A luta contra Ensino Remoto Emergencial nas universidades: um debate com os coletivos da oposição da UNE.

 

Caio Barros – coordenação Coletivo Vamos À Luta

Wanessa oliveira e Celso Cabral – DCE-UFPA (Oposição de Esquerda)


Desde o início da pandemia, com as aulas suspensas nas universidades, o MEC apresentou a portaria nº 544/2020 para ser aprovada nas IFES. Novos modelos de ensino são apresentados pelas reitorias: Ensino Remoto Emergencial (ERE), Ensino a Distância (EAD) ou Ensino Híbrido que, apesar de nomes diferentes, têm em comum a utilização dos meios virtuais para dar continuidade às atividades acadêmicas. E, infelizmente, os setores da oposição de esquerda têm aceitado e negociado o ERE com as reitorias.

Todos esses modelos de ensino são um ataque à formação de quase 1 milhão de discentes. Segundo dados do IBGE, 25% de brasileiros e brasileiras não possuem acesso à internet. Mesmo assim, 21 universidades já estão aplicando o Ensino Remoto de forma parcial ou total, contando com o apoio das direções estudantis como UNE e ANPG (UJS/JPT/Levante/PDT) e dos vários DCEs que dirigem.

Na UFC, com um interventor na Reitoria, o ERE foi aprovado sem debate com a comunidade acadêmica enquanto um levantamento da ADUFC apontou que 81,1% dos/as docentes são a favor da suspensão do calendário acadêmico durante a pandemia. Na UFF, foi aprovado para toda a universidade a partir de setembro, com o apoio do DCE. Na UFMG, o DCE (Correnteza/Afronte) não encaminharam as campanhas votadas pelos estudantes.

Qual deve ser papel do Movimento Estudantil?

É preciso realizar uma forte campanha nacional contra a aplicação do ERE e não ser coniventes com essa política. Infelizmente, parte da oposição de esquerda da UNE (Correnteza, Juntos, Afronte, Rua) também não têm batalhado pela rejeição ao projeto. A exemplo do que tem acontecido na UFPA, onde o ERE ainda não foi aprovado, o campo majoritário e parte da OE estão juntos e trabalham para colocar panos quentes sobre a indignação dos estudantes, que têm realizado assembleias nos cursos e votado rejeição total ao Ensino Remoto. Foi com surpresa que assistimos aos companheiros do Juntos deslegitimando a resolução da assembleia de Ciências Sociais contra o ERE e pela suspensão do calendário acadêmico, afirmando que aquela assembleia não podia responder por todo o curso, visto que não tinha todos os estudantes matriculados! A mesma assembleia elegeu a nova gestão do Centro Acadêmico, na qual o Juntos é maioria. Dois pesos e duas medidas! As/os camaradas do Afronte dizem ser preciso pensar sobre as atividades remotas porque os professores seguem recebendo seus salários, um argumento da direita.

Os companheiros da oposição se limitam a propor medidas de “redução de danos” dizendo ser necessário ter “responsabilidade”, ou defendendo um modelo “facultativo” e transferindo para cada estudante a decisão de aceitar ou não esse ataque. Defendem também a distribuição de chips e computadores, uma medida insuficiente e que desresponsabiliza as direções do movimento estudantil e as Reitorias. Na prática atuam pela aplicação do ERE. Na UFF, os companheiros do Correnteza, Rua, Afronte e Juntos se negaram a construir uma campanha contra o Ensino Remoto e defenderam uma proposta “alternativa” que mudava apenas a data do início das aulas.

A UJC construiu conosco um importante abaixo-assinado na UFF e uma campanha contra o Ensino Remoto, porém os companheiros se negaram a batalhar pela nacionalização da campanha.

Construir uma alternativa de direção para o Movimento Estudantil! Não negociamos nossos direitos!

O Brasil segue tendo números expressivos de casos e mortes em razão da COVID-19. São mais de 2 milhões e meio de pessoas infectadas e mais de 90 mil vidas perdidas. É dentro desse contexto que os governos e Reitorias pretendem adotar esse estilo de educação. O urgente de verdade são os auxílios para que os/as estudantes sobreviveram a essa pandemia, o adiamento das entregas de TCCs ou resultados de projetos de pesquisa e extensão. É mais urgente debater as vidas dos/as discentes, docentes e técnicos do que voltar às aulas de qualquer jeito sem nenhuma garantia para os/as estudantes.

É preciso apostar nas mobilizações, nossa resposta tem que ser a luta incessante pela garantia de que ninguém fique para trás. Para isso, os setores da oposição de esquerda da UNE precisam ser consequentes, ter responsabilidade com os/as estudantes e com o futuro da educação, se somando de forma efetiva ao enfrentamento, ao invés de buscar medidas de flexibilização para reduzir danos antes mesmo da implementação do Ensino Remoto.

Não podemos cair na chantagem do governo Bolsonaro que ameaça cortar dinheiro das universidades que não adotarem o ERE. Não existe nenhuma garantia que adotando o ERE o governo não vai atacar as universidades, pois esse mesmo governo já realizou cortes na educação em 2019, justificando que só existia balbúrdia nas IFES. O que garante não ter cortes na educação é a nossa luta!

Chamamos a todos estudantes das IFES e aos coletivos da OE (Correnteza, Juntos, Afronte, Rua, UJC) a se somarem nessa mobilização contra o ERE e rejeitar esse projeto, construindo uma oposição de luta e democrática, que enfrente o campo majoritário da UNE. Uma oposição que faça o que a majoritária não faz e construa as lutas em cada base e em nível nacional. Que exija um fórum nacional da UNE para a organização de uma luta nacional contra o ERE, contra o projeto privatista e os cortes na educação e por verbas para universidades para manutenção dos estudantes durante a pandemia. Precisamos exigir verbas para universidades e não para o pagamento da dívida com os banqueiros e nem para isenções aos empresários.

(Originalmente publicado no jornal Combate Socialista n°5, digital)

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