Conclave do Partido Comunista: Mais capitalismo para China
Fonte: UIT-QI, Tradução: Pedro Otávio Maia
Em uma reunião secreta do comitê central do Partido Comunista da China, estão sendo discutidas profundas reformas" econômicas" que levarão a desmonopolização de setores chave e a liberalização de diversos setores econômicos, abrindo mais espaço ao mercado e a iniciativa privada (La Nación, 10/11).

Escrito por: Miguel Lamas

Está em curso um plano neoliberal para a China. O debate secreto de 205 dirigentes coincidiu com medidas de emergência, suspensão das aulas e uso massivo de máscaras nas grandes cidades do norte da China, afetando cerca de 50 milhões de pessoas por causa do smog (a combinação de neblina e poluição) e paralisando totalmente a cidade de Harbin, com 11 milhões de habitantes.

A reunião secreta do Terceiro Pleno do 18º Comitê Central do Partido Comunista da China, encabeçado pelo presidente, Xi Jinping, discute as reformas que, adiantam, serão muito importantes. O marco econômico é a crise mundial que afetou o crescimento da economia capitalista chinesa, sustentado com enorme volume de exportações (é o primeiro país do mundo no quesito) e salários miseráveis. E a possibilidade de lutas sociais que aterrorizam a ditadura chinesa, depois das grandes ondas de greves em 2010 e 2011.

Para tratar de "adoçar" o ódio popular, dizem que as medidas vão promover uma "sociedade mais harmoniosa" e "aumentar a riqueza". No entanto, todos os anúncios prévios indicam que as reformas aprofundarão medidas que afetarão de forma negativa grandes setores populares.

Desigualdade Social
O crescimento econômico chinês, elogiado por todos os economistas capitalistas e alguns "esquerdistas" castrochavistas, se dá no marco da restauração do capitalismo e da semicolonização do país pelo imperialismo. Foi acompanhando por um enorme crescimento da desigualdade social, e pela liquidação das conquistas que vinham da revolução de 1949. Cerca de 80% dos 800 milhões de camponeses chineses carecem de qualquer auxílio médico, ocorrendo o mesmo com 45% da população urbana. A situação é agravada porque as multinacionais imperialistas vão para a China seduzidas pela mão de obra barata, de 150 dólares ao mês, e a falta de regulação ambiental adequada.

A consequência é a horrenda degradação ambiental de rios e o aumento da incidência de chuva ácida que afeta mais da metade das cidades. "Materiais químicos venenosos tem produzido muitas emergências relacionadas com a água e o ar [...]. Em alguns lugares, existem povos conhecidos como "povos do câncer", segundo indica o plano quinquenal oficial chinês 2011-2015 de luta contra a poluição química" (France Presse). O mesmo relatório reconhece que a China utiliza "produtos químicos tóxicos" que são proibidos nos países desenvolvidos e supõe um dano a longo prazo ou potencial para a saúde humana e para o ecossistema".

Apoiemos as lutas operárias e populares!
Nos últimos anos aconteceram uma grande ondas de greves operárias e protestos populares, que conseguiram impor aumentos de salários em muitas empresas ou mesmo aumentos gerais em certas províncias, protagonizadas pela juventude e por trabalhadores organizados à margem dos sindicatos oficiais (que jamais organizaram qualquer greve e estão totalmente subordinados ao Estado e aos patrões).

Recentemente, no congresso dos Sindicatos Oficiais, que tem formalmente 280 milhões de afiliados (destes, 109 milhões são migrantes da zona rural), o dirigente do PC, Liu Yunshan, convocou os sindicatos para que "assumam uma posta clara e a iniciativa de preservar os direitos dos trabalhadores ao emprego, seguro, plano de saúde e férias [...] ao mesmo tempo que eliminem quatro tipos de trabalho indesejáveis: formalismo, burocracia, hedonismo e ostentação". Liu pediu que a classe trabalhadora "proteja a estabilidade social e a unidade" (agência oficial de notícias espanhola, spanish.people.com.cn). Evidentemente, está conclamando os burocratas sindicais para que retomem o controle dos trabalhadores de base que fazem greves sem consultá-los. [...]

Abaixo as reformas capitalistas!
Essas reformas foram precedidas por uma crise política. O novo presidente Xi Jinping subiu ao poder no 18º Congresso do Partido Comunista da China em novembro de 2012. Desde então, tem tentado resolver problemas herdados de seu antecessor, Hu Jintao, como o escândalo do ex-líder do partido na cidade de Chongqing Bo Xilai, que questionava a política oficial. Bo foi condenado a prisão perpétua em setembro por "suborno, apropriação indevida e abuso de poder".

Entre as reformas previstas está a liquidação da propriedade estatal da terra, de tal forma que os camponeses possam vender suas terras e assim favorecer sua migração para as cidades, o que aumentaria a oferta de mão de obra barata (e dificultaria as greves), ao mesmo tempo que permite a expansão dos negócios imobiliários. Outra medida para facilitar o êxodo rural é facilitar os sistemas de permissão de residência e aumentar os direitos dos migrantes. Por outro lado prevê a "abertura da economia em setores antes protegidos da concorrência estrangeira" (diário El País, Madrid), como o ferroviário e petrolífero, facilitando a privatização em quase todas as áreas e a associação público-privada (sendo o capital privado majoritariamente estrangeiro).

Apesar dos slogans e da propaganda, as reformas anunciadas trarão mais desigualdade social. O capitalismo chinês só pode se sustentar com trabalhadores superexplorados e cada vez mais concessões ao imperialismo das multinacionais estrangeiras. Por isso não há perspectivas de melhorias sociais. Pelo contrário, o mais provável é que a classe trabalhadora continue recuperando sua organização para lutar pelos seus direitos. Derrubar a ditadura capitalista e fazer uma nova revolução socialista é a única forma da classe trabalhadora e dos camponeses chineses se livrarem da nova escravidão e da degradação social.
Data de Publicação: 23/11/2013 15:13:04

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