UIT-QI participa do Fórum Social Mundial no coração da Primavera Árabe
Fonte: Laura Marrone e Gabriel Schwerdt, dirigentes de Esquerda Socialista presentes em Tunes
Mais de 5.000 organizações sociais, políticas, ambientalistas, de direitos humanos, da juventude, imigrantes, mulheres e de povos de diferentes países, com uma presença estimada em 60.000 pessoas, segundo seus organizadores, participaram do Fórum Social Mundial 2015, que ocorreu no Campus da Universidade de Manar, na cidade de Tunes, na África do Norte.

Desde sua primeira edição em Porto Alegre (Brasil), o Fórum é um espaço de exposição de ideais de setores progressistas e de diferentes correntes de esquerda. Entre os fundadores do Fórum predominam setores reformistas como, por exemplo, ATTAK e setores de ONGs ligados a Igreja Brasileira. Por sua direção e pelo mesmo formato de fórum, tem a limitação de não ser um espaço de resoluções para tarefas comuns, mais uma “feira” de ideias.

Tunísia, a revolução a flor da pele

Sem dúvida, o fato que o fórum se realizara pela segunda vez em Tunísia, país que deu início a chamada “primavera árabe” em 2011 e que abriu um processo de contagio em todos os países da região do norte da África e se estendeu logo ao Oriente Médio no inicio da revolução síria, lhe deu um conteúdo especial. Milhares de jovens, que foram a vanguarda do processo, fizeram falas em vários espaços de debates, pondo aos encontros a paixão de quem busca nutrir-se das experiências de outros povos, para dar curso a revolução que ainda vive nesse país.

Uma atmosfera militante dava conta de uma juventude politizada, forjada na ação, nas ruas, nas tomadas de praças durante a revolução, incendiada em enfrentamentos com a polícia do regime ditatorial em retirada. O sentido dos debates era encontrar o caminho para dar continuidade a uma revolução que se iniciou com importantes triunfos democráticos, como a queda do regime ditatorial de Ben Ali, depois de 25 anos, que logrou liberar a dezenas de milhares de prisioneiros políticos, denunciar as torturas, recuperar o direito a vida política e sindical.

“Eu estive na revolução, ganhamos a democracia, porém isto não pode acabar aqui. O desemprego, a inflação, a pobreza, nada tem mudado, há que seguir, fazer a revolução social, o socialismo, ou vamos perder inclusive a democracia”, nos disse Meher, estudante de informática.

O salário médio é de 600 dinares (300 dólares). A maioria da juventude está desempregada. Somente entre os universitários formados há 800.000 sem trabalho, ao ponto que estão organizando a “União de diplomados desocupados”, algo assim como “os piqueteiros” (grupos de desempregados argentinos que se destacou no Argentinazo de 2001) universitários.

No final de 2014 ganhou as eleições um ex-ministro do antigo regime. No entanto, mais de quatro milhões de pessoas não participaram do processo eleitoral e muitos deles observam com desconfiança o estancamento do processo revolucionário.

O massacre em Bardo e a contrarrevolução

O massacre de 22 turistas no museu do Bardo por um grupo fundamentalista ligado ao ISIS (Estado Islâmico), apenas uma semana antes do Fórum, marcou um ponto alto da contrarrevolução que tenta pela via do terror derrotar a revolução que segue viva neste país. Enquanto que nos países vizinhos o processo tem retrocedido como é o caso da Líbia, dividida em dois governos, ou no Egito, com um governo cívico-militar.

“Somos como a ave Fénix, renascemos cada vez como o fez Cartago, a cidade milenar duas vezes massacrada. Levantamos-nos, e nós fizemos o fórum, apesar de tudo”, nos diz Yibran, estudante tunisiano. Certamente, um brilho nos olhos parece agradecer aos nossos militantes pela aposta de participar desde tão longe e por isso a frase que sai de cada tunisiano que nos recebe “Vous est bienvenue” (Vocês são bem vindos).

Síria não foi lembrada como deveria

A revolução síria, desde seu inicio, há quatro anos, tem mais de 200.000 personas assassinadas e sete milhões desabrigadas ou exiladas, vítimas do ditador Bashar Al Assad, por um lado, e mais tarde do fogo do Estado Islâmico (ISIS) e do próprio imperialismo norte americano por outro. Isto era motivo suficiente para que o fórum tivesse tido a este povo, e a sua heroica resistência, como um eixo de debate e de propostas de ações solidárias no mundo inteiro nos próximos meses. Porém não o foi. A delegação do próprio governo de Al Assad, que deveria ter sido repudiada no fórum, se apresentou justificando sua atuação como uma resposta a intervenção imperialista e ao terror de ISIS. O resto dos estados árabes presentes fez silêncio frente ao massacre. Muitas organizações de esquerda árabe, outrora antiditatoriais e simpatizantes da revolução síria, estão caindo na armadilha do mal menor e calam ou diretamente justificam a Al Assad.

No entanto, grande parte da juventude magrebina presente, filha da revolução em Tunísia, Argélia, Marrocos, rechaça essa postura dos partidos da esquerda tradicional, fortemente influenciados por tradições estalinistas. Eles foram simpatizantes da revolução Síria desde seus inícios e denunciam que a intervenção de ISIS e do imperialismo é contra o próprio povo revolucionário.

Uma campanha internacional pela revolução síria

Nossa delegação da UIT-CI teve como eixo de participação neste fórum, a convocatória para a realização de uma campanha internacional de solidariedade com a revolução síria e o povo kurdo, triunfante em Kobane. Sendo uma delegação pequena, no entanto, nossa proposta ganhou a simpatia de grande parte desses jovens que se somaram a nossas oficinas com sua presença e participação.

A presença em nossas oficinas de importantes companheiros como Salamah Kaileh, reconhecido revolucionário marxista sírio, prisioneiro durante 10 anos do regime de Al Assad, contribuiu para nuclear a diversas organizações juvenis e jovens independentes que se comprometeram a desenvolver juntos uma campanha mundial em apoio a revolução na Síria.

“So, So, So, Solidarité, avec les femmes. Du monde entiere”

“So, so, so, solidariedade com as mulheres do mundo inteiro”. Este era o canto que uma ou outra vez mulheres e homens magrebinos, árabes, da África Central, saarianos e europeus, centralmente, fizeram ouvir pelos espaços do Fórum em pequenas manifestações ao mesmo tempo que agitavam bandeiras palestinas. O Fórum teve como um dos eixos temáticos a situação das mulheres, especialmente a luta contra os setores fundamentalistas que querem destruí-las. Valentes e bravas, tiveram o apoio de muitos homens que marchavam juntos.

A UIT-QI na Tunísia

A Unidade Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI) participou no Fórum Social Mundial na Tunísia com uma importante delegação integrada por companheiros de Luta Internacionalista (LI) do Estado Espanhol; do Partido pela Democracia Operária (PDO), de Turquia; de Esquerda Socialista, de Argentina, e do KRD da Alemanha. Mais de 200 pessoas participaram nas duas oficinas que organizou a UIT-QI em solidariedade com o processo revolucionário em Tunísia, Síria e em apoio ao povo Kurdo.

O Fórum ocorreu de 24 a 28 de março. A UIT-QI levantou um estande com materiais em diversos idiomas (árabe, francês, inglês e espanhol) com os temas das oficinas e, ademais, sobre Grécia, Venezuela e sobre a Frente de Esquerda de Argentina. Esses textos se distribuíram a milhares de pessoas. Nas oficinas participaram como convidados especiais Fathi Chamkhi, dirigente da Liga de Esquerda Operária (LEO) de Tunísia e Salamah Kaileh, um destacado dirigente marxista sírio-palestino, preso por 10 anos pela ditadura síria e depois foi deportado em 2012 para Jordânia. Também foram debatedores Cristina Mas (LI), Gorkem Duru (PDO) e Laura Marrone (ES).
Data de Publicação: 14/04/2015 14:45:47

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