Raúl Castro pediu desculpas a Obama na sétima Cúpula das Américas no Panamá
Depois de 50 anos**, os presidentes de Cuba e Estados Unidos participaram de uma reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA). Além disso, tiveram um encontro reservador, cuja foto divulga-se em todo o mundo.
As intervenções dos presidentes incluiram algumas de tom bombástico e denúncias do imperialismo yanqui, e ao próprio Obama, como foram as falas de Cristina Kirchner, Evo Morales de Bolivia y Nicolás Maduro de Venezuela. Podemos localizá-las no já conhecido duplo discurso característico destes governos, que de dia pactuam com as multinacionais e atacam as condições de vida de seus povos.
Obama, por sua vez, apresentou-se com pele de cordeiro. Chamou a "não ficar presos ao passado", a "olhar para o futuro", e "não se deixar capturar por ideologias". Toda sua atitude esteve ao serviço de favorecer o ambiente "amigável" que necessitavam as multinacionais para seguir fazendo seus negócios na região, e em particular para avançar também até Cuba.
Por sua parte, Raúl Castro teve como preocupação central impulsionar o interesse dessas multinacionais que invistam cada vez mais na ilha. Por isso jogou um papel fundamental para limpar a cara de Obama e permitir que ele apareça como um cordeiro. Após recorrer à história das relações entre Estados Unidos e Cuba disse, segundo a versão taquigráfica do Conselho de Estado: "Eu o peço desculpas porque o presidente Obama não tem nenhuma responsabilidade com nada disto. Quantos presidentes (nos EUA) temos tido? Dez antes que ele, todos têm dívida conosco, menos o presidente Obama. [...] é justo que eu o peça desculpas [...] em minha opinião, o presidente Obama é um homem honesto".
Obama é o presidente da principal potência imperialista do mundo. É pessoalmente responsável de sustentar a invasão ao Afeganistão, de manter a prisão de Guantanâmo e a usurpação deste território cubano, de bombardear populações em Síria em acordo com o ditador Al Assad e de apoiar aos genocídas do Estado de Israel que massacram o povo palestino. Obama defende dia a dia os interesses cotidianos da burguesia imperialista mais poderosa do mundo.
Raúl Castro fez estes incríveis elogios ao máximo chefe do imperialismo porque há anos que a direção do Partido Comunista Cubano abandonou a luta pelo socialismo. Por isso o ministro cubano investimentos extrangeiros, Malmierca, se dedicou a elogiar na Cúpula o "papel ativo e fundamental" que devem protagonizar as multinacionaos e a divulgar a nova lei de investimentos extrangeiros e as vantagens da "zona especial" de Mariel. Por isso o mesmíssimo Raúl se reuniu em privado com o presidente da Câmara do Comércio dos Estados Unidos.
O verdadeiro centro do interesse cubano foi o Fórum Empresarial que ocorreu no Hotel Riu. Houve mais de um milhar de empresários. Entre os debatedores estiveram os representantes de Pepsi, Cargill, Barrick Gold, Odebrecht, Coca Cola, Scotiabank, Citigroup, General Electric, Boeing, Walmart, Chevron, Telcel y Telmex (de Carlos Slim), Mark Zuckberger de Facebook y Marriott Internacional. Segundo o Granma (jornal oficial do Partido Comunista Cubano), o Fórum contou com 18 empresários cubanos, encabeçados por Malmierca, de empresas mistas como Habanos SA, Havana Club International SA, o grupo hotelero Gran Caribe, a Empresa de Telecomunicaciones de Cuba -Etecsa-, Alimport e o Banco de Comercio Internacional.
A triste realidade é que a impactante presença de Raúl Castro em Panamá esteve ao serviço de consolidar a restauração capitalista, seguindo os passos de China e Vietnã.
*Mercedes Petit é uma dirigente trotskysta argentina, dirigente do partido Esquerda Socialista e da organização internacional Unidade Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional (UIT-QI), partido do qual a CST-PSOL do Brasil faz parte.
**http://www.izquierdasocialista.org.ar/components/com_jce/editor/tiny_mce/plugins/anchor/img/anchor.gif) 2px 50% no-repeat;"> Sobre o restabelecimento de relações diplomáticas entre Cuba e EUA em dezembro de 2014, veja o texto em castelhano da revista Correspondência Internacional nº 36, de março de 2015, "Nada bom se pode esperar”.