MES define apoio a Lula-Alckmin, debilitando a batalha por uma esquerda independente

Rosi Messias e Denis Vale – Coordenação Nacional da CST

Nós, da CST, com este texto, fazemos um debate com os camaradas do MES, uma importante organização, que conta com parlamentares combativas e com peso na juventude, e que já definiram fazer campanha para Lula.

Começamos avaliando ter sido um grave erro que, em meio à luta contra a direção majoritária do PSOL, o MES tenha rompido a unidade da oposição de esquerda, que tinha 44% do partido, para apoiar e sustentar a direção majoritária do PSOL pactuando a federação legal com a REDE Sustentabilidade. Trata-se de um partido burguês, financiado pelo sistema financeiro, e o objetivo dessa federação é manter o fundo eleitoral partidário. Essa política enfraqueceu a batalha pela candidatura própria.

O MES é uma das correntes fundadoras do PSOL, que surgiu para enfrentar os primeiros ataques de Lula contra a classe, tendo sido Luciana Genro uma das parlamentares expulsas por não compactuar com essa política. Porém, a atual política dos camaradas, de apoio à chapa Lula-Alckmin no primeiro turno, com argumento de que se trata de tática e que o central é que o PSOL não integre o governo Lula, é um grave erro. Para manter um polo de independência de classe, não basta não compor organicamente o governo; é preciso batalhar por outra política desde já. O que vimos nas semanas seguintes à conferência eleitoral do PSOL é uma rendição do MES à frente ampla, como se não tivessem batalhado contra essa política. O lançamento à reeleição da companheira Vivi, por exemplo, não tinha qualquer resquício de uma política independente. Era um adesismo a Lula, com as consignas expressas num gesto feito com a mão indicando um “L”, de Lula, e um “V”, de Vivi. Votar em Lula no primeiro turno é respaldar pela esquerda o apoio à frente ampla, quando deveríamos estar dizendo que Lula-Alckmin não são a solução para resolver os graves problemas da classe trabalhadora; que os aliados que Lula escolheu não fortalecem a luta contra a extrema direita.

A não participação num eventual governo Lula, política com a qual temos total acordo, contraria o fato de que o MES, até recentemente, e pela primeira vez em sua história, integrou o primeiro escalão da Prefeitura de Belém, cujo vice é do PT e foi eleita em coligação com o PDT (partido de latifundiários) e a REDE (partido de banqueiros). Uma Prefeitura que tem relações com o governador do estado, Helder Barbalho (MDB), e que vem atacando a educação municipal em greve.

Não temos dúvida de que os revolucionários podem e devem utilizar a ampla flexibilidade tática eleitoral, sem que isso signifique ir contra os nossos princípios, o fortalecimento de uma estratégia de independência de classe. Sem isso, porém, as táticas são meras justificativas para uma política oportunista e que, em muitos casos, levam a apoiar governos burgueses.

Esse é um debate que temos há anos com a direção do MES. Com essa justificativa, de que eram apenas movimentos táticos, a direção do MÊS, nos últimos 20 anos, apoiou criticamente os governos burgueses de Hugo Chávez e os primeiros anos de Nicolas Maduro, na Venezuela, e o governo de Syriza, na Grécia. Todos esses foram governos de conciliação de classes que, cedo ou tarde, aplicaram duros ajustes capitalistas contra a classe trabalhadora. No caso do chavismo, fez ainda duros ataques aos direitos democráticos contra os trabalhadores venezuelanos.

Nada disso tem a ver com a tradição do trotskismo, que sempre ensinou a combater governos patronais ou com “a sombra da burguesia”.

Para nós, da CST, é um problema de princípio apoiar governos de conciliação de classes, assim como ser parte de uma federação legal com partidos burgueses, como a REDE.

O MES, ao chamar voto no primeiro turno em Lula, ajuda a fortalecer a política de conciliação de classes da frente ampla e a confundir a esquerda, já que, com essa política, os camaradas transmitem a mensagem de que a única saída seria abandonar a batalha por um programa de classe nessas eleições. Um grave erro que deve ser revisto pelos camaradas. Lula-Alckmin será um governo capitalista, a serviço do imperialismo, da grande burguesia, das multinacionais, banqueiros e do grande latifúndio.

A direção do MES tem que mudar de política e fortalecer uma esquerda independente e classista

Caso o MES tivesse outra postura, não dando seu apoio à chapa Lula-Alckmin, assim como nós, da CST, ajudariam a seguir fortalecendo o polo de esquerda que havia se formado no PSOL, com o companheiro Glauber, outros dirigentes e correntes.

É fundamental que a direção do MES faça uma reflexão sobre a sua política, pois é preciso seguir o rumo que tivemos na conferência e não ceder à pressão eleitoral do apoio a Lula-Alckmin, fortalecendo as pautas da classe trabalhadora, da juventude, das mulheres e da negritude no primeiro turno, apresentando uma alternativa de classe e batalhando por uma frente de esquerda e socialista, por um programa de enfrentamento ao projeto econômico capitalista de Bolsonaro e sua política autoritária.

– Box – Por que o MES apoia a candidatura da Heloísa Helena no RJ?

Heloísa Helena é pré-candidata a deputada federal pela REDE, no Rio de Janeiro, e conta com o apoio do MES. Heloísa Helena rompeu com o PSOL, após ter sido uma de suas fundadoras, e foi para a REDE Sustentabilidade, um partido burguês, ao lado de Marina Silva e Neca Setúbal, do Itaú. Rompendo com o partido pela direita para fortalecer um projeto burguês, em 2014, ainda no PSOL, apoiou a candidatura de Marina Silva, na época, pelo PSB, e não chamou voto na companheira Luciana Genro.

Nas eleições de outubro, já declarou apoio ao burguês Ciro Gomes (PDT). Heloísa Helena participou de marchas contra a legalização do aborto, ao lado da CNBB, partidos burgueses e dos setores mais reacionários. Está com Marina Silva, Ciro Gomes e junto aos reacionários contra a legalização do aborto. Sua política vai contra fortalecer um projeto de independência de classe. Por isso, é um erro da direção do MES apoiá-la. A direção do MES tem que romper com Heloísa Helena e fortalecer candidaturas que construam e defendam um projeto de esquerda e de independência de classe.

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