VENEZUELA | Rumo ao colapso do parque industrial pela escassez de gasolina

Originalmente publicado em laclase.info, escrito pela C-cura (Corrente Classista Unitária Revolucionária e Autônoma). Título original: “Nos aproximamos a un colapso del parque automotor por escasez de gasolina”.

                                                                                               Tradução: Manu Sousa


A cada dia as filas próximas aos postos de gasolina são maiores. Até alguns meses atrás se podia ficar esperando de um dia para o outro, agora o tempo de espera na fila pode variar entre 5 à 8 dias, ainda com a possibilidade de não conseguir encher o tanque.

Alguns meios de comunicação têm declarado que só resta 23% do total de gasolina necessário para abastecer todo o mercado nacional. Isso não afetaria somente o transporte de passageiros, mas também impactaria negativamente a distribuição de comida e outros bens.

José Bodas, secretário geral da Federação Unitária de Trabalhadores Petroleiros da Venezuela (FUTPV), afirmou que: “A situação está se tornando cada vez mais desesperadora. As pessoas devem esperar por dias para, se tiver sorte, conseguir abastecer o combustível. Em alguns lugares o número de motos e carros que conseguem ser abastecidos com gasolina caiu para cerca de 300, ou seja, praticamente nada. Por conta disso, se tem de chegar de madrugada ou altas horas da noite do dia anterior ao da sua vez de abastecer, de acordo com seu número de placa, ou então pagar até 60 dólares por um lugar na fila que garanta a compra da gasolina. Para os que trabalham com veículos, como os taxistas por exemplo, a situação é de angústia”.

Além disso, a escassez é propícia para a especulação e a corrupção. “Em alguns lugares, os usuários têm denunciado que além da fila “oficial”, por assim dizer, há outra fila para os que pagam em dólares, por debaixo dos panos. Estão cobrando até 2 ou 3 dólares por litro de gasolina. Tudo isso se faz com a participação da polícia e da guarda nacional. Já são vários os casos em as forças de segurança lutam pelo controle das bombas (de abastecimento)”, disse o dirigente sindical petroleiro.

A escassez de gasolina é produto de anos de desinvestimento e falta de manutenção no conjunto do parque refinador do país. O governo foge à sua responsabilidade na escassez de gasolina, atribuindo-as às sanções que o imperialismo estadunidense começou a aplicar contra a nossa indústria petrolífera, em janeiro de 2019.

“Não há gasolina na Venezuela pela simples razão de que no meio da corrupção desenfreada que tem se imperado na nossa indústria petroleira, deixando de investir na mesma e não foram aplicados os protocolos de manutenção nas nossas refinarias. Hoje, a maioria está paralisada e com importantes danos estruturais. A refinaria de Puerto La Cruz está há 4 anos parada. Nesse momento a refinaria de El Palito não está funcionando, houve um blackout ontem. A de Cardón, depois de ficar meses parada, operou até dia 31 de agosto, quando o reformador catalítico parou por conta de problemas no compressor. No sábado voltou a funcionar, mas domingo parou de novo, e não se vislumbra a possibilidade de chegar novos carregamentos de combustíveis do Irã ou de algum outro país”, afirma Bodas.

As sanções dos Estados Unidos agravaram a situação, sem dúvida alguma, porém não são a razão fundamental da escassez de gasolina. Desse modo, afirmou o dirigente sindical: “As sanções se somam a uma situação já desastrosa nas nossas refinarias. Isso nós temos dito já faz pelo menos 10 anos. Em 2010, nossa corrente sindical C-cura elaborou um documento detalhado do estado operacional da indústria petroleira e também das condições de trabalho. Nesse momento já advertimos que a Pdvsa já caia em pedaços, assim como os riscos envolvidos, e infelizmente depois de dois anos aconteceu a tragédia de Amuay. A destruição das refinarias começou na época já na época de Chávez. Agora, as sanções que foram aprovadas pelos partidos patronais, por Guaidó, Capriles, Borges, López, seguindo as instruções de Trump, aprofundaram uma situação de deterioração já preexistente”.

Bodas, que é também dirigente do Partido Socialismo e Liberdade, disse que “com salários de fome, sem cantinas, sem seguro de saúde Sicroposa, com a derrota da convenção coletiva, sem implementos trabalhistas, com o fator de equilíbrio 9030 que destruiu nossas exigências, com os trabalhadores perseguidos por reivindicar seus direitos, não será possível recuperar nossa indústria petroleira nem as refinarias, e a escassez de gasolina e gás se aprofundará, sendo o povo venezuelano quem paga a entrada das transnacionais na nossa indústria petrolífera por meio de empresas mistas, e o pacote de ajuste que o governo aplica desde 2018 em favor das transnacionais, das empresas privadas e dos funcionários do governo.”

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