Brigada Indignad@s
24/08 – 1º Dia do “Paro” (Paralisação Nacional)
Bárbara Sinedino
6 horas da manhã as barricadas já estavam armadas em diversas esquinas de Santiago. O paro de hoje foi uma preparação para o Paro de amanhã. As manifestações ocorreram espalhadas em 7 pontos da cidade. “Los Pacos” (policiais) reprimiram duramente em toda parte da cidade. Houveram 348 detidos em todo país e diversos feridos, entre eles um manifestante que foi atropelado quando fugia do “lacrimógeno” (bomba de gás lacrimogêneo).
Nós estamos alojadas na casa da família de Joaquín – um jovem secundarista de 18 anos, representante de sua escola na ACES (Assembléia coordenadora de estudiantes secundários) e militante da FEM (Frente de Estudiantes Movilizados), que fica no bairro de Puente Alto, localizada a 1 hora de ônibus do centro da cidade.
Participamos da manifestação que fechou a rua principal aqui no bairro e contou com a presença de 5 a 10 mil pessoas (não sabemos precisar exatamente), dentre estas muitos estudantes, professores, operários fabris, trabalhadores dos correios, etc. “Y VA CAER! Y VA CAER! EDUCACÍON DE PINOCHET!”
O sentimento anti policial é muito forte devido a alta repressão que existe nas manifestações no Chile, herança de Pinochet: “EL QUE NO SALTA ES PACO!” (Quem não pula é Cana!). Também há uma grande resistência contra o governo que lhes chamou recentemente de “inúteis subversivos”: “PACO, ENTIENDE, NO SOMOS DELIQUENTES! EL ÚNICO QUE ROBA ES EL PRESIDENTE” (Cana, entende, não somos deliquentes, o único que rouba é o presidente!)
Foi possível observar muita irreverencia e animação nos atos, como o presidente-palhaço, policial-tartaruga, helicóptero da polícia de papelão, circo de papelão, perna de pau, cara-pintada, curinga do batman, banda com instrumentos diversos e música, além das tradicionais palavras de ordem, apitos, buzinas, etc.
Quando o ato chegou a praça principal, após mais de três horas de caminhada, os manifestantes se aglutinaram na praça e tomaram a rua fechando a passagem de carros e ônibus. Haviam poucos policiais que tentaram mas não conseguiram conter a tomada da rua. Em poucos minutos começou a chegar o reforço policial com cachorros e após chegou a forca especial, com direito a caminhão com jato d ´agua e bombas de gas lacrimogêneo para dispersar a manifestação. Os manifestantes corriam mas voltavam para atirar pedras (quebravam o asfalto com uma picareta) e tinta nos camburões.
Após a dispersão voltamos para casa e no caminho encontramos diversas escolas tomadas. Desde o inicio do processo mais de 700 escolas secundaristas foram tomadas em todo o Chile. Entramos numa escola que já está tomada desde Junho. Entrevistamos o presidente do Centro de Aluno e outros estudantes que nos contaram muito entusiasmados o processo da luta da juventude e ficaram muito felizes de ver que tem o apoio internacional.
Ficamos sabendo pelos noticiários que após o ato duzentos estudantes continuaram a marcha que concentrou na praça principal de Puente Alto até o centro de Santiago, uma caminhada que leva cerca de três a quatro horas.
É comum, na véspera de grandes atos, fazer uma preparacao com “cacerolazos” (panelaços) a noite. Saimos de carro em direção ao centro, onde poderíamos ver as maiores concentrações de pessoas a bater panelas nas esquinas. No caminho, mesmo por ruas mais afastadas do centro, víamos grupos de no mínimo 15 pessoas batendo panelas a cada esquina próxima de suas casas. Pelas ruas principais os grupos eram cada vez maior e haviam muitas barricadas (uma fogueira com pneus, tiras de madeira, e todo tipo de material para que se impeça a passagem). Participamos de um panelaço onde estavam mais de 800 pessoas presentes, haviam duas barricadas e muita animação, mesmo numa noite bastante fria. O ato se dispersou quando a polícia reprimindo, novamente com bombas de gás lacrimogênio.
A vivência que tivemos hoje nos animou muito para lutar e perceber que o movimento aqui tem muita força e as pessoas estão obstinadas a continuar mesmo frente a tanta repressão. A população chilena está INDIGNADA! “La única luta que si perde es la que se abandona”. Estamos com os obreros e estudiantes chilenos, Vamos a Luta!