A história, as lutas e os mártires do 1º de maio.

 

Joice Souza – Coordenação da CST

O Dia Internacional dos trabalhadores/as teve origem em meados do século XIX, como parte das lutas por melhores condições de trabalho e direitos para aqueles homens, mulheres e crianças que recebiam baixíssimos salários e trabalhavam até 16 horas por dia. Os trabalhadores de todo o mundo exigiam dos patrões a redução de suas jornadas de trabalho, entre outras pautas.

EUA, 1886: greve geral pelas oito horas.

No dia 1º de maio de 1886, as fábricas dos EUA amanheceram paradas. A Federação dos Grêmios e Uniões Organizadas dos EUA e Canadá havia convocado greve geral exigindo “jornada diária de oito horas sem redução de pagamento”. Centenas de milhares de trabalhadores/as atenderam ao chamado e pararam suas atividades. A força do movimento foi tamanha que, já no primeiro dia de greve, várias fábricas concordaram em atender à reivindicação grevista.

Chicago, grande polo industrial dos EUA, foi uma das cidades com grande adesão à greve. A burguesia fez de tudo para esmagar o movimento. O editorial do Jornal Chicago Tribune declarava que “o chumbo é a melhor alimentação para os grevistas”. No quarto dia de greve, durante um protesto na Praça Haymarket, trabalhadores foram duramente reprimidos pela polícia. Pelo menos 38 operários morreram e centenas ficaram feridos. Em uma misteriosa explosão, um policial também acabou morrendo.

Vários trabalhadores foram presos e oito líderes grevistas foram injustamente acusados pela morte do policial e levados a julgamento, num processo que, anos mais tarde, se revelaria uma grande farsa judicial. A Justiça burguesa condenou Oscar Neebe a 15 anos de prisão, Sam Fielden e Michael Schwab à prisão perpétua e Alberth Parsons, Adolph Fischer, George Engel, August Spies e Louis Lingg à pena de morte. Lingg se suicidou na prisão e os quatros líderes foram enforcados. Cerca de 500 mil pessoas compareceram ao funeral. Quinze anos depois, o governador reconheceu os “excessos” cometidos no julgamento, concedendo perdão aos oito grevistas, libertando Fielden, Schwab e Neebe da prisão.

França, 1889: a resolução da II internacional

Em 1889, a II Internacional Socialista escolheu o 1° de maio como Dia Internacional de lutas pela redução de jornada. Deveria ser organizada “uma grande manifestação internacional com data fixa, de modo que, em todos os países, no mesmo dia marcado, os trabalhadores intimem os poderes públicos a reduzir legalmente a jornada de trabalho a 8 horas”.

A partir de então, a data passou a ser marcada com manifestações operárias em todo o mundo, escrevendo a história com luta e sangue. Em 1891, dez trabalhadores franceses foram mortos em confronto com a polícia durante os protestos do dia 1º de maio.

As lutas em ascensão da classe trabalhadora continuaram e deram seu salto mais importante em 1917, quando o partido bolchevique de Lenin e Trotsky tomou o poder na Rússia, inaugurando o primeiro Estado operário da História.

Buscando apaziguar os ânimos e evitar “novas Rússias”, os patrões e os governos se viram obrigados a atender a diversas pautas da classe trabalhadora. Em 1919, a recém-fundada Organização Internacional do Trabalho apresentou como sua primeira convenção a garantia da jornada de 48 horas semanais e, nos anos que se seguiram, diversos países incorporaram a medida às suas legislações.

Dia do Trabalhador X Dia do Trabalho

Ao longo dos anos, diversos países foram incorporando o “dia dos/as trabalhadores/as” em seu calendário oficial. Também se tentou transformá-lo em uma data festiva, contando para isso com o apoio dos sindicatos ligados aos governos.

No Brasil, o presidente Getúlio Vargas “renomeou” o 1º de maio como “Dia do Trabalho” e o transformou em festa cívica, em que ele anunciava o valor do novo salário mínimo, sempre buscando esvaziar qualquer caráter de reivindicação.

Também os governos de conciliação de classes buscaram domesticar o 1º de maio. Durante os anos de governo do PT, as centrais sindicais passaram a realizar atos-show e sorteios, a exemplo do que faziam os sindicatos amarelos nos anos de Vargas.

Nosso dia de luta!

Hoje, em meio à pandemia e à maior crise econômica da história, a burguesia ataca brutalmente todos os direitos historicamente conquistados pela classe trabalhadora ao longo de séculos. A luta pela redução de jornada de trabalho, pela qual tantos deram suas vidas, hoje continua a ser uma pauta urgente e atual para milhares de jovens trabalhadores/as, como entregadores de aplicativos. Salário digno também está na ordem do dia de toda a classe trabalhadora, empurrada a trabalhar em condições insalubres e exposta à contaminação por COVID-19. Por isso, é preciso tirar as lições que a história de nossas lutas nos traz: é a nossa mobilização que garante vitórias. Construamos um 1º de maio classista e sem os governos que rifam nossos direitos.

 

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