A primavera feminista continua: uma onda de lutas sacode o planeta

Joice Souza, Mulheres da CST-PSOL.

Mulheres argentinas mostram seus lenços verdes, símbolo da luta pelo aborto livre, seguro e gratuito. 19 de Fevereiro | Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Chegamos a 2020 sob o signo onda de lutas feministas de caráter global, que toma as ruas de diversos países e que dá um salto a partir de 2015. A primavera das mulheres, do #NiUnaAMenos, das lutas na Argentina pela legalização do aborto, no Chile, EUA e Brasil contra Piñera, Trump e Bolsonaro, das libanesas, sudanesas, haitianas, catalãs, indianas e árabes, dentre outras, segue viva. A greve mundial de mulheres, convocada em 2017 e 2018, demonstra o caráter radical e internacionalista desta nova onda de lutas feministas que vão contra os governos, os partidos patronais, as igrejas, as polícias e todas as instituições defensoras do patriarcado.

Crescem as lutas em todo o mundo contra o machismo, os feminicídios e a violência de gênero, por aborto legal e igualdade de salários, onde sem dúvida o grande destaque é luta das chilenas contra Piñera, mostrando que são lutas também contra os governos e regimes ajustadores que retiram direitos, como também vemos nas gigantescas mobilizações e greves gerais francesas contra a Reforma da Previdência ou na continuidade da luta pela legalização do aborto na Argentina. A maré verde, no último dia 19 de fevereiro, tomou as ruas aos milhares em diversas cidades argentinas exigindo a votação do Projeto de Lei da Campanha Nacional pelo direito ao aborto que está no parlamento e que até agora não foi votado devido à pressão das igrejas.

Um dos motivos para tantas mobilizações nos é apontado pelas companheiras do partido argentino Izquierda Socialista:

“A crise econômica atual aprofunda o lugar das mulheres como uma variável a mais para aplicação do ajuste e os governos do mundo inteiro as atacam para poder garantir maiores lucros aos empresários. Ajuste, cortes e austeridade são o plano do imperialismo que as mulheres não estão dispostas a suportar. Por isso, se organizam e saem às ruas a enfrentar os governos de plantão que são os responsáveis pela situação das mulheres”.

E o mais importante é que essas mobilizações têm conquistado vitórias: como na Irlanda, onde se conquistou o direito ao aborto, ou na Arábia Saudita, onde as mulheres conquistaram o direito de dirigir veículos. Nos EUA, onde a onda feminista também invadiu as telas e os tapetes de vermelhos de Hollywood, vários figurões ricaços e abusadores foram denunciados e punidos a partir do movimento #MeToo.

Também nos EUA, nasceu a convocatória da Greve Internacional de Mulheres em 2017, a partir mobilização massiva de mulheres nos Estados Unidos (Woman´s March) no dia da posse de Donald Trump, o ultrarreacionário, misógino e racista presidente dos EUA, a quem as mulheres norte-americanas não têm dado um dia de sossego. O chamado foi atendido por milhões de mulheres que, em 2018, repetiram a convocatória.

O grupo feminista chileno Las Tesis criou a coreografia para a canção “El violador eres tú”, que viralizou e foi reproduzido mundialmente. Novembro, 2019. | Foto: NOSOTRAS AUDIOVISUALES

O violador é Piñera! Mulheres na linha de frente das lutas chilenas

As mobilizações contra o governo chileno e o modelo neoliberal no país confluem com o ascenso do movimento de mulheres que, em maio de 2018, demonstrou um grande salto quando estudantes secundaristas e universitárias realizaram uma onda de ocupações de escolas e universidades, as “tomadas feministas”, contra os assédios, abusos sexuais e todo o tipo de violência de gênero. Isso se refletiu nos gigantescos atos do 8 de março de 2019 que levou centenas de milhares de mulheres às ruas da capital Santiago. Em mobilização permanente desde então, as jovens chilenas vão ser parte protagonista das ondas de mobilizações e greves que pedem o “Fora Piñera” e também um dos principais alvos da repressão do governo, sofrendo todo o tipo de violência, inclusive sexual, por parte dos carabineiros, o que demonstra a face misógina e feminicida do modelo chileno, a vitrine do neoliberalismo na América Latina. São também elas as mais penalizadas por esse modelo.

Porém, a repressão não tirou as chilenas das ruas: frente ao brutal assassinato da ativista Daniela Carrasco e as diversas violações de direitos humanos, as mulheres realizaram um protesto gigantesco, batizado de Marcha do Silêncio. Mas o principal símbolo do protagonismo das mulheres nesse processo foi a performance “El violador eres tú”, nascida nas ruas de Santiago, na qual mulheres de venda nos olhos apontam que o governo Piñera e sua polícia repressora também são violadores. Essa performance correu o mundo sendo encenada por milhares de mulheres em diversos países.


Esta matéria está na edição 106 do Jornal Combate Socialista

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