Esta é uma avaliação necessária para todos os militantes do movimento estudantil que no último período protagonizou diversas lutas em todo Brasil. Este debate é importante principalmente porque após o início do Governo Lula as principais entidades históricas do movimento social, construídas na luta aprofundaram um processo de degeneração e atrelamento concreto às políticas governamentais em detrimento da aliança central com os trabalhadores e os movimentos sociais.
A CUT é a entidade que deu mais visibilidade a esta prática, primeiro porque é dirigida por um dos principais grupos petistas que está no Governo Lula, e também porque abertamente abandonou as bandeiras mais importantes dos trabalhadores para defender o governismo. Neste sentido os trabalhadores organizados numa conjuntura concreta de luta social romperam e iniciaram um processo de construção de novas ferramentas sindicais capazes de reorganizar todos os lutadores que estão no campo da oposição de esquerda ao governo. A Conlutas foi neste processo com certeza o principal instrumento, pois teve a capacidade de agregar diversos setores sociais, polarizando com a central pelega (CUT) e enfrentando as propostas do Governo. Atualmente somente a unidade de todos os setores deste campo (conlutas, intersindical e campos sindicais) será capaz de fortalecer o processo de enfrentamento ao Governo Lula e suas medidas que aprofundam a retirada de direitos dos trabalhadores.
Neste contexto o PSTU, a partir de uma transposição artificial das realidades organizativas e políticas do movimento estudantil, desencadeou em 2004 um processo de ruptura com a UNE (União Nacional dos Estudantes) e construção da CONLUTE, uma Coordenação que fosse capaz de reorganizar o movimento estudantil. Numa campanha nacional envolvendo todos os seus militantes, e polarizando com os militantes que no movimento estudantil tinha posições políticas similares iniciaram uma tática fratricida para a esquerda socialista e de oposição ao governo Lula. O resultado foi previsível a derrota dos militantes tanto os que estavam na posição de esquerda da UNE (PSOL e independentes) como aqueles que estavam na construção da CONLUTE (PSTU e independentes) e uma vitória esmagadora da direção majoritária da UNE nestas entidades, atrasando significativamente o processo de organização dos lutadores em defesa da educação. Quando se mostrou perceptível o erro protagonizado no seio da esquerda, houve a iniciativa de diversos coletivos em organizar tanto no campo sindical como no campo estudantil um fórum que fosse capaz de pautar a unidade e contribuir com a organização da esquerda para enfrentar as medidas do Governo e reorganizar de fato com unidade o movimento estudantil de luta. A Frente de Luta contra a Reforma Universitária funcionou por consenso e foi importante na retomada dos diversos DCEs que a esquerda havia perdido em todo o Brasil e também impulsionou diversas lutas, ocupações de reitorias e movimentos que deram um novo tom na luta contra a Reforma Universitária, contra o REUNI, PROUNI e etc.
A unidade começa a se fragilizar quando mais uma vez os companheiros do PSTU iniciam um chamado para a construção de um congresso que repete o erro tático de 2004 conformando uma nova entidade estudantil. Mais uma vez não demonstrando compromisso com a unidade da esquerda e sem ter como foco a luta contra as medidas do governo, o que prejudica fundamentalmente a possibilidade da unificação da esquerda em torno de uma política. O Congresso como uma iniciativa puramente partidária que não se propõe como pólo aglutinador mais amplo da esquerda, e demonstra ter traços claros de uma ação para a captação partidária. E mais uma vez não tem impactos significativos na conjuntura. Um evento frágil, pouco representativo, e que perdeu mais entidades no caminho de sua organização do que foi capaz de agregar.
Obviamente não podemos negar os grandes equívocos que cometeram neste último período alguns setores da oposição de esquerda da UNE, que não foram capazes de fortalecer uma nova direção pra o movimento estudantil no sentido de se consolidar como alternativa ao atrelamento da direção majoritária da entidade, porém, isto não pode significar o vale tudo das organizações para sua auto-construção e o abandono da busca pela unidade.
Parte significativa dos Encontros de área que se realizaram neste último período demonstraram que os estudantes de todo o Brasil querem a unidade da esquerda para que possamos enfrentar as medidas do Governo Lula, e que não há apostas na ANEL (Nova entidade do PSTU) como alternativa estudantil nacional. A Carta de Curitiba do ANDES-SN reafirmou a necessidade de reorganizarmos a Frente de Luta Contra a Reforma Universitária e mais um Encontro Nacional com os setores sociais respeitando suas diferenças e apostando na unidade para enfrentarmos juntos as medidas do Governo Lula. Isto não será possível com a falta de vontade política daqueles que tem fetiche com a União Nacional dos Estudantes ou com aqueles que artificialmente fundam um novo instrumento que serve mais como colateral partidária do que uma alternativa estudantil. Este deve ser o chamando, diferente de como foi feito recentemente pela direção de juventude do PSTU que quer passar a nova entidade goela abaixo dos estudantes, mas a unidade tem que se dar respeitando num certo nível de diferenças táticas.
No último período houve varias lutas estudantis no Brasil, como no caso da USP, UFMT, UNAMA nas quais os estudantes lutaram em defesa da educação pública, contra o aumento das mensalidades, contra o REUNI, o PROUNI, contra a repressão no campus e deram uma boa demonstração de que há muito espaço para o movimento estudantil lutar em defesa da universidade pública, gratuita, laica e de qualidade se isto for feito com unidade.