Entrevista com Leonardo Péricles

Entrevista com Leonardo Péricles, presidente da UP

 

(Como parte das reflexões sobre os rumos das esquerdas em meio às lutas contra Bolsonaro, nosso jornal entrevistou lideranças da esquerda do PSOL, da UP e do PSTU. Confira as entrevistas nas próximas páginas).

 

 

Combate Socialista: Qual a sua opinião sobre a frente ampla liderada por Lula/PT?

 

Leonardo Péricles: A história recente do nosso país e da classe trabalhadora mundial tem provado que o fascismo também se torna possível quando a política de conciliação de classes (ou seja, de se aliar a setores das classes inimigas)se torna hegemônica no seio da classe trabalhadora, pois é um caminho que enfraquece a disposição de combate da classe e estimula uma ilusão de que sua vida será resolvida dentro do capitalismo e mesmo que os exploradores do povo são amigos. Além disso, é evidente como os partidos burgueses foram essenciais para o impeachment da presidenta Dilma Roussef. Estabelecer uma frente com a direita e os neoliberais, justificando-se na luta contra o bolsonarismo, trata-se de um discurso apenas eleitoralista, incapaz de levar a cabo a luta contra o fascismo e as medidas neoliberais que tem destruído os direitos da classe trabalhadora nos últimos anos, a exemplo da reforma trabalhista, da reforma da previdência e dos sucessivos cortes de investimentos nas áreas socias e privatizações. Por isso, defendemos uma unidade da esquerda nessa eleição, para defender um programa popular, antineoliberal e socialista.

 

CS:Qual o impacto dessa linha de colaboração de classes nas lutas sociais contra Bolsonaro?

 

LP: Trata-se de um estímulo ao enfraquecimento da disposição de combate da classe, se basta esperar o dia da eleição e digitar o número na urna para derrotar o bolsonarismo, então nada mais deve ser feito, esse é o efeito real que essa política estabelece. A Unidade Popular compreende que para derrotar o bolsonarismo é preciso intensificar as mobilizações e colocar a classe trabalhadora nas ruas e nas lutas contra o neoliberalismo. Por isso, em conjunto com  outras organizações socialistas e revolucionárias da esquerda, construímos a Articulação Povo na Rua, que foi decisiva para a retomada das mobilizações em maio e para o desenvolvimento dessa luta durante o ano. O resultado foi muito importante, as pesquisas indicam a queda de popularidade de Bolsonaro após as manifestações e mesmo a CPI contra ele teria sido esvaziada sem manifestações nas ruas. Agora estamos realizando  o Fora Bolsonaro nas Periferias, que tem cumprido um papel decisivo, pois significa trabalho de base, contato direto com o povo e a permanência das mobilizações contra o governo. Se dependesse dos que apostam tudo na eleição, as mobilizações já teriam sido suspensas.

 

CS: O que a esquerda deve fazer?

 

LP: A esquerda deve apostar cada vez mais na continuidade das ações contra o governo fascista de Bolsonaro. São muitas tarefas, aprofundar o contato com o povo nos bairros, nas fábricas, escolas e universidades, mas acima de tudo apontar a saída para a crise, para a fome, o desemprego e a carestia. Defender a reforma urbana e agrária, auditoria e suspensão do pagamento da dívida pública, reestatização das empresas privatizadas e a revogação das reformas trabalhista e previdenciária, aplicar uma justiça de transição seria que faça a punição aos torturadores de 1964 aos dias atuais. É preciso seguir mobilizando trabalhadores e trabalhadoras a partir de suas demandas mais sensíveis, fortalecendo a luta contra a burguesia e os banqueiros.

 

 

CS: Qual a sua opinião sobre a busca de um bloco ou frente das esquerdas socialistas e comunistas do PSOL, UP, PCB e PSTU?

 

LP: É decisivo ter uma unidade da esquerda contra o bolsonarismo e o neoliberalismo. Esse diálogo se torna mais fácil com as organizações que integram a Articulação Povo na Rua, que se colocaram desde sempre na primeira linha de combate contra o fascismo, que estimularam e construíram a retomada das mobilizações de rua contra o governo, a exemplo da CST. Existem outras organizações de luta que não estão na Povo na Rua, muitas delas são correntes do PSOL, que devemos fazer todo o esforço para caminhar juntos na eleição, um debate fraterno, revolucionário e socialista. Mas o essencial, pensamos, para consolidar essa alternativa na eleição, é seguirmos sendo consequentes na luta pela derrubada do governo fascista de Bolsonaro, essa unidade nas lutas, acreditamos, consolidará, uma unidade eleitoral da verdadeira esquerda.

 

Abraço camaradas!

 

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