Justiça para Ayotzinapa!
Aguirre Rivero renunciou. Agora devemos exigir castigo a todos os responsáveis
Fonte:
Enrique Gómez, do POS-MAS do México (UIT-QI)

A enorme mobilização de quarta-feira, dia 22 de outubro, já obteve um primeiro objetivo: a queda do governador de Guerrero, Ángel Aguirre Rivero, que, ante a enorme pressão social, que incluiu a queima dos palácios de governo de Iguala e a estatal em Chilpancingo, levaram-no, finalmente, a apresentar seu pedido de licença. Seu partido, o da Revolução Democrática (PRD), havia cerrado fileiras para defendê-lo e sustentá-lo, porém as greves, ocupações de rodovias, as enormes mobilizações em todo o país e em muitos lugares do mundo o obrigaram a renunciar deixando seu partido muito desgastado.

Ademais, a Coordenação de Trabalhadores da Educação de Guerrero, junto com os normalistas e outras organizações, tem realizado a ocupação de 22 prefeituras, além de saques a supermercados. O clamor generalizado é pelo aparecimento com vida dos 43 estudantes normalistas de Ayotzinapa, o esclarecimento do assassinato de outros três estudantes e três pessoas que morreram baleadas pela policía municipal de Iguala em 27 de setembro. Ainda que os fatos tenham impactado toda a população, tem sido a juventude estudantil que saiu a protestar em repúdio à selvagem agressão, sem precedentes no país.

Assim, os alunos da UNAM, do Instituto Politécnico Nacional - que iniciaram uma greve e realizaram manifestações massivas contra um novo plano na educação - assim como a Universidade Autônoma Metropolitana e da Cidade do México, bem como privadas, estatais, Normal e Tecnológica, muitas partes do país votaram greves exigindo justiça aos normalistas de Ayotzinapa e punição dos responsáveis, especialmente contra o governador hoje licenciado, Aguirre Rivero, e particularmente contra o Presidente Municipal de Iguala, José Luis Abarca, também do PRD.

Abarca foi quem ordenou pessoalmente o ataque aos normalistas, diante de um fato que lhe pareceu um absurdo: os normalistas interromperam o informe de sua esposa, Maria dos Anjos Pineda Villa, apontada como sua sucessora. Assim, pretendiam se perpetuar no controle do governo, favorecendo em primeiro lugar ao grupo de traficantes Guerreros Unidos, onde dois de seus líderes mais proeminentes são precisamente irmãos de Pineda.

A forma bárbara e selvagem do assassinato dos estudantes e as versões sobre como foram jogados nas covas, queimando-os vivos, ou executando-os depois de golpeá-los, executada por policiais e membros do Guerreros Unidos, em perfeita coordenação, comprova que a política empreendida pelo governo de Peña Nieto é de um governo narcotraficante que decidiu intensificar os ataques contra ativistas sociais.

Daí a tremenda indignação contra, não somente, os governantes de Guerrero, mas também a Peña Nieto, ao conjunto das instituições e partidos patronais, principalmente o PRI, PAN e especialmente o PRD. Mesmo o Movimento de Regeneração Nacional (Morena), liderado por Andrés Manuel López Obrador, não foi poupado, pois Abarca foi promovido a prefeito de Iguala por Luis Mazon, que está concorrendo a governador de Guerrero por Morena, para suceder Aguirre Rivero. Assim, aquele que aparece como o principal líder da esquerda eleitoral mexicana tem sido fortemente contestado pela imprensa, por tentar ocultar sua conexão clara com um dos principais operadores de drogas em Guerrero.

Peña Nieto sofreu um forte golpe, passando do status de queridinho dos organismos internacionais imperialistas à obrigação de esclarecer os fatos em Ayotzinapa e em Tlataya, no estado do México, onde o Exército executou 22 pessoas a sangue frio, simulando um enfrentamento. É claro que ainda está presente o grave problema dos quase 100 mil assassinatos violentos durante a "Guerra ao Narcotráfico" lançada por seu antecessor Felipe Calderón durante sua administração, além dos milhares de desaparecidos e dos feminicídios em todo o país.

Apesar desta longa lista, o caso Ayotzinapa é inédito, é o que tem levado centenas de milhares de pessoas para as ruas, abrindo uma grave crise no regime político atual, uma vez que, obviamente, a renúncia de Aguirre não é o suficiente para parar os protestos, nem que apresentem Jose Luis Abarca. Os fatos levaram o conjunto das instituições virarem motivo de piada, começando pela própria presidência.

Porque, é claro que o ataque aos normalistas não é novo, é preciso lembrar que em 2011 foram assassinados dois estudantes por ocupar a rodovia do Sol, que liga Acapulco à Cidade do México, para exigir verbas para sua escola e cessar a repressão. Até hoje ninguém foi responsabilizado pelas mortes, embora haja evidências de que as balas vieram das armas das polícias do Estado.

Porque, por trás desta tremenda agressão está a implementação das contrareformas neoliberais impostas pelo governo de Peña Nieto e seus cúmplices, através do desaparecido Pacto por México, criminalizando as lutas e aplicando uma feroz repressão ao fortalecer as forças repressivas, como o recém-formado Batalhão de Polícia.
Diante dessa decomposição do estado mexicano, além de exigir o esclarecimento dos fatos em Iguala e Tlatlaya, da necessidade de derrubar as contrareformas, de freiar a infiltração dos poderosos grupos poderosos de traficantes de drogas e outros grupos criminosos, da existência de inúmeras sepulturas, de acabar com a prática de assassinatos em massa e resolver os graves problemas económicos no México, é necessária a instalação de uma Assembléia Constituinte, que rediscuta um projeto de país - onde nós socialistas pugnaríamos por um projeto operário,camponês e popular. Em Guerrero se impõe que as organizações e os normalistas sejam quem realizem a investigação dos graves fatos e processem o ex-governador, ou seja, se impõe que o povo de Guerrero assuma as rédeas do Estado.
Data de Publicação: 24/11/2014 14:20:45

Galeria de Fotos: