Viva a revolução do povo líbio! Abaixo a ditadura de Gaddafi!
“o território líbio será libertado pelo povo da Líbia”
Fonte: Declaração da UITI-CI www.uit-ci.org / tradução: Caio Dorsa
“o território líbio será libertado pelo povo da Líbia”
A revolução árabe comove o mundo. Depois de Tunísia e Egito, cujos povos derrubaram os ditadores Bem Alí e Mubarak, agora é o povo líbio que está em plena insurreição para derrubar o ditador Muamar al Gaddafi.

Segundo as informações o exército se dividiu, setores massivos formaram comitês populares revolucionários de governo e se armaram para combater a ditadura.

A ditadura apelou ao massacre com armas de guerra e inclusive ataques aéreos para esmagar a rebelião. Fala-se de milhares de mortos e dezenas de milhares de feridos. Isso, longe de frear a rebelião deu um aberto caráter insurrecional armado que esta encurralando a ditadura em Trípoli, a capital da Líbia.

Formou-se o “Conselho Nacional Líbio”, com representantes dos Comitês Populares Revolucionários formados em cada cidade, segundo informou o porta voz dos rebeldes e dirigente da Coalizão Revolucionaria 17 de Fevereiro, Abdelhafez Ghoqa em coletiva de imprensa em Bengasi (leste), segunda principal cidade do país, bastião da oposição a 1000 Km de Trípoli, a capital. Segundo informa o Conselho Nacional Líbio, também no oeste várias cidade se encontram “nas mãos do povo” há vários dias e “preparam uma marcha para liberar Trípoli”.

“As cidades de Al Rhibat, Kabaw, Jado, Rogban, Zentan, Yefren, Kekla, Gherien e Hawamed, Misurata, centro econômico e terceira cidade mais importante do país, assim com a de Al-Zawiya a 50 km de Trípoli, também foram libertadas há vários dias. Em todas estas cidades, as forças de Kadafi foram embora e um comitê revolucionário foi criado”, acrescentou a fonte (kaosenlared.net).

Gaddafi, com uma frase que copiou de Bush, dize que a rebelião era de “bandas de terroristas vinculadas a Al Qaeda” e que os jovens rebeldes “agem drogados”.

O imperialismo ianque, através de Hillary Clinton ofereceu “ajuda” aos rebeldes. Mas isso somente quando constatou que Gaddafi era indefensível e que a rebelião domina a maioria das cidades e que em questão de dias chegará a Trípoli.

Andel Hafiz Ghoga, advogado de direitos humanos e novo porta voz de Conselho Nacional da Líbia (CNL) respondeu com clareza a Clinton: “Estamos totalmente contrários a qualquer intervenção militar de qualquer país que seja. O resto do território líbio será libertado pelo povo da Líbia”
Gaddafi antiimperialista?

Fidel Castro, Hugo Chávez e Daniel Ortega manifestaram de distintas formas apoio a Gaddafi. Chávez o chama de seu “amigo” e Castro fala do perigo de uma invasão da OTAN, sem denunciar o massacre realizado por Gaddafi, enquanto Ortega ofereceu abertamente “todo seu apoio”. Evo Morales manifestou uma incomum ”neutralidade” chamando “ao povo e governo líbio para resolver a crise pacificamente”.

Repudiamos este apoio, aberto ou envergonhado, ao regime de Kadafi em nome de uma possível intervenção da OTAN ou de um suposto caráter “socialista” de Kadafi.

Se houvesse uma intervenção da OTAN (ou da ONU), que a própria resistência está rechaçando, seria obrigação de qualquer antiimperialista se colocar ao lado da Líbia, com ou sem Gaddafi, contra o agressor imperialista. Mas de nenhuma forma se pode justificar hoje o apoio ao sanguinário Gaddafi que esta massacrando ao povo líbio, por uma “possível” futura agressão militar antiimperialista.

Gaddafi foi quem introduziu o imperialismo na Líbia. O pacto com Bush foi a aliança na “guerra contra o terrorismo”. O próprio Kadafi acaba de dizer. Desmentindo a Chávez, Ortega e Fidel, que falam que o defendem de uma suposta intervenção imperialista, Kadafi, plagiando Bush, culpou a insurreição aos “terroristas da Al Qaeda” e acrescentou: “Estou surpreso porque temos uma aliança com o Ocidente para lutar contra a Al Qaeda, e agora que combatemos os terroristas nos abandonaram”. (reportagem da TV ianque ABC).

Efetivamente, como disse Gaddafi, o imperialismo, desde faz poucos dias “o abandonou”. Porque ele já não serve para nada, quando a insurreição popular ocupa 80 por cento do país e Gaddafi é um morto político. O imperialismo levanta agora um discurso mentiroso de “democracia” e “direitos humanos” para tentar influir no futuro da Líbia.


Do nacionalismo às alianças com as multinacionais

O nome oficial do país, que conta com seis milhões de habitantes, é Gran Jam Ahiriya Árabe - Líbia Popular Socialista. Este nome e a retórica de Kadafi se apoiam que em 1969, Kadafi encabeçou uma rebelião de oficiais e derrubou o rei Idris I e nacionalizou o petróleo, inaugurando um regime nacionalista capitalista similar a Nasser no Egito naquela época. Por este motivo foi atacado muitas vezes pelo imperialismo e em 1986 os Estados Unidos governado por Ronald Reagan bombardeou a Líbia tentando matar Gaddafi, sendo uma da vitimas sua filha Jana.

Como outros nacionalismos dentro dos marcos do capitalismo, Kadafi, traiu seus próprios princípios nacionalistas e terminou fazendo um pacto com o imperialismo em troca de muitas riquezas e vantagens. Já em 1992 começou a abrir às portas para as multinacionais petroleiras (hoje estão levando petróleo e gás da Líbia a Shell, British Petroleum, a ENI (italiana), a Total (francesa), Occidental Petroleum Corp e Conoco-Phillips e Marathon Oil Corp (ianques), Winthershall (Alemã), Repsol (espanhola), Gazprom (russa)). Também iniciou negociações com Israel. Inclusive fez um pacto com o já derrubado líder egípcio Mubarak para o controle dos palestinos da Faixa de Gaza.

Em cinco de setembro de 2008, a então secretaria de estado do governo Bush, Condoleeza Rice, visitou Trípoli, e declarou: “a visita demonstra que os Estados Unidos não possuem inimigos permanentes e que se alguns países estão dispostos a fazer mudanças estratégicas ou de orientação, os Estados Unidos estão dispostos a respondê-los. Líbia e Estados Unidos compartem interesses permanentes que são a cooperação na luta contra o terrorismo, o comercio, a proliferação nuclear, África, os direitos humanos e a democracia”.

Estes pactos se deram ao compasso do enriquecimento do ditador e sua família que se converteram em sócios da Fiat na Itália, em sócios de petroleiras, empresas de turismo e telecomunicações. Há dois anos assinou com o italiano Berlusconi o Tratado de Amizade, Associação e Cooperação, e “os negócios bilaterais já superam os 40.000 milhões de euros anuais e alcançam todos os setores cruciais, da energia a bancos ou a construção e sem faltar dos acordos militares e de inteligência” (diário El Pais, Madrid). A contrapartida foram os “ajustes estruturais” do FMI, privatizou numerosas empresas do Estado e reduziu fortemente os subsídios do Estado a alimentação e ao combustível. O povo líbio sofre, portanto com os altos preços de alimentos e o desemprego causado pela crise capitalista e que esta provocando a rebelião em conjunto dos países árabes.


O caráter da revolução Líbia

Por isso o caráter da revolução do povo líbio é muito similar a da Tunísia e Egito. E se dá no marco do processo revolucionário de conjunto dos povos árabes. O objetivo democrático de acabar com os governos ditatoriais e conquistar liberdades políticas se une ao descontentamento social por causa do desemprego e do preço dos alimentos causados pela política econômica de regimes sem-coloniais associados ao imperialismo.

A derrota ianque no Iraque e agora os triunfos revolucionários democráticos na Tunísia e fundamentalmente no Egito, debilitaram o imperialismo na região e seu agente Israel, fortalecendo enormemente o processo revolucionário que agora eclode na insurreição Líbia e em manifestações cada dia mais fortes no Iêmen, Bahrein, Argélia e outros países árabes.

Abaixo Gaddafi! É hoje a consigna revolucionaria democrática do povo líbio em insurreição, que apoiamos plenamente. Mas o objetivo de acabar com o ditador abre a possibilidade de organização e luta para recuperar o petróleo e outras riquezas, que hoje levam as multinacionais, para o povo líbio e também expropriar a corrupta burguesia ligada aos negócios com o imperialismo e ao saque de Estado que encabeça o próprio Gaddafi e sua família, passos necessários para acabar com a fome e o desemprego.

Este processo revolucionário esta derrubando os governos, que estão todos eles submetidos ao imperialismo e isto é um grande passo em direção de expulsar o imperialismo e seu agente Israel de terras árabes.


Como enfrentar a ameaça imperialista

É claro que o imperialismo e Israel, mediante seus agentes burgueses árabes estão operando para que isto não se suceda. Tentam voltar a “estabilidade” e formar governos como na Tunísia e Egito, com oficiais militares e patrões. E não se pode descartar uma invasão da OTAN na Líbia com o pretexto de “terminar com o derramamento de sangue”, mas com o objetivo de deter a revolução, formar um governo burguês e amigo para garantir o fluxo de petróleo.

Frente à ausência de uma direção revolucionaria se corre o risco de que o imperialismo consiga o seu objetivo de congelar a revolução. Pretende aproveitar a situação de extrema debilidade de Gaddafi para aparecer como porta voz da “democracia” com o objetivo de restabelecer o controle sobre Líbia e sobre a região.

Por isso os revolucionários chamamos ao movimento de massas a rechaçar qualquer intervenção e passar por cima dos dirigentes e movimentos burgueses e pro - imperialistas, construindo sua própria ferramenta política revolucionaria e dando uma perspectiva socialista, como hoje se vive em pequena escala na bacia mineira da cidade de Redeyef, na Tunísia, onde os sindicatos tomaram o controle do governo.

Neste sentido, mesmo não conhecendo o conjunto de suas posições, saudamos a declaração do porta voz do Conselho Nacional Líbio, Abdelhafez Ghoqa rechaçando qualquer intervenção militar estrangeira e chamando a queda de Gaddafi e a luta por um governo dos Comitês Revolucionários.
Chamamos o povo Líbio a desenvolver e organizar democraticamente, com representantes eleitos das organizações do povo em luta, a estes Comitês revolucionários. E a conservar a organização, e as armas conquistadas em dura luta revolucionaria como garantia do poder popular.

Abaixo Gaddafi!
A tarefa urgente, para todos os trabalhadores e oprimidos, para todos os antiimperialistas do mundo, é o apoio internacional ao povo líbio para que derrube o ditador e destrua suas organizações armadas genocidas. Apoiamos o rechaço do Conselho Nacional Líbio a qualquer intervenção militar imperialista. Defendemos o direito do povo líbio a cortar o fornecimento de petróleo ou recuperar suas riquezas naturais que hoje saqueiam as multinacionais. O imperialismo que apoiou a Gaddafi durante os últimos anos, agora só busca defender seus interesses. Por isso, chamamos a luta contra qualquer possível intervenção da OTAN, ONU ou qualquer outro instrumento do imperialismo.

Não se pode ser antiimperialista e estar do lado de Gaddafi! Não existem razões diplomáticas ou de estado para apoiar a este sanguinário ditador! Repudiamos as vergonhosas declarações de Castro, Ortega e Chávez de apoio ao ditador e chamamos os trabalhadores destes países a apoiar a luta do povo líbio para derrotar a Gaddafi.

Chamamos os sindicatos de trabalhadores, especialmente dos países europeus e Estados Unidos que tem relações econômicas das multinacionais com o regime líbio, a organizar um boicote a seus embarques em apoio à rebelião do povo líbio. Exigimos a todos os governos, começando pelo da Presidente petista Dilma Rousseff a imediata ruptura com Gaddafi.

Unidade Internacional dos Trabalhadores (Quarta Internacional)
1/03/2011
Data de Publicação: 03/03/2011 12:08:57

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