EDITORIAL | Ocupar as ruas no dia 19/06 | Combate Socialista nº 131

Por vacina, salário e emprego! Fora Bolsonaro/Mourão!

No último dia 29 de maio ocorreu uma jornada nacional de luta com passeatas em mais de 200 cidades abarcando todos os estados do país. Os grandes atos como os realizados em SP, MG, RJ e nas demais capitais reforçam a grandiosidade dessa data. Uma jornada nacional centralizada que mostrou muita força e demarcou que estamos vivendo um novo momento no país onde o ponto de partida são as mobilizações de rua. Não temos dúvida de que os manifestantes saíram mais fortalecidos para enfrentar o governo Bolsonaro e para seguirem mobilizados nas ruas após essa jornada.

A insustentabilidade da grave situação do país ocasionada pela crise pandêmica, social e econômica explicam esse momento de mobilização do dia 29 de maio. Os atos contra a chacina de Jacarezinho, passando pelo dia 13 de maio e os atos contra os cortes no orçamento da educação e o fechamento das universidades e a greve dos metroviários de São Paulo já davam sinais desse momento. Isso em meio a um desgaste do governo Bolsonaro aprofundado pela CPI que vem mostrando a total responsabilidade do governo durante a crise sanitária. Esse contexto de crise e a falta de perspectiva de melhoras na vida da população impulsionou que um setor saísse às ruas para enfrentar o governo Bolsonaro e aprofundar ainda mais a sua crise.

O fato é que o governo Bolsonaro/Mourão, seus ministros militares e seu projeto ultrarreacionário sofreram um fortíssimo ataque no dia 29 de maio invertendo a dinâmica que vinha desde o primeiro de maio, quando a extrema direita era a força social com mais peso nas ruas. As manifestações rechaçaram o conjunto da política da extrema direita como a sua ação genocida na pandemia, a política privatista, a crise social, e diretamente deu um forte recado pelo Fora Bolsonaro.

Não queremos copa, queremos vacina

Essa jornada expressou, de forma particular em nosso país, os processos internacionais que estão em curso na América Latina. A rebelião popular na Colômbia, bem como processos que ocorreram no Chile, Paraguai e Peru, uma situação explosiva que tem a ver com o aprofundamento da crise econômica e social e o agravamento da pandemia que no Brasil tem levado ao profundo desgaste do governo Bolsonaro. Esse enfrentamento aos governos da região explica a dificuldade de realização da Copa da América do futebol. Crises políticas e pandemia levaram a competição para o Brasil que, abraçada pelo governo em meio a quase 500 mil mortes por Covid-19, jogou mais lenha na fogueira e ampliou a crise no governo com impactos até na seleção brasileira.

A oposição não pode vacilar nem dar fôlego para a extrema direita

Uma das maiores lideranças da oposição e de um amplo setor do movimento de massas, o ex-presidente Lula não jogou nenhum papel a favor do dia 29. Não o divulgou e nem sequer o comentou. Mesmo papel jogou a cúpula da CUT, a maior central do país. Apesar de uma ou outra inflexão parcial e local, a política da cúpula da CUT de não convocar se manteve. Na prática, Lula com seu silêncio; e a cúpula da CUT, nas reuniões nacionais e em suas notas, puxaram o freio de mão do dia 29, tentando evitar que a indignação social explodisse nas ruas de forma massiva. Mas não conseguiram e se localizaram de forma errada perante a maior mobilização nacional contra a extrema direita dos últimos dois anos.

Um dos pontos negativos do dia foi de responsabilidade da oposição. O governo de Pernambuco (PSB/PCdoB) reprimiu brutalmente a manifestação em Recife, o único local que teve repressão, uma ação muita truculenta que deixou duas pessoas cegas ocasionado por tiros de balas de borracha. Até agora ninguém assumiu a responsabilidade da orientação de reprimir o ato em Recife.

Construir a jornada de lutas de 19 de junho

Para fortalecer a construção do dia 19 de junho, as direções sindicais e os partidos e as figuras da oposição não podem se negar a convocar e participar dos atos. Exigimos da direção da UNE, CUT, MTST que construam efetivamente o dia 19/06, porque é fundamental continuar com os protestos nacionais. Defendemos que, para potencializar essa data, se unifique as lutas em curso como a da Petrobras contra privatização, da juventude contra os cortes, e das campanhas salariais pela reparação das perdas, bem como por vacina e auxílio emergencial, tendo como eixo o Fora Bolsonaro e Mourão. Que essa nova jornada seja um dia nacional de atrasos, operação tartaruga, paralisações, greves sanitárias, ocupações, bloqueios de vias e passeatas unificadas. E nesse caminho, acumular forças para mais à frente avançar na convocação de uma greve geral do conjunto da classe trabalhadora. Propostas que vamos levar a próxima reunião da coordenação nacional da CSP-CONLUTAS, para que a central se relocalize de vez e se insira fortemente na convocação dos atos.

Devemos garantir que a IV Plenária Nacional de Organização das Lutas Populares (a campanha fora Bolsonaro que agrupa as Frentes Povo sem Medo e Brasil Popular e outros movimentos) ocorra com delegados eleitos em assembleias democráticas em cada sindicato e movimento. Assim, as bases poderiam definir soberanamente os próximos passos de nossa luta.

Construir um programa econômico alternativo

Junto com a ocupação das ruas, apresentar um programa alternativo que passa pelo não pagamento da dívida e a taxação das grandes fortunas. Apenas com o pagamento da dívida, em 2020, se gastou mais de R$ 4,7 TRILHÕES. E atualmente, existem trilhões no Tesouro Nacional e em reservas nacionais, unicamente para garantir a bonança dos banqueiros. É desumano seguir remunerando o capital financeiro enquanto milhões perdem o emprego e milhares perdem a vida devido à COVID-19. Ao mesmo tempo, mesmo com a crise, há um punhado de bilionários enriquecendo ainda mais às custas do sofrimento do povo trabalhador. Segundo estudos, se taxarmos as grandes fortunas poderemos arrecadar mais de R$ 100 bilhões por ano. É urgente enfrentar a ganância das multinacionais. Temos que enfrentar o grande capital e o sistema financeiro. Com os recursos gerados por essas medidas emergenciais se poderia, imediatamente:

– Quebrar as patentes das vacinas utilizadas para prevenção da COVID-19 e garantir sua produção no Brasil, via Butantã, Fiocruz e universidades. Elevar os investimentos em Saúde, Pesquisa Científica e seguridade social, e utilizar fabricas, hoje fechadas, como a Ford, para produzir o necessário para o combate à pandemia, garantindo respiradores, oxigênio, leitos, itens de higiene.

– Defender serviços públicos, o emprego, o salário. Repor as perdas salariais emergencialmente, acompanhando a inflação dos últimos meses. Ao mesmo tempo, reduzir as jornadas de trabalho sem redução salarial, garantindo mais postos de trabalho. Acabar os planos de demissão voluntária do Banco do Brasil e dos Correios. Revogar o teto de gastos, da reforma trabalhista e da reforma previdenciária, bem como de leis e acordos coletivos que significam retirada de direitos ou arrocho. Garantir um massivo auxílio emergencial de um salário-mínimo. Destinar recursos para os órgãos ambientais; reforçar políticas públicas para o povo negro, indígena e pautas feministas e LGBTs.

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