Silvia Santos – CST – Executiva Nacional PSOL
Enquanto o governo Dilma agoniza e se entrega nas mãos do PMDB para não perder a presidência, enquanto PT e PMDB junto aos tucanos nos governos estaduais e prefeituras lançam pacotes e ajustes duríssimos contra o povo e as lutas pipocam por todo lado, a esquerda enfrenta um debate estratégico.
É um debate estratégico, pois tem a ver com a perspectiva de criar uma nova direção sindical e política para a classe trabalhadora e o povo brasileiro. Uma nova direção que tenha como centro UNIFICAR as lutas em curso e as que virão, para DERROTAR a política de ajuste anti operária e anti popular, no caminho de derrotar o governo Dilma e todos os governos que o aplicam, para impor uma saída, uma política econômica e um governo dos trabalhadores e do povo, uma saída pela esquerda.
As armadilhas do governismo e as discussões no seio da esquerda
A perda de credibilidade do PT e das direções da CUT, e outras organizações governistas, é de tal magnitude, é tanto o espaço que existe à esquerda e sobre tudo nos processos de luta, que até o próprio Lula, Tarso Genro e Joao Pedro Stédile do MST criticaram o ajuste e, na tentativa de domesticar o PSOL, chamaram a conformar uma “Frente de Esquerda”. Foi no seu nome que foram convocadas diversas mobilizações com a intenção de blindar Dilma e o governo petista, chamando a “defender a Petrobrás” (defender de quem? Isso não falaram!), sem denunciarem que Dilma é quem aplica o plano de ajuste. Quem claramente fala suas intenções, são as direções da UNE e UBES que agitam em todo momento que se trata de defender as conquistas do governo petista de um suposto golpe!
Como essa manobra não resultou, agora aparece a convocatória do MTST, movimento que no último período cumpriu um importante papel encabeçando ocupações urbanas, sobretudo em SP. Infelizmente, seu dirigente, Guilherme Boulos, entrou também nesta política de chamar a frentes contra “o ajuste e o congresso reacionário”, chamada desta vez de “Frente Povo sem Medo”. No chamado, mais uma vez, não se fala da responsabilidade de Dilma e do PT na atual crise. Se coloca o peso maior na “direita reacionária” que estaria fora do governo PT/PMDB. Já o “Lava Jato” e a corrupção dos petistas, pemedebistas e tucanos, não existe. E reivindicando as mobilizações de 15/4, o 25/6 e o 20/8, todas eles de defesa do governo Dilma. Não por acaso o chamado está assinado pelas direções governistas da CUT, UNE, UBES, CTB, a UJS e, infelizmente, alguns importantes setores da juventude do PSOL.
Nossa corrente, a CST/PSOL, que luta pela unificação de todos os setores em luta contra o ajuste do governo Dilma, dos governadores e prefeitos, não defende esta convocatória, nem seu programa nem seus objetivos, pois consideramos que continuam sendo de defesa do PT e seu governo.
O campo que precisamos construir
Há tempo que diversos setores da esquerda defendem a construção de um terceiro campo, um campo de classe e de luta, completamente oposto ao campo dos governistas e ao campo da velha direita como o PSDB, DEM, etc.
Nos setores à esquerda dentro do PSOL, a maioria defende essa proposta. No Manifesto Unitário apresentado para o V Congresso, afirmamos: “Por tudo isso, a necessidade e urgência da luta do povo crescem, bem como a responsabilidade do PSOL de ocupar um espaço vazio: o de participante ativo das lutas e da construção de uma alternativa política dos trabalhadores, da juventude e do povo.” E defendemos um partido [...] “que empenhe todos os esforços pela construção de uma alternativa de esquerda de massas no país para enfrentar os cortes e o ajuste neoliberal de Dilma e Levy, por um lado, e a oposição de direita por outro.”
Por sua vez, a Conlutas e o PSTU, defendem à construção deste terceiro campo ou alternativa. No ato do dia 18/09, dos quais foram os principais impulsionadores junto à esquerda do PSOL, o PCB e numerosas organizações, dirigentes da CSP Conlutas esclareceram “que o governo não é de trabalhadores, não nos representam PSDB nem PMDB”. E ainda que saibamos que todos eles representam seus interesses como classe burguesa e procuram algum tipo de acordão para passar o ajuste, também sabemos que disputam entre eles e criam falsas polarizações para ganhar a opinião pública... e votos, pois disputam nada menos que a chave do cofre.
A SAÍDA É PELA ESQUERDA!
Hoje a derrota do ajuste e da Dilma são tarefas intimamente vinculadas. Mas, em que pese à sua fragilidade, o governo vai continuar passando o ajuste enquanto a esquerda combativa e classista não procure por todos os meios unificar as lutas. Para isso, devemos apresentar propostas alternativas ao governo, à antiga direita e a burocracia governista, que impulsionem e massifiquem as mobilizações e greves contra o governo. Por isso, este terceiro campo contra o ajuste de Dilma PT e dos governadores e prefeitos, deve apontar para a perspectiva da greve geral e defender um plano econômico de emergência ou alternativo, que parta da suspensão do pagamento da dívida pública, o aumento salarial, a garantia de emprego, a reversão de todas as medidas anti operárias, a punição de corruptos e corruptores no caso Petrobrás, assim como todos os casos que envolvem diretamente os tucanos como o do Metrô de SP, entre outras medidas. Dessa forma estaremos criando nos fatos, em torno das lutas e das batalhas políticas e eleitorais, uma alternativa política e uma saída dos trabalhadores pela esquerda!