VENEZUELA | A Covid-19 avança e a fome e a crise se agravam

Editorial do nº 55 do jornal “A Voz dos Trabalhadores”, Partido Socialismo e Liberdade (PSL), seção venezuelana da UIT-QI
Tradução Lucas Schlabendorff


Os contágios pela Covid-19 crescem em todo o país. Os tempos da euforia do governo, colocando-se como exemplo a ser seguido, vão indo embora e dando lugar à preocupação.

Junho tem sido particularmente virulento. Foi o mês com mais casos, mais mortes e mais trabalhadores da saúde infectados.

O país já chega ao número de 6.537 pessoas infectadas e o lamentável número de 59 mortos. Há vários dias os contágios comunitários são maiores que os vindos do exterior. Acabou o argumento do governo dos casos “importados”, como pejorativamente chamava os migrantes ou viajantes que se contagiaram nos países vizinhos.

Quando o número de casos era baixo, o governo fazia autopromoção, fazia propaganda e criticava os governos dos outros países que lidaram com a pandemia de forma displicente. Agora, diante do aumento dos contágios, o governo opta por responsabilizar o povo. O resultado é que somos os culpados dos contágios. O governo nos chama de irresponsáveis e acusa-nos de não cumprir com as normas.

Mas a pandemia sanitária se junta à pandemia da fome e a crise brutal que nós venezuelanos e venezuelanas já vínhamos sofrendo há anos.

Na Venezuela, a fome está sendo “nivelada”. Milhões de famílias não contam com os recursos necessários para se alimentarem adequadamente. O governo utiliza recursos repressivos para impor a quarentena, nos diz para ficarmos em casa, mas não garante as mínimas condições para isso. Os trabalhadores e as trabalhadoras, e o conjunto do povo, fizeram um grande esforço tomando as precauções necessárias para enfrentar o coronavírus, mas é pouco o que o governo de Maduro tem feito para que possamos ficar em casa com comida suficiente e serviços de qualidade.

Depois de algumas medidas insuficientes anunciadas no início do isolamento social, o governo não implementou nenhum plano de ações importantes no contexto da quarentena.

Os que temos um trabalho mais ou menos estável seguimos com salários de fome. Enquanto que milhões de pessoas que sobrevivem como camelôs, vendedores ambulantes, trabalham informalmente ou têm um pequeno comércio, devem sair para trabalhar e assim levar comida para suas famílias, apesar do risco de contágio.

Todos sabemos que na Venezuela é necessário sair para comprar quase todos os dias, ou quando se tem algo de dinheiro, já que ninguém ganha o suficiente para realizar um rancho e assim reduzir as saídas. Sabemos que mais da metade da população economicamente ativa não tem trabalho fixo, e precisa se virar para sobreviver.

Mas a tudo isso se acrescenta que os serviços estão precários. Nos dizem que devemos lavar as mãos com frequência, mas não há água, e sabão ou gel antibacteriano custam o olho da cara. Não há gasolina, não há gás, e os apagões são frequentes em boa parte do país. O transporte é um desastre. Enquanto o povo, obrigado a sair pela necessidade, deve viajar em ônibus ou vans lotadas e em péssimo estado, sem as mínimas condições de biossegurança, os empresários e funcionários do governo andam em seus carros.

O povo venezuelano, sem nenhuma dúvida, já demonstrou, depois de vários meses difíceis, que está disposto a cumprir com a quarentena, mas sem fome. Para que o isolamento social seja cumprido e se possa enfrentar o coronavírus, é necessário contar com os recursos necessários. Nesse sentido, é urgente que o governo aumente o salário, igualando ao preço da cesta básica, e que seja garantida uma renda emergencial de quarentena para os trabalhadores que estão por conta própria, pelo menos até o final do ano.

Para isso é necessário tomar algumas medidas de fundo. Impulsionar um Plano de Emergência para enfrentar a Covid-19 e a crise social. O mesmo deve ser sustentado pela criação de um Fundo Social, cujos recursos devem sair da aprovação urgente de um imposto especial sobre as grandes empresas, transnacionais e bancos. Junto com isso, a eliminação dos contratos das empresas mistas no setor petroleiro, confisco dos bens dos corruptos e o não pagamento da dívida externa. E com todos esses recursos impulsionar um plano de aquisição massiva de alimentos e medicamentos, e aquisição de insumos aos hospitais e centros de saúde.

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