O que vi e o que não vi no Paraná
do 1° de maio com os professores à atividade do PSOL com Luciana Genro
Fonte: Por Marco Antônio P. Costa - PSOL/RJ e Coordenação Nacional da CST
Todos nós acompanhamos e ficamos estarrecidos com o massacre realizado pela polícia militar do Paraná com os professores. Foi neste contexto que alguns de nós do PSOL, notadamente a companheira Luciana Genro e o companheiro Babá, tiveram a clareza de que era necessário estar nos atos do primeiro de maio da capital paranaense.

Chegamos em Curitiba nas primeiras horas da manhã e vimos uma cidade onde, obviamente, não poderia existir outro assunto: “MENOS BALA, MAIS GIZ!”, diziam grandes adesivos pretos que estão espalhados em carros, placas e paredes da cidade inteira. Vi uma concentração imensa, de professores centralmente, na “Praça da Mulher Nua”, como muito bem rebatizou o movimento feminista.

Professoras e professores junto a jovens e trabalhadores de outras categorias cantando ‘Fora Beto Richa’ por toda a extensão do ato. Também vi a “praça dos 3 poderes”, onde estão o Palácio do Governo, a Assembleia Legislativa e a Prefeitura de Curitiba e onde, desta vez, a passeata conseguiu chegar, abaixando a bandeira do Estado do mastro oficial e tingindo o espelho d’água de vermelho, simbolizando o sangue das centenas que foram massacrados apenas dois dias antes há poucos metros daquele local. Vi jardins cheios de cruzes pretas com fotos de alguns dos massacrados, flores em frente à assembleia onde tombaram outros tantos.

Curiosamente, não vi nenhum policial. Nenhuma viatura, pittbull ou bomba de gás lacrimogêneo. Mas, centralmente, não vi derrota, medo ou acomodação daqueles trabalhadores. Vi muita indignação e disposição de luta. Vi um primeiro de maio digno, que mesmo tendo sido dirigido pela CUT, que não fazia nenhuma questão de esconder o seu desconforto com nossas presenças ali, não teve como não permitir a fala da Luciana, do Zé Maria do PSTU que também estava lá e do Babá.

Depois que o ato encerrou-se, continuamos nossas atividades. O PSOL do Paraná havia marcado, há cerca de 24 horas antes e somente pelas redes sociais, um “bate papo aberto com Luciana Genro e outras lideranças do PSOL” na mesma praça da Mulher Nua.

Vi jovens, muitos e muito jovens, ocupando a Praça para conversar com Luciana. Vi uma atividade excelente, que se iniciou com a apresentação do companheiro Bernardo Pilotto, nosso candidato ao governo do Estado nas últimas eleições, que aproveitou e passou uma caixinha para doação voluntária de grana para pagar o aluguel da sede do PSOL em Curitiba.

Vi uma fala do Babá, muito aplaudida, e uma fala da Luciana sendo ovacionada. Babá contou aos jovens, que mal piscavam de tanto que prestavam atenção, das nossas lutas desde a famigerada “Carta ao Povo Brasileiro”, passando pela nomeação de Meirelles para o Banco Central, do Sarney para o Senado, até a Reforma da Previdência, a expulsão dos Radicais do PT e a fundação do PSOL em 2004.

Vi Luciana iniciar sua fala dizendo como era curioso e marcante o fato de que, “não importava o que acontecesse, mas que no final, nessas lutas, sempre acabamos ficando eu e Babá...”. Vi Luciana ser interrompida várias vezes por aplausos, centralmente quando explicava com seu didatismo, que lhe é uma marca bastante peculiar, dos porquês que o PT sucumbiu e dos porquês que a velha direita não é alternativa alguma.

Sobretudo vi uma geração com média de 19 anos de idade que são parte e fruto da nossa última campanha presidencial e deste novo momento político. Uma geração que começou a ter consciência do mundo político com o PT já na presidência, e que, portanto, a aura progressista do PT e da esquerda petista, quando muito, são apenas tópicos dos livros de história.

Vi essa geração, que mesmo assim, não se desencantou com a possibilidade de mudar o mundo radicalmente e tem referências totalmente de esquerda, que expressou seu classismo na solidariedade concreta aos professores e que tem muitas outras pautas humanistas. Justamente por isso Luciana é a sua referência central. Entre falas, aplausos e muitas e muitas fotos, também vi um PSOL Curitiba e Paraná muito saudável e de esquerda, fraterno e unitário, com um enorme espaço para crescer, fazendo desde já as coisas com os melhores princípios históricos dos socialistas, como a caixinha financeira que, por fim, recebeu doações exemplares.

No dia seguinte ainda deu tempo de ver mais uma manifestação espontânea, de gente “normal” e de base, centralmente jovens, alguns deles inclusive com bandeiras do Brasil no melhor estilo que se sagrou como “coxinha”, mas que estão mais à esquerda, concretamente, do que a grande maioria dos velhos “camaradas” de bandeiras com foice e martelo do PCdoB ou da desbotada estrela petista.

No Paraná se expressou de forma mais autêntica a continuidade do dia 15 das paralisações. O fato de os governistas cutistas dirigirem o ato com a força do seu peso sindical, não lhes tirou o incômodo da existência e presença de uma oposição de esquerda, que se expressou nas falas da Luciana, do Zé Maria, do Babá e também na enérgica e autêntica atividade do PSOL, que demonstra muito claramente o espaço de construção que há para este nosso campo.

O “Fora Beto Richa” é a palavra de ordem que unifica e também foi a palavra de ordem cantada pelas torcidas do Coxa e do Operário (que sagrou-se campeão!) no Couto Pereira. Isto infelizmente não vi, pois já estava retornando ao Rio neste exato momento.

Se Richa irá cair ou não dependerá da continuidade do movimento. Assim como no Paraná, a situação política do país está em aberto. O PT já escolheu seu lado há muito tempo, o PSDB também. O PSOL vai pavimentando cada vez mais sua estrada e devemos agora construir, de fato, um terceiro bloco político e social de esquerda que aglutine todos os grupos e forças dispostos a superar o decrépito petismo e a não ceder nenhum centímetro de espaço para a velha direita.

No Paraná vi importantes embriões desta política.
Data de Publicação: 05/05/2015 14:59:14

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