As disputas sobre o impeachment continuam em Brasília. Dilma, Temer, Cunha e Aécio debatem os rumos do país de costas para o povo e nos marcos da constituição burguesa de 1988. Esse debate, feito entre empresários e políticos picaretas, está selado por um acordo central. O PT, PMDB, PSDB, a Globo, a Veja, o Bradesco e a FIESP estão unificados na defesa de mais ajuste, com medidas mais amargas. Ou seja, com ou sem Dilma, teremos que seguir lutando contra o arrocho, as demissões, o parcelamento do 13º e em defesa das escolas. Seguir denunciando a epidemia de microcefalia e a tragédia de MG.
O fato é que eles não têm moral para decidir quem deve governar, já que a linha sucessória da republica e o congresso estão envolvidos em corrupção e aplicam o ajuste. Os trabalhadores e o povo repudiam Dilma e não aguentam mais esse mandato de ataques e corrupção, repudiam Cunha e os partidos do sistema. As lutas enfrentam os ataques dos governos, do congresso e devem ser politizadas contra o ajuste, a corrupção e pelo Fora Todos. Para resolver a crise positivamente, é preciso fazer como os secundaristas de SP, cujas ocupações são um exemplo. O povo na rua tem o direito de revogar o mandato de Dilma/Temer, Cunha/Renan, Aécio/Serra e de governadores como Alckmin e Pezão.
A esquerda não pode ir nem ao dia 13 nem ao dia 16!
Os setores que estão pelo impeachment, aberto por Cunha, vão realizar atos no dia 13/12. Manifestações que não participaremos já que colocar Temer no lugar de Dilma é trocar seis por meia dúzia. Por outro lado, os governistas vão organizar manifestação em defesa de Dilma no dia 16/12, o “fica Dilma” camuflado de "defesa da democracia". Nesse dia é igualmente impossível participar, pois a esquerda não pode defender este governo conservador que defende uma contrarreforma da previdência igual à do tucano Armínio Fraga e do PMDB de Renan e Temer. E, para piorar, Lula exige que os movimentos do dia 16/12 abandonem as críticas contra o ajuste fiscal, com o argumento de enfrentar um suposto “golpe” que não existe. A esquerda deve se manifestar contra o impeachment e, na mesma intensidade, se manifestar frontalmente contra o governo do PT.
Que o MTST pare de defender Dilma e rompa o pacto com Lula!
Infelizmente, a manifestação do dia 16/12, em defesa do mandato de Dilma, também é organizada pelo MTST (o principal movimento da Frente Povo Sem Medo). Desde o início nós da CST denunciamos que a Frente Povo Sem Medo possuía o objetivo de blindar o governo Dilma e que semeava a ilusão de que é possível disputar os rumos do PT. Uma Frente que nunca definiu Dilma, Lula e o PT como inimigos. Isso ficou mais evidente com os lançamentos estaduais, onde a Frente contou com o apoio de Lindberg Farias e deputados do PT, REDE, PCdoB e PDT. Agora, para o dia 16/12, Guilherme Boulos e a direção do MTST embarcaram abertamente no “fica Dilma”. Isso causou uma crise na Frente e um conjunto de organizações afirmam que não vão participar do 16/12 (Bloco de Resistencia Socialista, Construção, Juntos e RUA). Uma posição correta e um passo importante para a construção de um terceiro campo, contra petistas e tucanos, por fora do “Fica Dilma” e da luta contra "o golpe". Propomos a esse campo de esquerda (Bloco de Resistencia Socialista, Construção, Juntos e RUA), uma batalha conjunta por uma manifestação alternativa contra as duas manifestações conservadoras. Propomos uma batalha unificada contra a atual posição de Guilherme Boulos, propondo que a direção do MTST reveja sua posição e rompa com Dilma, colocando os Sem-Teto a serviço da mobilização anti-governista.
O PSOL não pode defender o mandato de Dilma
A resolução do PSOL sobre o impeachment está errada. Ela combate apenas o impeachment, se limitando a criticar algumas medidas de Dilma. Posição que colocou o PSOL no campo do Lulismo. A maior prova de que a resolução do PSOL não combate o governo Dilma é o fato da US interpretar o texto como tendo autorizado o Partido a construir o dia 16/12. Por isso, Luiz Araújo convoca, em nome do PSOL, essa manifestação. Os militantes sindicais da US, que articulam a INTERSINDICAL-CCT, estão juntos com o MTST no interior da Frente Povo Sem Medo defendendo o dia 16/12. Uma posição absurda, pois rompe com um dos poucos aspectos progressivos da resolução majoritária no V congresso. O texto originalmente impedia a participação do PSOL nos atos de Dilma. Por isso chamamos a US a não participar do dia 16/12.
Luciana Genro está equivocada: não existe golpe contra esse governo conservador de direita!
A companheira Luciana Genro, do MES, acaba de divulgar uma nota defendendo eleições gerais em 2016, combatendo de forma intransigente apenas Cunha e Temer. Em seguida, no texto “Contra o impeachment e sem medo de se misturar, mas como política independente”, Luciana Genro informa o partido que participou de uma manifestação com a cúpula do PT do Rio Grande do Sul, cujo mote era “Fora Cunha, não ao golpe!”. Um ato em defesa de Dilma, que contou ainda com a participação do atual prefeito de Porto Alegre. A companheira Luciana Genro, assim como a US, rompeu com a resolução do V Congresso do PSOL (que vetou a participação do PSOL em atos em defesa de Dilma). Um desrespeito contra a base partidária, que em sua ampla maioria não defende o “fica Dilma”. O pior é que o texto fundamenta a participação nessa manifestação Lulista por meio da definição de que estamos diante de um golpe. Ou seja, Luciana defende a linha dos governistas num patamar que ninguém do PSOL tinha defendido abertamente até então. A verdade é que, infelizmente, conseguiu ficar à direita da US. Algo grave, por se tratar de uma das principais referências políticas do PSOL, que até pouco tempo defendia o exemplo argentino do “que se vayan todos”.
O PT e os dirigentes pelegos da CUT, UNE e MST, estão mentindo quando fazem propaganda contra um golpe conservador, já que tudo ocorre dentro das regras da democracia burguesa que o PT sempre defendeu. No âmbito da justiça e do parlamento que sempre salvou Lula. Ao mesmo tempo é uma hipocrisia, já que Cunha e o PMDB foram aliados estratégicos do PT. Não por acaso, Dilma concedeu recentemente vários ministérios para eles. Não existe um golpe de direita contra um governo igualmente de direita. A companheira Luciana Genro precisa rever sua posição e continuar a defender um terceiro campo, como ela mesma defendeu na abertura do V congresso do PSOL. Mas, se esse campo não for de classe, cai na armadilha de terminar em algum dos dois campos burgueses.
Eleições Gerais não vão mudar nada!
Diante da ausência de uma alternativa de esquerda com peso de massas, vários setores defendem eleições gerais. Há várias hipóteses. Como a proposta de Luciana Genro, onde se pede que a própria Dilma faça isso em 2016. Nós da CST discordamos que a solução para a crise passe pela convocação de eleições para o povo votar novamente. Principalmente pelo fato de que essas propostas não estão vinculadas às lutas que estão em curso e a possibilidade de que o movimento de massas entre em cena com seus próprios métodos de mobilização. É uma proposta que não aposta na mobilização permanente dos trabalhadores, da juventude e setores populares para dar um fim às saídas conservadoras do campo Petista e Tucano. Nenhuma saída que não tenha como eixo a mobilização pode resolver a crise do ponto de vista dos trabalhadores e do povo. Por isso, também acreditamos que é um erro a proposta do PSTU de vincular a defesa do Fora Todos às eleições gerais imediatas. As instituições estão questionadas e não devemos revitalizá-las, como pretendem os partidos da burguesia. Aliás, esse é o objetivo dos setores de direita que também defendem propostas semelhantes a essa, caso da ala do PSDB liderada por Aécio e setores do DEM.
Outro problema é que os defensores de eleições gerais, pela esquerda, utilizam o argumento de que essa é uma proposta “concreta” e compreensível para a massa. Porém, nem sempre o que é compreendido por amplas massas é a saída correta. Para derrubar Dilma e toda a linha sucessória da república, juntamente com os mandatos do Congresso, é preciso uma mobilização superior à de junho de 2013. É nisso que devemos apostar e, se ocorrer, não haverá necessidade de desviar a indignação das ruas para as urnas.
Por uma plenária de emergência dos que não vão ao dia 13 e dia 16!
Defendemos uma reunião urgente de todos que não vão ao dia 13 com os tucanos, nem no dia 16 com os petistas. Não importando onde nos organizamos partidariamente ou no campo dos movimentos sociais. Nem mesmo nossa divergência em relação a Frente Povo Sem Medo. A unidade concreta, selada em nossa não participação nesses dois atos, mostra a potencialidade de um terceiro campo. Infelizmente o espaço de unidade e ação realizado recentemente em São Paulo, com peso da CSP-CONLUTAS, terminou sem ter força para convocar uma terceira manifestação, alternativa ao 13 e 16. Mesmo assim, entendemos que é possível realizar uma plenária ou reunião nacional de emergência das organizações que mantiverem uma postura independente diante dos blocos burgueses que estão indo às ruas nos próximos dias. É preciso construir um terceiro campo, reagrupando um polo efetivo de oposição de classe, de esquerda e radical. Um terceiro campo colado nas lutas que estão acontecendo. Nessas lutas poderemos construir um plano econômico alternativo que parta de suspender o pagamento da dívida destinando recursos para saúde, educação, moradia e transporte estatal. Um plano que garanta reposição das perdas salariais semestralmente, que reduza a jornada de trabalho sem redução de salários para que todos continuem empregados, dentre outras bandeiras.
Defendemos que os trabalhadores e o povo se organizem e lutem pelo Fora Todos, para construir um governo da Esquerda, dos Trabalhadores e do Povo. Essa via, apostando na mobilização, na ação direta das massas, é a única garantia de construir uma efetiva saída pela esquerda.
12 de dezembro 2015
Executivo Nacional da CST-PSOL