A crise capitalista e o debate sobre o papel da China

por Saúl Rocca


Na primeira mesa de debate sobre a “Crise mundial e rebelião no império” houve um importante intercâmbio sobre a situação mundial e a perspectiva colocada para o movimento operário e popular.

Pela Izquierda Socialista e pela UIT-QI falou o companheiro Miguel Sorans, que realizou a primeira intervenção da conferência. O seguiram os companheiros Néstor Pitrola pelo PO, Christian Castillo pelo PTS-FT e outros companheiros e companheiras.

Sorans salientou que se vive a pior crise do capitalismo em sua história, na qual se combina a crise da Covid-19 com um desastre social da classe trabalhadora e dos povos do mundo. “Estas duas pandemias unidas ao salto da crise ambiental, estão diante do dilema de socialismo ou catástrofe”, afirmou Sorans. O que se destaca é que se retomam as mobilizações, apesar do coronavírus, depois da grande onda de lutas de 2019, destacando que o ponto mais alto tem sido a rebelião antirracista dos Estados Unidos que impactou o mundo e debilitou Trump. Tudo isso abre a perspectiva de novas greves e novas rebeliões populares contra a tentativa de fazer com que a crise seja paga pelos trabalhadores e pelas trabalhadoras.

“A debilidade do imperialismo tem-se feito sentir em outros lugares do planeta e também se refletiu em Trump e o genocida Netanyahu não conseguirem avançar no 1º de julho com a anexação da Cisjordânia, outro triunfo do heroico povo palestino”, disse Sorans. “Trump, em sua crise e debilidade, e temeroso de perder as eleições de novembro, tem buscado retomar a suposta guerra econômica com a China. […] Isso significa que a crise poderia desviar até um confronto militar com os Estados Unidos e a China? A China é um inimigo irreconciliável dos Estados Unidos ou uma aliada estratégica? […] Nós da UIT-QI consideramos que são mais que escassas as possibilidades de um confronto militar. Para nós, se trata da conhecida concorrência entre duas potências capitalistas, são os típicos atritos interburgueses em meio a um colapso econômico que estão sofrendo. Na realidade, a China é uma grande aliada dos Estados Unidos e em um ponto chave que é a exploração de milhões de trabalhadores na China e em todo o mundo. Só um dado: na China há 70.000 multinacionais ianques e europeias. […] A China é governada por uma ditadura capitalista dirigida pelo Partido Comunista. […] Nós da UIT-QI consideramos que a ditadura chinesa não tem nada de progressiva. É parte dos falsos socialismos que os revolucionários devem combater”.

A polêmica sobre a China e as perspectivas

Essas definições deram lugar a um debate com os companheiros do PO e do PTS.

Néstor Pitrola questionou que já tenha sido completada a restauração capitalista na China. Por sua vez, tanto Pitrola como Castillo (PTS) contestaram a definição de Sorans, de que no central a China é aliada do imperialismo no ajuste contra a classe trabalhadora chinesa e mundial. Para Pitrola e Castillo o que vigora na situação mundial é o perigo de um avanço até um enfrentamento militar entre China e Estados Unidos. Com sua suposta hipótese de que o imperialismo norte-americano, na sua crise, quer parar o avanço capitalista da China. Castillo criticou Sorans e a UIT-QI, comparando a situação atual com a crise capitalista da década de 1930, prévia à Segunda Guerra Mundial.

Miguel Sorans assinalou sua discordância com essas definições do PO e do PTS sobre a localização da China, elucidando que a UIT-QI não nega a hipótese de possíveis choques ou ações militares. Mas o centro da discussão mundial não é esse, mas o crescimento dos confrontos sociais, como mostra a rebelião popular nos Estados Unidos.

Em seu encerramento, Sorans disse; “Há correntes, como aqui se expressaram, que consideram que ainda não se tenha restaurado o capitalismo na China. Nós acreditamos que desde os anos 1990 se restaurou, sim, e é um debate que temos que seguir. Mas é muito importante como vemos a dinâmica atual […] sem dúvidas, enfrentamentos armados podem acontecer, e que já existem. […] Vivemos a crise mais grave do capitalismo, e pode ocorrer qualquer coisa, porque o imperialismo e o capitalismo estão em colapso. […] Para elucidar ao companheiro Christian Castillo ou a qualquer um que possa ter dúvidas sobre nossa posição. Nós não descartamos que possa haver confrontos militares entre China e Estados Unidos, como também pode haver com a Coreia do Norte ou com o Irã. Mas acreditamos que o centro da situação vai ser a luta de classes […], a dinâmica é que vamos a grandes confrontos sociais, onde o capitalismo da ditadura da China, mas em especial dos Estados Unidos e de todo o imperialismo europeu vão enfrentar as massas. Neste momento na China há as mesmas greves contra as reduções salariais que vemos nos outros países. […] Não acreditamos que para os Estados Unidos o centro seja evitar o crescimento capitalista da China. Há quarenta anos que os Estados Unidos, com seus distintos governos, vêm favorecendo a implantação de multinacionais norte-americanas. Pode-se estudar, pode-se crer que estamos exagerando. Segundo os dados que existem, há mais de 70.000 multinacionais na China. […] As multinacionais têm explorado a classe trabalhadora chinesa com a cumplicidade da ditadura e ganham fortunas.”

“[…] Nós vemos uma perspectiva que já se está dando, se estão retomando as mobilizações. Todavia, não a nível de 2019. A perspectiva é de mais confrontos sociais e da possibilidade de novas rebeliões. Há correntes que duvidam que tenha havido revoluções nos últimos 40 anos. Os companheiros do PTS vêm escrevendo isso há tempos. Não é assim. Há revoluções, em que pese a falta de direção revolucionária. Por exemplo, em 2011 se deu a revolução árabe. As massas fizeram insurreições que derrubaram ditaduras de trinta ou quarenta anos. Revoluções que não avançaram até o poder operário porque não houve uma direção revolucionária, por causa da crise de direção; essas revoluções depois retrocederam. No Chile se abriu um processo revolucionário em outubro de 2019, com milhões nas ruas […] este é o terreno favorável para os trotskistas, para os revolucionários”.

Não se pronunciaram pela consigna “Abaixo a ditadura chinesa”

Esse primeiro debate levou Miguel Sorans a perguntar aos camaradas do PTS e do PO nessa quinta-feira (30/07) e que depois de três dias não foi respondido.

Sorans colocou que a UIT-QI levanta consignas como “Abaixo Piñera” ou “Fora Bolsonaro”, que também são levantadas pelo PTS e pelo PO. Agregando que a UIT-QI também levanta a consigna de “Abaixo a ditadura capitalista na China”. E solicitou que o PTS e o PO elucidassem se defendem ou não a consigna “Abaixo a ditadura na China”. Deixando de lado a consigna que propõe a UIT-QI, que agrega “capitalista” à ditadura. Pode-se duvidar se já se restaurou ou não o capitalismo, ou se alguma vez vá ocorrer uma guerra com os Estados Unidos, mas que é uma tremenda ditadura repressora e exploradora não há dúvidas. O que chama a atenção é que se finalizou a conferência e os dirigentes do PO e do PTS não responderam a essa pergunta. Com isso, dá toda a impressão de que estão contra essa consigna, algo que é totalmente equivocado.

Veja o informe e o fechamento de Sorans na mesa de debate “Crise mundial e rebelião no império”:

Vídeo A (https://www.youtube.com/watch?v=LEQQx5BIATw)
Vídeo B (https://www.youtube.com/watch?v=9IdYN7QB-pI)

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