MÉXICO | López Obrador apoia Donald Trump

Por Movimento ao Socialismo, seção mexicana da UIT-QI
Tradução Lucas Schlabendorff


Nas eleições gringas, Andrés Manuel López Obrador vota em Donald Trump

Com o objetivo de selar, como um de seus triunfos, o “novo” acordo comercial entre México, Estados Unidos e Canadá, e assim apresentá-lo em meio ao processo eleitoral em curso no principal país imperialista, Donald Trump convidou o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, para visitá-lo na Casa Branca e participar de um jantar de honra com um grupo de renomados empresários mexicanos e estadunidenses. López Obrador aceitou de muito bom grado.

O encontro ocorreu apenas algumas semanas depois dos Estados Unidos serem sacudidos por uma revolta popular que se estendeu por todo o país em repúdio à violência racista, depois do assassinato de George Floyd pelas mãos de um grupo de policiais brancos de Minneapolis. A resposta do presidente ultradireitista às incessantes mobilizações foi ameaçar com o uso do exército para conter os protestos de centenas de milhares, sobretudo jovens, e também da comunidade afro-americana, hispânica, e com uma grande participação de brancos.

Recentemente, Trump presumiu progresso na construção do muro na fronteira com o México, pois um contrato de mais de US$1,2 bilhões havia sido aprovado para uma empresa ligada a ele.

O “convite” de Trump para Lopez Obrador veio pouco mais de um ano depois de ele ameaçar com uma tarifa inicial de 5%, que poderia subir para 10, 15, e até 20%, sobre todos os produtos vendidos do México para os Estados Unidos, a menos que o governo mexicano atenda suas instruções para conter a migração da América Central, mantendo milhares de requerentes de asilo no México. López Obrador foi rápido em atender à instrução e, cedendo às ameaças, apresentou, através de seu ministro das Relações Exteriores, Marcelo Ebrard, um plano para converter a nascente Guarda Nacional na polícia de imigração que destacaria milhares de tropas no sul do México para impedir a passagem de migrantes centro-americanos em direção aos Estados Unidos em sua fuga da miséria, insegurança e repressão de seus governos, fantoches do imperialismo norte-americano.

López Obrador descreveu como amigo o presidente xenófobo, aquele que diariamente faz declarações e publicações em redes sociais evidenciando seu discurso de ódio contra migrantes e em particular contra os mexicanos; que subestimou o perigo da pandemia e com suas ações contribuiu para o fato de que centenas de milhares de estadunidenses estão expostos ao contágio e morrem, sobretudo pessoas afrodescendentes, hispânicas e brancas que vivem na pobreza. A mesma pessoa que tem sido obstinada em expulsar do país os jovens conhecidos como “dreamers” (sonhadores), filhos de migrantes mexicanos que puderam estudar e aspiram a se tornar estudantes universitários nos Estados Unidos, desejando um futuro mais promissor para si mesmos.

López Obrador foi à Casa Branca para fazer um discurso que embeleza o governante que deu continuidade à política de ingerência e golpes, em casos como Venezuela e Bolívia, e contribuiu para o massacre de centenas de milhares e o exílio de milhões na Síria, vítimas da brutalidade do regime de Bashar Al Assad. O mesmo homem que desprezou as medidas para enfrentar a crise climática e expressou sua simpatia aberta às correntes mais conservadoras e fascistas não apenas em seu país, mas no mundo, perseguindo o movimento antifascista, declarando-o terrorista.

Para completar, em sua mensagem conjunta na Casa Branca, diante da mídia mundial, mas sobretudo diante dos eleitores dos Estados Unidos, López Obrador assegurou que Trump “nunca procurou nos impor nada que pudesse violar nossa soberania”, e mais tarde, quase ao encerrar, disse “você não procurou nos tratar como uma colônia, mas pelo contrário, honrou nossa condição de nação independente”. Essas declarações são uma vergonha, logo depois da imposição de Trump que fez do México sua guarda migratória!

O mesmo acordo comercial que deu contexto à viagem do presidente mexicano significa o aprofundamento da dependência econômica e política do México diante da vontade do governo dos Estados Unidos e dos capitalistas desse país. Um exemplo dramático disso é a pressão exercida pelo governo e os capitalistas gringos, especialmente no setor automotivo, que, para retomar suas atividades produtivas, após a paralisação forçada pela pandemia do coronavírus, precisaram reabrir as fábricas que fazem parte de sua cadeia de suprimentos no México. Assim, desde meados de maio, enquanto o contágio e as mortes se aceleravam incontrolavelmente, o governo López Obrador declarou as indústrias automotiva, mineira e siderúrgica como essenciais para que pudessem reabrir, cedendo mais uma vez à vontade dos imperialistas.

O acordo, agora conhecido como TMEC, é a continuidade intensificada da política imposta pelo Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), que ao longo de 26 anos garantiu às empresas norte-americanas a possibilidade de se estabelecerem no México, pagando salários de miséria, fugindo dos acordos coletivos e se beneficiando da cumplicidade de representantes sindicais corruptos. É claro que as grandes empresas capitalistas mexicanas também se beneficiaram da possibilidade de comercializar suas mercadorias nos Estados Unidos, garantindo-se lucros fartos que também são gerados pela exploração da força de trabalho mexicana, que, mais uma vez, é a grande oferta de López Obrador para a renovação deste acordo.

Alguns dos mais poderosos capitalistas mexicanos foram convidados para a viagem e para um jantar oferecido por Trump. Carlos Slim, o multimilionário número um do México e um dos mais ricos do mundo; Ricardo Salinas Pliego, o segundo mais rico do México, e outros capitalistas da mídia e banqueiros mexicanos, sentaram-se na mesma mesa que os altos executivos da General Motors, Ford e Chrysler, entre outros representantes dos capitalistas gringos. Donald Trump caracterizou como o melhor acordo comercial já assinado pelos Estados Unidos; os capitalistas ficaram satisfeitos, pois neste tratado eles são os protagonistas. A classe trabalhadora não pode esperar nada de bom dessas celebrações.

A maioria do povo estadunidense, a classe trabalhadora imigrante, as mulheres desse país e também uma grande parte da juventude sabem muito bem quem Donald Trump realmente é, e podem agora compreender melhor que o presidente do México, que é descrito como progressista e até mesmo como “de esquerda”, na prática não tem nada a ver com isso e que, ao invés disso, como ele mesmo reconheceu, há muito mais coisas que o tornam semelhante ao ainda chefe do imperialismo mundial.

Agora é mais evidente que, tanto nos Estados Unidos, como no México, a classe trabalhadora, os povos originários, as chamadas minorias raciais, as mulheres e a juventude necessitamos construir nossa própria alternativa política e lutar contra o racismo, contra os capitalistas e sua voracidade, contra o imperialismo persistente e contra os falsos progressistas, contra os políticos que se mascaram como de esquerda ou populistas, mas não deixam de servir ao capital.

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