Por Makaíba, CST/PSOL-RJ
Segundo o IBGE, existem hoje quase 8 milhões de desempregados no Brasil. As demissões acontecem em alguns setores importantes da economia como na indústria (montadoras de automóveis), construção civil (empreiteiras ligadas as obras da Petrobras) e no comércio. E com o plano de ajuste econômico de Dilma e Levy tirando os direitos da maioria do povo trabalhador a serviço dos interesses do grande capital, a situação só tende a piorar, por mais que partidos da base governista, como PT e PC do B, insistam em afirmar o contrário.
O que de verdade esses partidos não dizem, sobre a onda de desemprego atual e o ajuste econômico do governo federal, é que as duas coisas são uma só: ou seja, é o custo da crise econômica capitalista mundial que cabe ao Brasil, colocado nas costas do trabalhador brasileiro. Da mesma forma como fazem os governos e partidos a serviço da burguesia grega, italiana, espanhola, etc., contra os trabalhadores daquelas nações europeias.
Mas, como estamos falando de Brasil, para sabermos mesmo quem são os mais prejudicados com a onda de desemprego atual e os que sofrerão diretamente com as drásticas consequências do plano de ajuste econômico da dupla Dilma/Levy, temos que levar em conta outros dados estatísticos do IBGE que dizem respeito ao percentual e as condições de trabalho dos “não-brancos” na população brasileira. E, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, não estamos falando de “minoria”, mas, da maioria da população. É que, quanto mais próximo do topo da pirâmide social brasileira, mais clara é a pele. Quanto mais próximo da base da pirâmide, mais a pele é escura. Nesse sentido, os negros (parcela da população que inclui pretos e pardos) são a maioria em 56,8% dos municípios brasileiros. E o maior número de trabalhadores negros está concentrada na indústria e no comércio.
Então, juntando os dados sobre o desemprego e os dados sobre o perfil da população brasileira, mais as consequências do plano de ajuste de Dilma/Levy, não é difícil de concluir que os mais prejudicados serão, mais uma vez, os negros e negras desse país. É, realmente a história por aqui continua se repetindo como uma farsa. A tal “democracia racial” nesse país não serve apenas para encobrir a tragédia do racismo made-in-brazil. Ela é útil também para “democratizar”, entre a maioria da população que é negra, os prejuízos na economia nacional produzidos pelo capitalismo brasileiro, administrado por uma minoria branca burguesa dominante, no meio de uma crise mundial.
Ao afirmarmos que a maioria negra da população será a mais prejudicada com a onda de desemprego e os ajustes na economia promovida pelo governo federal, não estamos desprezando a parcela de trabalhadores brancos que também será prejudicada. Com certeza trabalhadores brancos serão demitidos de acordo com as conveniências dos patrões. Só que numa sociedade, como a brasileira, que há diferenças étnicas além da divisão de classes, o racismo não é apenas um instrumento de dominação étnico, mas, também ideológico e político: ou seja, o racismo é uma ideologia a serviço dos interesses hegemônicos de uma classe dominante burguesa que também se vê como uma raça superior a maioria do povo. Que para se manter dominante, procura sempre ganhar aliados brancos nas classes subalternas com falsa similaridade racial.
E por que, além de classe, a elite dominante também se diferencia enquanto raça?
Porque o Brasil foi colonizado por brancos cristãos europeus que desde o início no século XVI, para ocupar as terras do “novo mundo”, não titubearam em massacrar, explorar, oprimir e impor a aculturação dos povos nativos (índios). Esses mesmos brancos cristãos europeus, também não hesitaram em traficar milhares de homens e mulheres negras da África por quatro séculos, para que, sob o terror da tortura e do assassinato, fossem explorados como força de trabalho escravo.
Para justificar a expansão do antigo sistema colonial europeu e o tráfico de mão de obra escrava, o racismo se desenvolveu na história moderna como uma ideologia da “superioridade” das “nações civilizadas” e sua importante missão de “civilizarem” as regiões do planeta consideradas “inferiores”, “primitivas” e “bárbaras”. Com essa justificativa, territórios inteiros foram ocupados e populações foram dizimadas pelos “povos superiores”.
Essa era a ideologia dos colonizadores e senhores de escravos no “Novo Mundo”. Essa era a ideologia dos colonizadores e senhores de escravos no Brasil. Tudo isso com o único intuito de acumular riquezas que deram a base material para formação de uma classe dominante, predominantemente branca e cristã, da qual descendem grande parte dos indivíduos que pertencem a contemporânea classe capitalista dos grandes comerciantes, industriais, empresários do agronegócio e banqueiros nacionais. E a classe dominante atual, além do legado genético e econômico, também herdou a ideologia racista de “superioridade” de seus antepassados.
E é com essa visão de raça e classe que a elite dominante e seu governo de plantão, com Dilma e Levy na condução do trabalho sujo, não vão titubear, como não titubearam seus tataravós colonizadores e senhores de escravos, em sacrificar a vida das negras e negros desse país, mais uma vez e quantas vezes forem preciso, para salvar seus lucros e a própria pele branca da catástrofe econômica mundial.
Diante disso, a única saída que resta para as negras e negros desse país é agirem como maioria que são dos trabalhadores e dos pobres brasileiros e juntos com a parcela dos trabalhadores brancos, como uma só classe, lutarem por seus direitos imediatos contra o desemprego e, a partir daí, organizarem uma mobilização permanente até derrotarem de vez a minoria branca de capitalistas e racistas que dominam esse país. Só dessa forma derrotaremos o poder e o racismo da classe dominante, a qual está submetido a grande parcela do povo brasileiro.