Por um Perú para o povo trabalhador

Editorial Uníos | Agosto de 2020

Tradução: Emanuelle Braga


Definitivamente, o feito político mais importante dos últimos dias, contra toda previsão, foi o congresso recusar o voto de confiança ao gabinete Cateriano. O rechaço a Cateriano – e o apoio a Martos – está carregado de oportunismo eleitoral e interesses econômicos particulares de um setor do capitalismo emergente, representado nos novos partidos de aluguel. Muitos deles não estão ligados diretamente ao oligopólio capitalista e tendem algumas vezes a radicalizar oportunistamente seu discurso para defender seus interesses, mas sem lidar abertamente com a velha oligarquia financeira agrupada na CONFIEP[1]. Os chiados entre o governo e o congresso nada mais são que uma coação entre distintos setores empresariais (e nenhum progressivo) que buscam fazer um lugar nos grandes negócios do governo com a reativação econômica no campo e na cidade.

O que mudou em poucos dias para as bancadas modificarem o sentido do seu voto e encherem de elogios o novo Premier? Nada. No país o número de desempregados, infectados e mortos por COVID-19 segue crescendo; no gabinete Martos houve somente uma mudança de pessoal, de cargos e de discurso, mas não de política econômica; portanto, seguimos de forma consequente afirmando: Nenhuma confiança ao gabinete Martos!

Recordemos que o “general Martos” foi parte do gabinete Zeballos e parte do gabinete Cateriano e, junto ao MEF[2], instrumentou a política de conceder subsídios milionários para os grandes capitalistas e legalizar a demissão camuflada de milhões de trabalhadores. Além do mais, Martos camuflou o discurso pró mineração do Governo e da CONFIEP, substituindo-o por um discurso de falsa “unidade nacional”, garantindo algumas gestões e migalhas que os parlamentares administrarão junto ao Governo nos seus lugares de origem.

Cateriano e Martos não são as mesmas pessoas, mas personificam as mesmas políticas do Governo e, para além dos estilos, a diferença entre eles é que o primeiro disse o que pensa, enquanto o segundo disse o que todos querem ouvir. Assim, da mensagem extrativista de que o “Peru é um país minerador”, passamos à velha mensagem de uma “economia de guerra”, quando na verdade o Governo sempre buscou reativar a inútil economia de mercado.

Não somos um país minerador

O que não podemos deixar passar são as mentiras da mensagem de Cateriano – que Martos buscou camuflar – de que “a mineração é a única atividade que pode nos salvar” e que “o Peru é um país minerador”. Falso! O Peru não é só um país minerador. Que a mineração seja hoje um setor econômico importante, como foram outros setores, não significa que estejamos condenados a sermos eternamente um “país minerador”. Além do mais, a “marca do país” sempre a puseram os governos capitalistas de acordo com seus interesses econômicos.

Não negamos a importância da atividade mineradora em si, o prévio zoneamento e planejamento territorial e a proteção ambiental, mas rechaçamos seu atual caráter imperialista de saque, destruição do meio ambiente e atropelo dos direitos humanos das comunidades andinas e amazônicas. Condenamos com a mesma força a mineração ilegal vinculada quase sempre ao narcotráfico, que além de devastar nosso ecossistema, promove a exploração do trabalho e uma perversa rede de tráfico de mulheres e meninas, que os diversos governos neoliberais não foram capazes nem quiseram erradicar. Só a estatização de toda a atividade mineradora, retirando-a dos tentáculos das transnacionais e empresas locais, nos permitirá planejar de maneira democrática e sustentada uma economia a serviço do povo!

Por um plano econômico alternativo para vencer a COVID-19

O Peru sucumbe com o avanço do coronavírus por culpa do Governo. Com mais de 20.000 mortes (ou 46.000 se incluir os casos suspeitos) e quase meio milhão de infectados, nosso país se coloca em uma situação dramática enquanto o Governo insiste na sua criminosa retomada econômica neoliberal. O fracasso do governo se deve a suas políticas econômicas limitadas por seu caráter de classe orientadas a favorecer os grandes capitalistas e contrárias a fortalecer a saúde pública e proteger os empregos de milhões de trabalhadores.

Uma verdadeira “economia de guerra” não é compatível com uma economia de mercado, mas o Governo se utiliza da palavra “guerra” para militarizar as ruas, justificar o corte de direitos políticos e reprimir aos protestos, enquanto que as grandes empresas capitalistas que acumulam enormes dívidas tributárias seguem sem pagá-las; as escolas e universidades privadas continuam cobrando fortes mensalidades; e as clínicas privadas seguem lucrando com a saúde e a vida humana.

A propriedade e o lucro privado é incompatível com a necessidade de garantir o direito à saúde, educação, emprego e aposentadorias dignas a toda a população; por isso propomos um Plano Econômico Alternativo que, em curto prazo, aprove um imposto sobre as grandes fortunas para os multimilionários e grandes empresas capitalistas, ofereça um bônus de emergência à população mais pobre, destine 8% do PIB para fortalecer a saúde pública, e 6% do PIB para a educação pública; assegure a produção alimentícia e de medicamentos; estatizar o banco e todas as instituições que hoje lucram com a saúde, a educação e as aposentadorias.

Rumo a uma economia planejada

Não somos um país da mineração, somos um país plurinacional, culturalmente diverso e com muitas riquezas, mas fortemente estrangeirizado, centralizado, burocratizado e corrompido. Aqueles que culpam o Estado por todos os problemas são os mesmos sem vergonhas que o dirigiram e que têm grandes negócios privados em diversos setores econômicos, entre eles a mineração, as AFP[3], universidades e clínicas privadas etc.

Os principais problemas do país são o colapso do sistema de saúde e o desemprego, que cresceu com a suspensão de empregos imposta por Vizcarra. O saque da mineração formal imperialista e a militarização das ruas não são a solução. Está claro que o país que propõe Vizcarra, não é o país que queremos nem o que necessitamos. Nós da Uníos na FA, desejamos construir um país com uma economia planejada, não por uma burocracia administrativa do capitalismo de Estado, mas por trabalhadoras e trabalhadores organizados. Um país que coloque à frente a vida e a economia ao serviço da população, que proteja as crianças, erradique a violência em todas as suas formas e não desampare os idosos. Um país sem explorados nem exploradores, que universalize a saúde e educação pública, que gere empregos com salários e aposentadorias dignas, acabe com o trabalho informal, a insegurança e a discriminação em todas as suas formas.

Esse é o país que queremos e que o capitalismo nunca poderá nos oferecer! Por isso nos organizamos, para tirar o capitalismo e construir uma sociedade socialista dirigida por um governo dos trabalhadores e das trabalhadoras. Que nada tem a ver com os projetos fracassados do Castro-chavismo e os diferentes tipos de “Socialismo do século XXI” ou “Capitalismo Humanizado” como Chávez na Venezuela, Lula no Brasil, Evo Morales na Bolívia, o Peronismo na Argentina ou Syriza na Grécia e Podemos na Espanha, porque durante décadas governaram junto às multinacionais. Nosso proposta é clara: Lutamos por um governo dos trabalhadores sem empresários nem burocratas com plena democracia operária.

[1] Confederación Nacional de Instituciones Empresariales Privadas.

[2] Ministerio de Economía y Finanzas.

[3] Administradoras de Fondos de Pensiones.

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