Brigada formada por militantes do Vamos à Luta acompanha o processo de mobilização da juventude inglesa. A companheira Júlia Borges está já há mais de3 meses morando em Londres e militando no 15-M. O companheiro Denis chegou por lá nos dias em que os protestos explodiam.
Júlia Borges e Denis Melo, Brigada do Vamos à Luta na Inglaterra
Tottenham, subúrbio de Londres, noite de quinta-feira, 4 de agosto. Mark Duggan, um negro de 29 anos é assassinado pela polícia. Levou um tiro a queima-roupa no peito. Sábado à noite, no bairro de Mark, aconteceram protestos exigindo justiça em frente à delegacia. Depois de horas sendo ignorados decidiram incendiar carros da polícia, ônibus e edifícios. Centenas de pessoas do local, negros, brancos pobres, asiáticos e judeus se somaram a manifestação, que foi brutalmente reprimida. No domingo vários bairros são tomados por uma onda de saques, destruição de lojas e queima de carros. Na segunda e terça, ocorrem protestos semelhantes em Birmingham, Bristol, Leeds e Nottingham. Em Manchester mais de 2000 jovens enfrentaram as armas da polícia de peito aberto. Liverpool contabiliza o lançamento de 200 coqueteis molotov. É a intifada no coração do Reino Unido.
David Cameron, primeiro-ministro britânico, interrompeu as férias na Toscana e anunciou uma brutal repressão para que a “ordem” volte a reinar em Londres. A folga dos militares foi suspensa garantindo 16 mil soldados nas ruas. O parlamento levantou o recesso. A Football Association cancelou amistoso entre Inglaterra e Holanda, em Wembley. Os tribunais estão funcionando à noite para julgar os manifestantes.
Os protesto sociais, que estavam em baixa em função do verão europeu, voltaram ao centro da situação política. As ruas são cobertas pela fumaça e as calçadas tomadas por estilhaços de vidro. O clima de tensão dos súditos esnobes da rainha cresce na mesma proporção com que a raiva toma conta dos subúrbios plebeus.
Essa “palestinização” de Londres ocorre no contexto do enfrentamento à crise econômica mundial, das revoluções no mundo árabe, do surgimento dos indignados e intensificação das greves na Europa. Processo mundial como podem ser vistos nas mobilizações em Israel ou no Chile nas últimas semanas.
Os pobres e imigrantes sob a ditadura do capital
O assassinato de Mark foi a gota d’água da violência e humilhação cotidiana sofrida pelos britânicos pobres, os negros e imigrantes.
Em meio à precariedade da vida social e as inúmeras discriminações não é difícil compreender as explosões sociais na periferia do velho mundo, cujos bairros mais parecem territórios da exclusão onde convivem os habitantes locais plebeus, negros e os imigrantes recentes ou antigos, onde cresce todo tipo de delitos, fruto da marginalização impostas a essas pessoas. Locais onde a polícia é hostilizada, causa medo, repúdio, por suas constantes patrulhas que criminalizam a pobreza. Lembremos que a famosa Scotland Yard, assassinou brutalmente o jovem brasileiro Jean Charles de Menezes em 2005.
Na França, também em 2005, tivemos uma primeira demonstração da explosão social que essa situação pode gerar.
Mão de ferro
A política do governo conservador diante da generalização do conflito atual transforma os protestos em caso de polícia. Os manifestantes são tratados como integrantes de “gangs” perigosas e a sociedade é dividida entre o “pior” e o “melhor”. Para os mais de 1200 detidos (800 só em Londres), todos jovens, Cameron propõe apenas “a prisão”. O que para muitos significa um alívio, pois lá estão garantidas “3 refeições por dia” como declarou um dos manifestantes de Tottenham. E para enfrentar “os delinqüentes” a polícia foi autorizada a usar todo aparato repressivo, incluindo blindados, com os quais reprime manifestações na conflituosa Irlanda do Norte. Repressão que conta com apoio dos Trabalhistas.
Nenhuma medida social ou democrática, que resolva o conflito foi anunciada. O combustível que motivou a explosão segue nas ruas: fosso crescente que separa os ricos dos pobres, verdadeira divisão da sociedade. Uma situação aprofundada pelas gangs que estão no poder aplicando o ajuste fiscal a serviço dos delinqüentes do mercado financeiro, os que sustentam o regime fascista da rainha Elizabeth.
David Cameron e a crise inglesa
Em 2010, a crise explodiu novamente na União Européia (UE). O governo de David Cameron pretende cortar 134 bilhões de libras do orçamento das áreas sociais até 2015, aumentou o valor das taxas de matrículas universitárias e anunciou 490 mil demissões no setor público nos próximos 4 anos. Há um batalhão de desempregados que beira 3 milhões de pessoas. Em Tottenhan, o ajuste fiscal significou, por exemplo, o fechamento de centros sociais, onde a juventude tinha acesso a um espaço de esporte e lazer.
No ano passado o movimento começou a dar sinais de reanimação. Primeiro com a greve do Metrô de Londres e em seguida com a rebelião estudantil no segundo semestre contra o aumento das taxas de matrícula. Esse movimento tonificou o protesto nacional do dia 26 de março, quando meio milhão de pessoas marcharam pelas ruas de Londres. Foi uma paralisação nacional de 24h que envolveu milhares de pessoas, sobretudo no setor público. No dia 30 de junho um protesto reuniu novamente milhares de pessoas nas ruas de Londres, coroando o maior movimento social desde os anos 1930. Uma das principais bases em greve eram os servidores públicos. Em seguida também ocorreram outras greves parciais.
A complicação econômica e os conflitos sociais ocorrem em meio a problemas políticos. O governo de David Cameron, com maioria dos conservadores, não estreou bem. Teve que aplicar os cortes já engatilhados no orçamento dos Trabalhistas sem contar com o controle do movimento operário. Ao mesmo tempo a rebelião da juventude mostrou a fragilidade de sua maioria no parlamento. A votação do aumento das taxas de matrícula terminou 323 a 302, uma divisão sem tamanho da base governista. Nos últimos meses, o escândalo do setor de comunicação comando por Rupert Murdoch, dono do News Of The World, mostrou as entranhas do regime e dos poderosos. Cameron foi enlameado pois seu assessor de comunicação, Andy Coulson, foi editor do “jornal”. Caiu a cúpula da Scotland Yard, pois a polícia corrupta permitiu os grampos ilegais do News Of The World. Por essas e outras Murdoch e Cameron tiveram que se explicar no parlamento.
Todo apoio a intifada inglesa!
Os protestos em Londres são a outra face das mobilizações mundo a fora. A desorganização incendiária é o reflexo da própria condição de vida dos que protestam. Compreendemos essas ações e repudiamos a campanha e ações nazistas que tenta criminalizar o método que os jovens suburbanos utilizam para se manifestar. No entanto sabemos que a ausência de uma direção política é um déficit para canalizar essa explosão social contra o governo, principal responsável por essa situação, e para a unidade com outros setores sociais. Por exemplo, separa os manifestantes da classe operária e de setores da classe média afetados pela crise.
A tentativa de organizar uma assembléia em Tottenhan, feita pelos indignados de Londres foi positiva ainda que tenha reunido poucas pessoas. Mais do que nunca esse movimento necessita se organizar para buscar a unidade com os demais trabalhadores.
As próximas assembléias dos indignados em Londres devem votar uma nota de apoio para ser distribuída na cidade e, sobretudo, nos bairros pobres. Devemos apoiar essa justa rebelião, buscar a unidade, enfrentar a reação nazista e levantar as reivindicações mais sentidas: basta de violência policial, discriminação, xenofobia, pelo fim da repressão aos imigrantes, fim do apartheid social existente, fim do racismo, assim como garantias de direitos sociais aos trabalhadores e ao povo pobre. Devemos exigir emprego para a juventude, direito a educação gratuita com qualidade e garantias de políticas públicas de acesso ao lazer, cultura e esporte. Nesse caminho devemos derrotar o ajuste fiscal de Cameron e da Monarquia.
Os subúrbios estão indignados e decidiram se levantar. Em todos os países do mundo devemos apoiar ativamente a intifada em curso na Inglaterra por meio de protestos, passeatas, notas, debates, reuniões, etc.
No dia 15 de Outubro, data do protesto internacional do 15-M, temos a oportunidade mundial de exigir nas ruas que uma real democracia seja instalada, por fora das corporações, da realeza e dos políticos corruptos.
Neste dia, sejamos todos ingleses, espanhóis, gregos, chilenos, brasileiros.... Sejamos todos INDIGNADOS! Vamos à Luta!