Agosto de 1940, León Trotsky era assassinado por um agente stalinista

No dia 21 de agosto de 1940, León Trotsky era assassinado por um agente stalinista

 

por Federico Novo Foti

 

Trotsky foi um dos principais dirigentes revolucionários do século XX. Dirigiu, junto de Lenin, a primeira revolução socialista vitoriosa da História, na Rússia. Seu nome está ligado à luta pelo socialismo, pela democracia operária e pelo internacionalismo. Com seu assassinato, Stalin tentou cortar a continuidade histórica da luta operária revolucionária. No entanto, seu legado segue vigente.

 

No dia 20 de agosto de 1940, Trotsky recebeu Frank Jackson em sua residência, na rua Viena, em Coyoacán, México. O jovem, que havia sido introduzido no entorno de Trotsky como suposto noivo de uma de suas colaboradoras, estava visitando a casa com a desculpa de debater opiniões sobre um artigo. Jackson aproveitou o momento de intimidade para atacar covardemente pelas costas o velho líder revolucionário. No dia seguinte, Trotsky faleceu pelos ferimentos. Jackson, um agente do serviço secreto soviético, cujo verdadeiro nome era Ramón Mercader, havia conseguido consumar a sentença declarada por Josef Stalin, então líder da URSS: “matem Trotsky!”.

O assassinato de Trotsky foi o ponto culminante de uma perseguição implacável, iniciada em 1927, com sua expulsão da Rússia, seu exílio forçado por um “planeta sem visto” e o assassinato ou prisão de seus seguidores, colaboradores e familiares. A causa dessa perseguição se encontrava no fato de que, desde os anos 1920, Stalin havia começado a consolidar seu poder burocrático na URSS. Impôs, desde 1924, a concepção antimarxista do “socialismo em um só país” e, desde 1935, as “frentes populares” de capitulação às burguesias em todos os partidos comunistas da Terceira Internacional (1).

Entre 1936 e 1938, Stalin montou os “Processos de Moscou”, uma farsa judicial para exterminar a velha guarda dirigente do partido de Lenin, seus opositores e até alguns de seus mais próximos colaboradores. Trotsky foi o principal acusado nos Processos, porque era o mais destacado e consequente dirigente opositor à burocracia stalinista e encarnava a continuidade do programa revolucionário, da democracia operária e do internacionalismo. Por isso, para justificar sua condenação à morte, as campanhas difamatórias contra Trotsky foram intensificadas. Para isso, o stalinismo levou décadas tentando apagar da memória popular sua vida revolucionária e seu papel dirigente na revolução junto a Lenin, acusando-o continuamente de “agente dos Estados Unidos” e “agente nazista”.

 

Uma vida dedicada à revolução socialista

 

León Davidovich Bronstein, Trotsky, havia nascido no dia 26 de outubro de 1879, em uma aldeia perto de Odessa, na Ucrânia, região submetida naquele momento ao império czarista da Rússia. Muito jovem, fez-se marxista. O regime czarista, rapidamente, prendeu-o e o deportou para a Sibéria. Uniu-se ao Partido Operário Socialdemocrata Russo após sua primeira fuga da Sibéria, somando-se à organização orientada por Lenin. Na revolução de 1905, foi o principal dirigente do soviete de São Petersburgo, capital do império. Depois da derrota da revolução, foi deportado para a Sibéria junto aos líderes soviéticos, de onde escapou em um trenó puxado por renas, cujas peripécias foram contadas no livro “Viagem de ida e volta”, de 1907, reeditado atualmente com grande repercussão (2). Em seu balanço da revolução de 1905, esboçou pela primeira vez sua “teoria da revolução permanente”. Afirmava que os operários das cidades, arrastando o campesinato pobre, e não a burguesia, eram a única classe capaz de dirigir a revolução democrática burguesa e, ao tomar o poder, avançar para o socialismo, transformando as condições de vida no campo e nas cidades. Trotsky também foi parte da minoria internacionalista que, junto com Lenin, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, rechaçou a traição da Segunda Internacional, quando essa apoiou a guerra interimperialista em 1914, e prognosticou que “os anos vindouros presenciarão a era da revolução social”.

Em fevereiro de 1917, despertou a revolução na Rússia. Após a queda do regime czarista, o governo foi assumido por uma coalizão da burguesia liberal e dos partidos reformistas. No entanto, ao seu lado, ressurgiram os sovietes, desafiando o poder burguês. Trotsky conseguiu retornar para a Rússia em maio, foi incorporado na condução do soviete de Petrogrado (ex-São Petersburgo) e ingressou ao Partido Bolchevique, de Lenin. A revolução permitiu uma rápida confluência entre ambos os dirigentes. Lenin havia conseguido que o partido não apoiasse o governo provisório burguês e assumisse a luta por um governo operário apoiado nos camponeses, o que seria o prelúdio da revolução socialista internacional. Os bolcheviques, com Lenin e Trotsky, foram ganhando cada vez mais peso e conseguiram a maioria nos sovietes, sendo os únicos que defendiam de forma consequente os interesses dos operários, camponeses e soldados. Finalmente, Trotsky foi designado como responsável pelo Comitê Militar Revolucionário do soviete, que organizou a tomada do poder no dia 24 de outubro, consumando a primeira revolução operária socialista vitoriosa da História.

 

Seu legado segue vigente

 

No governo dos sovietes, Trotsky ocupou diversos cargos e dirigiu o Exército Vermelho, responsável por vencer a guerra civil, derrotando o Exército Branco, uma coalizão de exércitos imperialistas. Após a morte de Lenin, em 1924, e a consolidação do aparato burocrático, dirigiu a Oposição de Esquerda contra o abandono do programa revolucionário pela burocracia stalinista. Depois do ascenso do nazismo na Alemanha, em 1933, com a contribuição da fracassada política stalinista de dividir o movimento operário, Trotsky concluiu que a Terceira Internacional estava perdida e era necessário fundar uma nova organização mundial. Em 1938, ainda sob terríveis condições de perseguição, Trotsky se dedicou a um dos desafios mais importantes de sua vida: a fundação da Quarta Internacional, o partido da revolução mundial que deveria dar continuidade ao fio vermelho da luta revolucionária. Seu programa, o “Programa de Transição”, afirmava que, sob o capitalismo decadente, “a crise da humanidade se reduz à crise de sua direção revolucionária”. Pouco depois, Trotsky foi assassinado, o que significou um duro golpe para o movimento trotskista e agravou uma crise de direção revolucionária que continua na atualidade.

82 anos depois do assassinato de Trotsky, o imperialismo segue condenando milhões à pobreza e à indigência em todo o planeta, em meio à crise econômica mais importante da história do capitalismo e da guerra de ocupação de Putin na Ucrânia. Apesar disso, os povos se rebelam, protagonizam heroicas lutas e revoluções que derrotam os planos de ajuste e chegam a derrubar governos burgueses. Diante dos cantos de sereia do falso socialismo, que conduzem os trabalhadores e os povos a novas frustrações e derrotas, a Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI) e suas seções nacionais reivindicam a trajetória revolucionária de Trotsky, a importância da fundação da Quarta Internacional e a necessidade ainda vigente de construir partidos revolucionários em todos os países. No caminho de reconstruir a Quarta Internacional, defendemos a unidade dos revolucionários contra o capitalismo imperialista e os governos burgueses, em defesa dos direitos dos trabalhadores e demais setores populares para desenvolver a mobilização e conquistar, através de revoluções vitoriosas, governos operários e populares que construam um verdadeiro socialismo em todo o mundo.

 

  • Organização revolucionária internacional fundada em Moscou, em 1919.
  • Trotsky. “La fuga de Siberia en un trineo de renos”, Siglo XXI Editores, Buenos Aires, 2022.

 

 

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