Plaza Itália, Santiago – Chile.
Quinta-feira, dia da marcha chamada e depois desmarcada pela FECH. As pessoas se agrupam e cantam muitas palavras de ordem. Os pacos (policiais) se agrupam também, em cavalos, carros e ao lado dos manifestantes, tentando impedi-los de marchar em direção à La Moneda.
A maioria dos mobilizados são jovens entre 14 e 21 anos. Jogam bolinhas de papel, aviões e lixos em cima do grupo de pacos que impedem a passagem e a marcha. Num carro de som, os pacos anunciam que a marcha não poderá ocorrer, que está proibida. Os manifestantes se viram e se põe a marchar para o sentido contrário, enquanto os pacos que barravam a passagem começam a ir atrás dos manifestantes. São mais de 10 mil jovens lutando e fazendo barulho por uma educação estatal, gratuita e de qualidade. Gritando e avançando sem temer a ação dos pacos, que são os mais repressores e violentos que eu já vi; a marcha avança, as buzinas dos carros começam a tocar em apoio à luta estudantil, em apoio para que caia o governo neoliberal de Piñera, em apoio à mudança real do sistema.
Quando chegamos ao meio da Plaza Itália, os pacos já haviam cercado todo o perímetro e se puseram a reprimir violentamente os jovens e a marcha que se dava de maneira muito pacífica. Caminhões que esguicham água gelada misturada com químicas e lixo, carros que soltam gás lacrimogêneo, cavalaria e policiais correndo e detendo estudantes secundários. A luta é tão maior que as pessoas já não tem medo de enfrentar os pacos, atiram pedras, xingam de pacos facistas, culiaos e principalmente de assassinos, pela morte de Manuel Gutiérrez. Passam pelos pacos e metem o dedo na cara e xingam, socos e pontapés. Um grupo de 20 pacos detém um estudante de aproximadamente 16 anos. Pegam pela camisa e desferem socos e pontapés. O levam para o camburão. Um grupo de meninas e meninos passam a seguir os pacos gritando e fazendo ainda mais barulho para que nada de ruim aconteça ao menino detido, pois há relatos de torturas, desaparecimentos e perseguição. Nunca vi algo parecido; pacos brotavam do chão, passavam com a van atropelando os jovens. Ao passo que os pacos conseguiam desmobilizar de um lado, a massa corria para outro e se reagrupava, e começava tudo de novo. Ficamos cercados por quase 1 hora, sem poder sair de onde estávamos. Saímos de Plaza Itália molhados pela água podre do caminhão, no frio gelado de Santiago.
A repressão é algo que os mobilizados, indignados e lutadores do Chile tem que enfrentar diariamente. Não apenas nas marchas, mas também no cotidiano. O governo Piñera criminalizou no papel qualquer tipo de manifestação de massas e a CONFECH corroborou com isso, quando passou a criminalizar os estudantes que se enfrentavam com os pacos. A FECH não estava presente nesta marcha, pois Camila Vallejo desmarcou a marcha por conta da queda de um avião no domingo; aliás, a queda do avião está sendo utilizada para tudo: desmobilizar as massas e aprovar projetos nefastos como o da Hidroecem, uma hidroelétrica projetada para levar energia às empresas mineradoras do norte do Chile. Um projeto muito parecido com Belo Monte.
A tentativa de desmobilizar os estudantes está muito intensa por parte do governo Piñera. Tanto é, que chamou as entidades estudantis burocráticas a negociar. Mas o que se vê é que as pessoas querem lutar, entendem a conjuntura que vivem e tampouco irão dar um passo atrás ou aceitar qualquer migalha. Agora que estão mobilizados e tem consciência da mudança da qual estão sendo protagonistas, será difícil recuarem. Ou Piñera aceita todas as reivindicações, ou terá que convocar o exército norte-americano para ajuda-lo, pois faltarão pacos para conter o avanço das massas.
Por isso, nos juntamos aos chilenos nessa luta contra os ajustes neoliberais, contra a privatização e os lucros na educação, contra os projetos criminosos de incentivar as empresas mineradoras, empreiteiras e os banqueiros! A luta deles é a nossa luta, e a nossa luta é a mesma luta dos árabes, ingleses, espanhóis e gregos! Nossa luta é contra o sistema capitalista, que explora e precariza a vida humana! SOMOS TODOS CHILENOS!
VAMOS COMPAÑEROS, HAY QUE PONERLE UN POCO MAIS DE EMPEÑO, SALIMOS A LA CALLE NUEVAMENTE, LA EDUCACIÓN CHILENA NO SE VENDE, ¡SE DEFIENDE!