Armar o PSOL para convocar as lutas pelo Fora Bolsonaro, contra a Reforma Administrativa e para construir uma Frente de Esquerda e Socialista

Os congressos estaduais do PSOL ocorrem num momento de forte crise sanitária e social. Milhões de desempregados, filas de miseráveis pelo país a procura de osso animal e a aplicação de uma agenda econômica acelerada de retirada de direitos. Enquanto isso, a vacinação não dá conta de imunizar toda a população e a pandemia segue contaminando e matando o povo trabalhador.

É fundamental que os congressos estaduais do PSOL armem os milhões de eleitores do partido para a construção efetiva de mobilizações de rua, que o peso da bancada do partido seja utilizado para fortalecer a luta extraparlamentar, exigindo que a CUT, CTB e demais centrais sindicais construam “o dia nacional de luta e paralisações” que elas mesmas votaram para agosto e até agora não concretizaram. O PSOL deve batalhar pela unificação dos calendários de categorias e mobilizações que vão surgindo mais dispersas.

A extrema direita reagiu e a direção majoritária da campanha Fora Bolsonaro não aposta na ação direta nas ruas

Após vários atos em que o movimento de massas e a classe trabalhadora retomaram o protagonismo das ruas, a extrema direita decidiu contra-atacar convocando manifestações com pautas ultrarreacionárias, autoritárias, e um discurso golpista. O pior é que, em meio a esses fatos, nas semanas prévias ao 7 de setembro, a cúpula das centrais, os maiores partidos de oposição e os governadores do PT e PCdoB buscavam “dialogo” com Bolsonaro. Não só não jogaram todo seu peso no movimento de massas em favor das manifestações, como o PT chegou ao absurdo de votar em Augusto Aras, um bolsonarista, na PGR (a instituição que pode blindar a Presidência da República). Com a extrema direita defensora de torturadores, que pede o fechamento do Congresso e do STF, não há “dialogo” possível. Ou os derrotamos ou eles nos derrotam.

A direção da campanha Fora Bolsonaro, comandada pelo PT, PCdoB, CUT e CTB, desperdiçou a força das ruas expressa nas gigantescas manifestações de maio-julho. Isolou os atos dos estudantes e servidores de 11 e 18 de agosto, boicotou o dia 13 dos Correios. Puxaram o freio de mão das atividades de rua visando canalizar a indignação para a institucionalidade, nos conchavos parlamentares com velhas raposas da direita tucana, e tratando de construir as longínquas eleições de 2022. Uma estratégia de colaboração de classes que organiza derrotas econômicas e sociais (privatizações da Eletrobras, Correios) e faz avançar setores burgueses.

A frente ampla com os patrões não é um projeto favorável para a classe trabalhadora

Lula chegou a fazer um pronunciamento no dia anterior que sequer citava que parte da oposição construía atos pelo país. Freixo, no Rio de Janeiro, militou contra os atos e fez postagens nas redes sociais dialogando com as forças de segurança e colocando um símbolo de “baderna” entre os atos do governo e da oposição. Se, por um lado, os números foram muito aquém do que a extrema direita almejava, o boicote das principais lideranças da oposição deixaram as ruas quase livres para a extrema direita.

Trata-se de um desdobramento da política da frente ampla. Buscar aliados patronais tem implicações na luta de classes. O preço a se pagar é ficar refém dos instrumentos do regime e dos ritmos que os setores burgueses estão dispostos a aplicar. As cúpulas da oposição querem que nós sejamos expectadores das disputas que se resolvem no campo de batalha deles e não nas ruas.

O dia após os atos demonstrou que não há resposta à altura do STF e nem do Congresso Nacional, representantes dos setores majoritários da burguesia brasileira. E o PSOL tem o dever, como partido de esquerda e socialista, de explicar aos trabalhadores e jovens que realmente não se pode esperar nada dessas instituições dos podres poderes da burguesia.

Fortalecer o PSOL na construção dos atos de rua e das greves e por um programa alternativo

Esses episódios demonstram categoricamente a necessidade de construir um polo social e político capaz de expressar um programa da classe trabalhadora, com saídas de fundo para os graves problemas de fome, desemprego e salário que a ampla maioria da nossa classe está sofrendo.

Do ponto de vista das ruas, significa não vacilar e disputar no interior da campanha Fora Bolsonaro, no interior das centrais sindicais, federações e confederações. Disputar no interior da UNE, do movimento de mulheres, negros e negras, ambientais e todos os espaços, combatendo a política de colaboração de classes e as ilusões socialdemocratas que Lula e as maiores lideranças da campanha Fora Bolsonaro estão disseminando. Assim, exigir a mais ampla unidade de ação, por jornadas nacionais de protestos do conjunto da classe trabalhadora e dos setores explorados e oprimidos, combinados com paralisações, atrasos e greves nas categorias.

A reunião de centenas e centenas de delegados nos congressos estaduais deve ser utilizada para batalhar por uma nova agenda de fortes passeatas em setembro. Para construir uma nova jornada de protestos pelo Fora Bolsonaro e Mourão, contra a Reforma Administrativa, contra privatização dos Correios, por reajuste de salário, pela redução do preço dos alimentos. Defender abertamente um programa alternativo com o não pagamento da dívida pública e pela taxação das grandes fortunas para investir em educação, saúde, auxílio emergencial e emprego, pela revogação das reformas aplicadas e contra as privatizações.

Infelizmente, a forma totalmente despolitizada e artificial com que foi conduzido o processo congressual do partido – esvaziando as discussões políticas, ao separar a votação do debate, e ampliando enormemente o peso do poder econômico na vida interna, através da facilitação da mobilização de pessoas que não são ativas na vida partidária via aparatos parlamentares e governamentais – desarmam o PSOL para cumprir tal papel nas lutas reais. É o outro lado da moeda da transformação do partido em linha auxiliar da frente ampla.

Por uma candidatura própria e a construção de uma Frente de Esquerda e Socialista

É impossível construir essas tarefas na luta de classes e defender esse programa se o PSOL segue na linha da conciliação de classes, apoiando a chapa encabeçado por Lula e setores patronais. Será um erro histórico do PSOL embarcar numa chapa com o lulismo, que busca ser a via de escape de um setor importante da burguesia nacional. Retomando todo o movimento de conciliação de classes e sem se posicionar sobre os aspectos mais importantes da luta política contra o ajuste fiscal, Lula tenta se consolidar como uma das principais candidaturas do regime político anti-Bolsonaro, por dentro da ordem capitalista.

Sobretudo quando Bolsonaro mais se enfraquece eleitoralmente, a esquerda não pode ficar refém da conciliação de classes. Neste momento, é fundamental que o PSOL tenha candidatura própria a nível nacional. Para essa importante tarefa, já está colocado o nome do companheiro Glauber Braga, mas, também, devemos buscar nos estados nos postular como uma alternativa aos milhões que não estão com Bolsonaro e desejam uma alternativa que não seja a reciclagem das velhas experiências da conciliação com partidos patronais. Por isso, nós, da CST, defendemos que o PSOL construa uma Frente de Esquerda e Socialista nacional e em cada estado com UP, PCB, PSTU e outras organizações anticapitalistas.

Por uma nova direção para o PSOL

O Campo Semente no PSOL, que reúne as organizações nacionais Resistência, Insurgência e Subverta, precisa romper com o bloco majoritário, pois, do contrário, seus votos irão entregar a presidência do partido à Primavera – organização do PSOL mais defensora de governos comuns com a burguesia. É hora dos camaradas reverem sua política e passarem a construir uma nova direção para o PSOL, com cara própria e longe da conciliação de classes.

Por chapas comuns nos congressos estaduais de todo o campo da oposição à atual maioria; utilizar todo o prestígio e influência eleitoral do PSOL para potencializar e coordenar os atos de rua pelo Fora Bolsonaro; e construir candidaturas independentes para enfrentar a extrema direita com um programa anticapitalista e por um Brasil Socialista.

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