso o número de contágios siga subindo. O colapso do sistema de saúde foi anunciado, advertido e explicado pelos próprios especialistas.

Negar a quarentena total para prevenir essa situação foi uma política criminosa. Como Bolsonaro e Trump, Piñera prefere que morram pessoas antes que ele e seus sócios das famílias mais ricas do país percam parte de suas fortunas. As mortes e os sofrimentos são responsabilidade total desse governo.

Inclusive, foram mais longe. Quase 3 milhões de trabalhadores e trabalhadoras no país vivem de trabalho informal. Com isso, milhões de famílias. Sem renda, nem seguro, nem ajuda, essas pessoas se viram obrigadas a buscar o sustento ou viver o desabastecimento mais cruel em suas famílias, como a escassez de alimentos. Até o momento não houve nenhuma ajuda para esse setor, e a ajuda que recém estão aprovando com apoio da oposição é uma miséria de 65 mil pesos (equivalente à 460 reais) por pessoa por um mês, baixando esse valor para o segundo e o terceiro.

Sem falar da situação das trabalhadoras e trabalhadores com contrato. A ministra do trabalho declarou que 500 mil tiveram seus trabalhos suspensos, e foram obrigados a usar seu próprio seguro-desemprego (que nem sequer dá pra sobreviver). A mesma ministra ainda disse que existem 1.100.000 desocupados e desempregados nesse momento, mas que os números vão subir 18% do total da classe trabalhadora chilena. Enquanto isso, o grupo econômico Paullmann, dono do Cencosud, repartiu entre seus acionistas uma soma multimilionária de lucros.

Exigimos quarentena sem fome em todo o país!

– Que todas as unidades de saúde, tanto privadas como estatais, passem imediatamente ao controle estatal, mas com administração dos sindicatos da saúde e organizações de usuários e usuárias.

– Corte imediato dos gastos com as Forças Armadas e Carabineiros, assim como os gastos com deputadas e deputados, senadores e senadoras, ministros e ministras, para investir no sistema público de saúde.

– Imposto imediato das grandes fortunas nacionais, e das multinacionais que saqueiam o Chile, para com esses recursos investir no sistema de saúde e garantir salários e pensões dignas.

– Proibição das demissões independente de qualquer hipótese, enquanto durar a pandemia e a crise econômica.

– Obrigação de que as empresas paguem os salários integralmente. As pequenas e médias empresas que não possam pagar, devem receber um subsídio do Estado para garantir o pagamento dos salários.

– Renda básica imediata, igual ao real custo de vida, para todas as famílias de trabalhadores e trabalhadoras informais, desempregados, aposentados e aposentadas.

– Fora os militares das ruas: basta de disfarçar a repressão.

– Liberdade imediata para as presas e os presos políticos de Piñera.

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