46 anos do Massacre de Pacheco na Argentina

por Izquierda Socialista
Seção da UIT-QI* na Argentina 
Tradução Lucas Schlabendorff

10 minutos de leitura

Se completam 46 anos do Massacre de Pacheco, um duro golpe contra a militância do Partido Socialista dos Trabalhadores (PST, antecessor do Izquierda Socialista) e a organização operária e sindical da zona norte da Grande Buenos Aires. No dia 29 de maio de 1974 uma quadrilha mista da fascista Triple A (Aliança Anticomunista Argentina) e da burocracia da União Operária Metalúrgica atacou com tiros a sede que o PST tinha na cidade de Pacheco. À meia-noite, depois de um apagão da energia em todo o quarteirão e após tiros de metralhadora na frente da sede, um grupo identificado com jaquetas de couro e braçadeiras entrou atirando, destruindo o local e golpeando os presentes com espingardas. Seis companheiros foram sequestrados. Três companheiras foram liberadas a poucas quadras dali.

Oscar “Hijitus” Meza, de 26 anos, era membro da comissão interna do estaleiro Astarsa, em Tigre. Em 1973 fez parte da tomada da planta após a morte de um operário, conseguindo reduzir a jornada de trabalho de doze para sete horas. Antonio “Toni” Moses, de 24 anos, era operário metalúrgico da fábrica de autopeças Wobron, dirigida pela antiburocrática Lista Cinza. Mario “Tano” Zidda, de 22 anos, era dirigente estudantil da Escola Técnica nº 1 de Tigre e operário da fábrica têxtil Abea. Seus corpos apareceram crivados de balas em Pilar, um dia depois do sequestro.

O Massacre de Pacheco fez parte de um plano sistemático da reação fascista contra a vanguarda operária da zona norte, onde o PST tinha uma forte influência em uma franja muito grande do movimento operário industrial. Na UOM o trabalho da Lista Cinza do PST se destacava por dirigir ou ter influência em estabelecimentos industriais como Cormasa, Wobron, De Carlo, Corni, Otis e Texas Instruments, entre outros. O ataque ao PST e a seus jovens dirigentes gerou um repúdio dos trabalhadores da zona, que chegaram a paralisar suas fábricas em alguns casos. No velório de Meza, na sede dos Bombeiros de Tigre, compareceram mais de mil trabalhadores da Astarsa, Corni e Cormasa para envolver o caixão com uma bandeira vermelha. Na sede central do PST milhares acompanharam das ruas as palavras de despedida de Nahuel Moreno.

Julio Yessi, da Juventude Peronista da República Argentina (JPRA), homem próximo de Perón, Jorge Conti, genro de López Rega e subchefe da Imprensa da Casa do Governo até 1975, e Salvador Siciliano, valentão da Triple A, foram parte da operação e, graças ao testemunho das companheiras sobreviventes, foram julgados e condenados.

No aniversário de 46 anos do Massacre de Pacheco, como militantes revolucionários recordamos com dor aqueles que nos precederam no caminho da luta, e nos declaramos orgulhosos de continuar tremulando as mesmas bandeiras que levantou o PST durante os anos de chumbo da Triple A e depois durante a ditadura. Antonio, Mario e Oscar presentes!


46 anos do Massacre de Pacheco na Argentina
Texto com base na nota escrita por Martín Fú para a edição 425 do Jornal El Socialista

Discurso pelo Massacre de Pacheco

Em 29 de maio de 1974, à meia-noite, cerca de 20 fascistas armados invadiram atirando na sede do PST (Partido Socialista dos Trabalhadores) de Pacheco na Argentina e levaram seis militantes. Três deles – Oscar Dalmacio Meza, Mario Zidda e Antonio Moses – foram assassinados. Reproduzimos aqui o discurso de Nahuel Moreno (dirigente do PST), no dia seguinte, na sede central do PST na rua 24 de Novembro, no bairro Once, no velório e ato de repúdio ao Massacre de Pacheco.

“Não queremos a unidade de ação para acompanhar nosso cortejo, a queremos para esmagar o fascismo!”

Em nome da direção do nosso partido quero dar os nossos mais profundos pêsames aos familiares dos três companheiros caídos na luta. Dizer-lhes também que esses três companheiros seguirão vivendo não somente na memória do nosso partido: continuarão vivendo na memória de sua classe e de todos os companheiros lutadores anticapitalistas, anti-imperialistas e revolucionários do país. Eles permanecerão ao nosso lado apesar de ter desaparecido fisicamente.

Em segundo lugar, em nome do partido quero assinalar que esses três companheiros foram grandes, foram imensos, e não dizemos isso pela biografia pessoal desses três militantes. Não se trata de adotar uma atitude hipócrita, ao estilo dos elogios que a burguesia faz quando morrem suas figuras. Eles eram jovens: não possuíam uma extraordinária biografia, nem internacional e nem de nenhum tipo. Eram três modestos militantes. Mas justamente por isso eles eram ainda mais grandes. Eram grandes porque era grande a sua luta; eram grandes porque nosso partido é grande, eram grandes porque é grande sua ideologia!

Morreram pelo o que eram: socialistas, revolucionários e internacionalistas legítimos, e por tudo isso queremos reivindicá-los. Também queremos reivindicá-los como lutadores de toda a esquerda em seu conjunto, frente a um perigo que ameaça a todos nós: o fascismo e o golpe reacionário. Essa parte da personalidade dos companheiros que é um patrimônio comum, essa parte da biografia dos companheiros que os une – é nossa opinião – mais que Trelew, a aqueles fatos tão ou mais graves que os de Trelew: a famosa Operação Massacre de José León Suarez. E assim como aquele ataque qualificou a Libertadora, esse de hoje está qualificando este governo neolibertador, o do general Perón.

Em terceiro lugar, companheiros, quero agradecer de forma fraterna todos os partidos e organizações que prestaram sua solidariedade e especialmente a todos os partidos e organizações que se fizeram presentes aqui com sua mobilização. Nesse agradecimento sabemos distinguir com todo cuidado as tendências socialistas, as de nossos irmãos no objetivo final, e aquelas outras tendências que não coincidem com nosso objetivo final mas que, apesar disso, estão unidas conosco contra o monstro e o perigo fascistas. Com todo respeito lhes dizemos que deram um alto exemplo de unidade de ação aquelas correntes humanistas, democráticas ou liberais que, mesmo assim, se fizeram presentes aqui para saudar-nos e deixaram de lado as profundas diferenças ideológicas que possamos ter com elas. Esses dois fatos devem nos levar à reflexão. Há uma velha frase de um filósofo que diz: “Não riam, não chorem: compreendam”. Hoje em dia nós revolucionários temos que dizer: “Não choremos; compreendamos e lutemos”.

Esse é o momento também de fazer uma reflexão sobre a situação que se apresenta no país e de fazer um chamado em nome do Comitê Executivo do nosso partido. É evidente que há uma escalada fascista no país. Escalada fascista que não é um simples surto histérico, porque não se trata de uma escalada fascista de um movimento que está fora do governo, mas sim que surge a partir do próprio governo. Isso o demonstra um elemento categórico, reflitamos um pouco. Até agora não se descobriu um só atentado contra militantes de esquerda, nem a morte de um operário comunista, nem as torturas, nem a morte de Montoneros, nem de militantes da JP, nem de nossos mortos! Jamais! É uma ineficiência fantástica dessa polícia e de todos os serviços secretos do regime para descobrir os assassinos de militantes de esquerda. No entanto, existe uma eficiência surpreendente para descobrir, segundo dizem eles, os atentados que a esquerda faz. Isso tem como significado para nós que a partir do próprio governo se desenvolve o fascismo; o próprio governo alimenta esses setores fascistas que preparam um golpe branco. Há um silêncio cúmplice do governo em tudo isso.

Frente a esse perigo, frente à essa escalada que vem de muito tempo atrás, hoje estamos aqui gritando pela unidade de ação. A nosso partido o preocupa profundamente se essa unidade de ação é para acompanhar os cortejos ao cemitério ou se vai ser a unidade de ação nas ruas para derrotar e esmagar a besta fascista. Não queremos a unidade de ação para acompanhar nosso cortejo. A queremos para esmagar o fascismo e para fazer o desfile da vitória! Nós consideramos indispensável essa unidade de ação frente aos inimigos fascistas. Mas não a queremos para dentro de dez ou vinte anos. É verdade que o fascismo de Mussolini dominou durante vinte anos e que o de Hitler se estendeu durante dez; é verdade também que teve que ir libertá-los o exército de um país socialista. Mas nós queremos impedir que o fascismo chegue e queremos impedi-lo agora! Não queremos celebrar sua caída depois de vinte anos de terror e retrocesso!

É assim, companheiros, como podemos fazer a experiência. Os bandos fascistas têm atuado até o momento e vão seguir atuando. Não fazem diferenciação entre a JP, o PC ou o PST. Seu objetivo é tratar de quebrar todas as organizações. Chegou o momento de tirarmos uma conclusão muito importante que vem do Chile, que vem da experiência mundial. O fascismo não se derrota pela via das eleições! O fascismo não se derrota pela via das frentes! Lá está a experiência de Allende no Chile, com a grande frente de tipo eleitoral que caiu como se fosse água entre as mãos no primeiro ataque do fascismo. O fascismo tampouco se discute. Não é uma tendência política ou intelectual. O fascismo, companheiros, se destrói nas ruas, com os mesmos métodos que eles utilizam!

Se queremos honrar os mortos do PC, se queremos honrar os mortos da JP e os nossos mortos, nós temos também que fazer nossa reflexão. Aprendamos com o fascismo no Chile, aprendamos que nós temos que esmagar o fascismo antes que ele nos mate! Por isso a direção do nosso partido, como resolução de seu Comitê Executivo, convoca todas as tendências aqui presentes e também as que não estão, para na próxima quarta-feira às 19h, em nossa sede, começarmos a construir as brigadas ou piquetes antifascistas, operários e populares, que serão a ferramenta com a qual abateremos definitivamente os bandos fascistas no nosso país.


Discurso pelo Massacre de Pacheco
Traduzido do escrito em espanhol por Lucas Schlabendorff,
presente no site
www.nahuelmoreno.org com o título
“Discurso por la masacre de Pacheco”.

* UIT-QI é a Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional | http://uit-ci.org/

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