PT vota aumento de salário para vereadores e no DEM para presidência da Câmara de Vereadores de São Paulo

No dia 20 de dezembro, no final de seu mandato, os vereadores aproveitaram para votar um aumento de 26,3% no seu salário, que passou de R$15 mil para R$18,991,68 mil. Hoje, o aumento absurdo está suspenso pela Justiça, graças a uma correta ação dos companheiros do MAIS. Porém, não podemos deixar de ressaltar, que essa proposta de aumento dos privilégios dos políticos foi apoiada pelo PT. Indo além, logo no primeiro dia do novo mandato, o PT fez um acordo com o DEM e todos os partidos da base aliada do governo João Dória (PSDB) e votou em Milton Leite (DEM) para presidir a Câmara de Vereadores.

Muitos inclusive dos eleitores petistas, ficaram chocados com o grau de fisiologismo que chegou o PT. Porém, desde há muito tempo viemos alertando. O PT defende os privilégios dos políticos e além disso faz acordos e alianças com a velha direita há muitos anos.

Queremos, a partir dessas duas importantes votações dos últimos dias, opinar sobre o debate reaberto do papel que joga hoje o PT na conjuntura brasileira.

Em meio à crise do país, o aumento dos vereadores é um escândalo

Estamos frente a uma enorme crise econômica no país. O desemprego bateu 12,1 milhões de trabalhadores. O salário mínimo, que já era muito baixo, recebeu um reajuste de 6,47%, passando de R$880,00 para R$937,00. Ou seja, enquanto os vereadores de São Paulo ganham um aumento de quase 4 mil, o salário mínimo aumenta R$57,00! Qualquer trabalhador que foi ao mercado nos últimos meses sabe que esse aumento do mínimo não significa nada e logo será corroído pela inflação.
A indignação tomou conta da cidade no dia seguinte. Muitos se debateu sobre o absurdo aumento. Não temos dúvidas de que se tivéssemos realmente uma tomada de decisões de forma democrática na Câmara de Vereadores e a população fosse consultada, a imensa maioria da população de São Paulo rejeitaria esse aumento.

O PT não justifica nada e chafurda na lama ao lado da velha direita

Após muita gente questionar a posição do partido, o PT resolveu afundar ainda mais na lama em que estava metido e lançou uma nota risível assinada pelo Vereador Senival Moura, líder da bancada do PT, “esclarecendo” suas posições de defesa de mais privilégios para os vereadores.
Vejamos alguns dos seus “argumentos”. Em um desespero completo começam se apegando à Lei Orgânica do Município, que diz que o salário dos vereadores pode ser até 75% do salário dos deputados estaduais, em uma “escadinha” que começa com o salário dos Ministros do STF. A defesa dessa Lei e a reivindicação de que todos ganham o que deveriam fica evidente na famigerada nota. A nota mostra que os dirigentes petistas consideram uma Lei justa. Ou seja, enquanto há um amplo questionamento aos altos salários dos políticos, e inclusive os privilégios dos altos escalões do judiciário, o PT, de mãos dadas mais uma vez com a velha direita, mostra seu total apoio a determinados privilégios, jogando mais lama ainda sobre a própria cabeça. Como se não bastasse todos os escândalos de corrupção e enriquecimento ilícito dos dirigentes petistas, com importantes acusações que atingem até seu líder máximo Lula, o PT resolve mostrar ainda mais a lama na qual se meteu e não quer sair de jeito nenhum.

Não cansada de se enlamear, a nota “aprofunda” o debate com argumentos ainda menos sérios que o apoio à Lei Orgânica. Em resumo dizem que ser contra o aumento de salários dos vereadores é coisa do “senso comum” influenciado pela grande mídia. Esse argumento ridículo e desprezível só poderia vir da caneta de pessoas que há muitos, mas muitos anos não conhecem, nem vivem a realidade da classe trabalhadora brasileira. Ora, se um trabalhador que vive com um salário mínimo ou um pouco mais, que vê a inflação corroer seu salário, que vê a queda brusca no seu nível de vida vítima do ajuste fiscal que é aplicado desde o governo Dilma, achar “normal” que os vereadores ganhem o salário votado, aí sim é que estaríamos com o que há de pior e mais atrasado na consciência política. Ou seja, de que a política não deve ser exercida pelo povo trabalhador, mas sim por políticos profissionais e que para isso eles devem receber muito mais que um trabalhador “comum”. Ou seja, a votação e a nota do PT vão na contramão da justa indignação dos trabalhadores frente as suas próprias condições de vida quando a comparam com a de um político. De nossa parte, nos somamos a bronca da população com esse absurdo aumento e chamamos a construir mobilizações para que definitivamente seja barrado.

Além de tudo isso, a cara de pau dos petistas é tão grande ainda vimos no último ano do Governo Haddad a Câmara de Vereadores aprovar um aumento de 0,01% para o funcionalismo municipal. Obviamente com os votos do PT e da velha direita. E o pior de tudo é que a nota do PT ainda considera que essa medida de ajuste contra o funcionalismo foi “necessária”. Não à toa em todos os anos de governo Haddad houve greve dos servidores municipais contra a política anti-operária do governo petista.

O acordão com os aliados de Dória e Alckmin

Mas, como diz o ditado popular, “tudo que tá ruim, pode piorar”. A nota, que já poderia ter terminado muito mal, ainda sacrifica o leitor frente a mais um argumento escandaloso para justificar o voto em Milton Leite (DEM) para presidir a casa. Reproduzimos aqui literalmente: “…por sugestão do vereador Eduardo Suplicy, convidamos Milton Leite a discutir com a Bancada seus compromissos de mandato e apresentamos um texto com nossas posições sobre como a Casa Legislativa deve ser conduzida.

Com o aceite de nossa pauta firmamos o compromisso da proporcionalidade na Mesa e na presidência das comissões”. Ou seja, o ultra-reacionário DEM aceitou a pauta do PT, em troca do seus votinhos para que Milton Leite presidisse a casa. Ou seja, uma postura que legitima o DEM no comando da Câmara dos Vereadores além de ser uma votação que objetivamente fortalece o governo privatista de João Dória.

É importante frisar entre quem que Suplicy e os demais vereadores petistas optaram. Havia sim outra candidatura. A vereadora feminista Sâmia Bonfim do PSOL, representou uma alternativa de esquerda nessa batalha, levantando um programa para que a Câmara de Vereadores realmente refletisse as demandas populares. Porém, mais uma vez, o PT optou por seus acordos fisiológicos com a velha direita, e ficou de mãos dadas com o DEM e os tucanos de Dória.

Algumas conclusões sobre esse debate

O PT, mesmo após a queda de Dilma, tem cumprido um papel de sustentáculo do regime político apodrecido e dos próprios governos. O acordão de Jorge Viana (PT) que teve o aval de Lula para manter Renan Calheiros na presidência do senado foi um exemplo disso. A imobilidade da CUT, maior central sindical do Brasil, que tem freiado as mobilizações contra o governo Temer e se negado a organizar uma greve geral para derrubar o governo e o ajuste é também. A aplicação da cartilha neoliberal do ajuste fiscal nos estados e municípios onde os petistas governam é outro. Teríamos muitos exemplos, mas todos levam a mesma conclusão. Para uma luta consequente contra o governo Temer é preciso que o conjunto da esquerda brasileira se desvincule totalmente do PT.
A construção de uma esquerda coerente para enfrentar Temer, os tucanos e seus aliados, não passa por estar lado a lado com o PT. Pelo contrário, passa por lutar também contra sua política. O PT faliu, e mais serve para manchar o nome da esquerda que qualquer outra coisa.

O último ponto que vale colocar é também que sem batalhar a fundo contra os privilégios dos políticos e rechaçar acordões fisiológicos com a velha direita que hoje encabeça a aplicação de um duríssimo ajuste fiscal anti-operário no país, não é possível construirmos de fato uma forte alternativa de esquerda que dispute os rumos do país.

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