Chile: Balanço das eleições e nossas tarefas
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Muito importante que os trabalhadores, os jovens e os revolucionários consigamos fazer um balanço profundo destas eleições que permita nos armar de forma adequada para as lutas que seguem seu curso e que conseguirão “mais cedo do que tarde” a derrota definitiva do regime político pinochetista (laguista) e do sistema capitalista explorador que ele defende.

Este balanço não pode se centrar só em nós. Deve partir sempre do mais geral, que é a correlação de forças entre as classes, que as eleições por si só não alteram, mas expressam se a conjuntura está a favor ou contra as massas e suas demandas.


As demandas das massas no centro

Desse ponto de vista, é evidente que as massas conseguiram impor a sua agenda. Conseguiram que suas demandas de educação gratuita, de mudanças no regime político e do fim da repressão (contra a lei antiterrorista) contra o poder total dos grandes grupos econômicos, tenham sido o centro do debate eleitoral. E esse é seu triunfo mais importante diante das lutas que estão por vir.

Outro fato destacado é que a massa derrotou o governo patronal de turno, encabeçado por um dos maiores e o mais depredador grupo econômico do país. Nenhuma das palavras de ordem de Matthei (porta-voz dos seguidores de Sebastián Piñera e o governo) teve eco na massa. Inclusive, os números de queda no desemprego inclinaram a balança ao seu favor. Só a denúncia contra a idoneidade do Parisi, formulada por Matthei - prestem atenção, denunciando uma prática comum entre a maioria dos empresários, de não pagar impostos -, conseguiu parar o que pode ser a derrocada total da Aliança. O festejo de sua coligação, apesar de só ter obtido 25% dos votos, demonstrou que o perigo de não passar para o segundo turno seria sentido na pele dos exploradores voto a voto na hora da recontagem.

Evidente que as candidaturas de Marcel Claude e de Roxana Miranda foram uma contribuição importante para que as demandas da massa adquirissem um papel protagonista. Isto ficou demostrado nos debates, quando Bachelet e o PS -que fundaram com o pinochetismo o atual modelo de educação particular subvencionada -, tiveram que se referir à educação gratuita como uma de suas propostas de governo. Inclusive, os dirigentes das grandes mobilizações estudantis de 2011, apoiados pela massa nestas eleições, se levantaram como as candidaturas da educação gratuita, quando foram eles que, com as manifestações em curso, negaram a formulação dessa demanda em 2011.


O triunfo da Nova Maioria não resolve a crise do sistema

As expectativas que se abriram nas massas com um iminente segundo mandato de Bachelet não poderão ser atendidas com uma simples maquiagem na atual realidade. As promessas serão cobradas porque a massa exige mudanças. O curso da luta dependerá muito do futuro governo, agora abraçado diretamente ao PC chileno e seus dirigentes burocratizados da CUT, se abandonará ou não algumas das demandas da massa para que continue a dança das transacionais e dos grupos econômicos no país. Assim sendo, é possível que o processo político lhes dê um pouco de fôlego. Caso contrário, se as massas não esperam e saem para cobrar o prometido, o governo e seus aliados pagarão caro por prometer e não cumprir e, nesse caso, só poderá avançar aqueles que forem capaz de expressar, realmente, as demandas da massa e saibam, sem sectarismo, acompanhar os trabalhadores que não param de lutar no seu processo de rupturas profundas nas frentes e nas organizações sociais com os dirigentes traidores do PC e do PS.


A votação de Claude e de Roxana Miranda demonstram que está na hora de fundar um novo movimento de luta.

Com certeza Marcel Claude não ficou satisfeito com a votação obtida. Na conferência de imprensa, logo após conhecer os resultados, deixou transparecer seu pesar pela falta de participação dos jovens e pela incapacidade de não conseguir formar o que ele entende por “consciência”. Tudo demonstra que as expectativas de Marcel e, com certeza, do seu círculo mais próximo, eram diferentes do resultado obtido.

Acreditamos que esta é uma forma puramente eleitoral de ver esses resultados e que só se justifica pelo fato de terem feito o balanço essencialmente sobre a marcha. No entanto, se não corrigirmos isso, pode se tirar conclusões que não respondam à verdade do acontecido e que, o que é pior, pode levar à orientações puramente eleitoreiras. Parte disso, pode ser a formulação equivocada de avançar rumo a um pacto com MEO, que não expressa outra coisa que não o próprio regime e com um discurso mais liberal. Alfredo Sfeir candidato a presidente ecologista, também é parte do mesmo, seu discurso de economia sustentável, típico do Banco Mundial do qual foi funcionário, não rompe nem com o regime nem com a Concertação, com quem mantém múltiplos laços, muito menos com o sistema capitalista, responsável pelo enorme dano ecológico por ele denunciado.
Por outro lado, acreditamos que a votação, mesmo tendo sido baixa, permitiu a Marcel e a “Todos a la Moneda” erguerem-se como a quinta força política nacional e que isto é muito importante, pois nos deixa numa posição excelente na hora de encarar o grande desafio de ter de organizar, em todo o país, o ativismo que nos acompanhou e que votou em nós, para construir, entre todos, uma nova organização política. Organização cujo perfil é amplamente compartilhado pelas bases e os eleitores: deve ser de luta, democrática (onde a base decida) e anticapitalista. Este último ponto, hoje o entendemos como sendo a favor da luta consequente contra o regime dos grupos econômicos e as transnacionais, e em prol de um governo dos trabalhadores e do povo.


O triunfalismo e não ter concretizado o movimento tirou votos

Marcel Claude não pode seguir tomando decisões unilaterais, pois estas devem ser coletivas, tal como tem sido até agora. As bases do TALM têm começado a se questionar a favor de formar um movimento e esta discussão foi esgotada sem explicação nenhuma. Notamos o desalento em vários dos comitês na última etapa da campanha, pelo triunfalismo sem sentido e a postergação, sem explicação nenhuma, da formação do movimento, claramente e profundamente exigido pelas bases. Marcel chegou ao cúmulo de anunciar que disputaríamos a passagem para o segundo turno. Essas duas coisas afetaram a votação, pois desalentaram o ativismo, que saía diariamente para disputar os eleitores das outras candidaturas e que conheciam as dificuldades dessa tarefa.


Hoje é muito importante lutar pela unidade do TALM

No outro extremo estiveram aqueles que, tentando impulsionar o movimento, o fazem de maneira sectária, muitas vezes sem fazer campanha eleitoral e dando um ultimato à massa, sem debate e sem disputar com os burocratas da CUT e o PC chileno, essa organização, a mais importante dos trabalhadores. Esse tampouco é o caminho.

Hoje devemos primar pelo debate e a unidade para encarar entre todos a construção do movimento e não em dividir ou pôr em risco o que já temos conquistado, com manobras burocráticas, sem debate ou pela via dos ultimatos.


Saber valorar o que somos de verdade para potencializar nossa luta

Nosso balanço é positivo, porque foi a primeira eleição de Marcel, porque foi feita sem recursos econômicos e o resultado indica que não fomos ignorados (somos a quinta força), mas escutados por um setor muito maior daquele reunido de maneira espontânea e desinteressadamente nos comandos comunais, na frente dos trabalhadores e na Juventude de “Todos a la Moneda”.
Nosso dever é sair com força convidando todos, para que juntos construamos o movimento político que nos permitirá dar os seguintes passos, acompanhando os que lutam. Precisamos fazê-lo, sabendo que o povo e os trabalhadores não deram seu voto em massa para nós, mas sim que conquistamos o debate de que suas demandas não podem ficar esperando.

O Marcel, Messina e os demais dirigentes de “Todos a la Moneda” devem, de maneira conjunta com as comunais, a UNE e a Juventude, chamar agora a conformação do “Movimiento Todos a la Moneda”. Uma de nossas primeiras tarefas deverá ser encarar, entre todos e com um informe detalhado, as atividades que nos permitam enfrentar as dívidas nas quais pode ter se incorrido com conta da campanha e das quais, justamente, Marcel se queixou numa nota pública.

Por último, é urgente que Marcel em nome do TALM realize um chamamento público a Roxana para impulsionar um posicionamento comum para não votar por nenhuma das alternativas e para abrir o debate para conformar uma frente comum da esquerda com os lutadores consequentes, diante das lutas que seguem acontecendo e as futuras eleições que, com certeza, nos encontrarão mais fortes, mais organizados e mais reconhecidos pelos trabalhadores e os lutadores de todo o país.


Rainier Ríos (OSO)
Dirigente do Movimento Socialista dos Trabalhadores (MST)
Coletivo Político integrante da Juventude Todos a la Moneda (TALM)
17 de Novembro de 2013
Data de Publicação: 12/12/2013 12:28:46

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